Saúde

Extrato de maconha pode trazer esperança para crianças com epilepsia grave, indica estudo

Diminuição do número de convulsões em participantes chegou a 55%

Remédio extraído da maconha: pesquisa que será apresentada em encontro da Academia Americana de Neurologia testou eficácia de extrato a base de CBD
Foto: Fabio Seixo/ 01-10-2014 / Agência O Globo
Remédio extraído da maconha: pesquisa que será apresentada em encontro da Academia Americana de Neurologia testou eficácia de extrato a base de CBD Foto: Fabio Seixo/ 01-10-2014 / Agência O Globo

WASHINGTON, DC - Crianças com formas severas de epilepsia que não estão respondendo a tratamentos podem encontrar esperança em uma versão líquida da maconha medicinal. É o que indica estudo divulgado nesta segunda-feira, que será apresentado na 67ª Reunião Internacional da Academia Americana de Neurologia, em Washington, DC. O encontro começa no próximo sábado.

A pesquisa - apoiada pelo GW Pharmaceuticals, laboratório fabricante de medicamentos a base de compostos da maconha - teve 213 participantes, incluindo crianças e adultos, com uma idade média de 11 anos. Todos eles eram portadores de epilepsia grave que não respondiam a outros tratamentos. Os participantes tinham doenças como síndrome de Dravet e síndrome de Lennox-Gastaut, tipos de epilepsia que podem levar à deficiência intelectual e convulsões ao longo da vida.

Os participantes receberam diariamente, por via oral, um extrato líquido a base de canabidiol (CBD), composto da maconha que não possui efeitos psicoativos. Todos os participantes sabiam que estavam recebendo o remédio no estudo, que foi elaborado para determinar se a droga era segura e bem tolerada.

Os resultados mostraram melhoria nos quadros dos participantes. Para as 137 pessoas que completaram o estudo de 12 semanas, o número de convulsões teve uma redução média de 54%. Entre os 23 portadores de síndrome de Dravet que participaram, a queda foi de 53%. Para os 11 com síndrome de Lennox-Gastaut, o número das chamadas apreensões átonas, que causam uma perda súbita do tônus muscular, a diminuição foi de 55%.

Doze pessoas (6% do total) pararam de tomar o remédio devido aos efeitos colaterais. As consequências indesejadas do uso da droga, que ocorreram em mais de 10% dos participantes, incluíram sonolência (21%), diarreia (17%), cansaço (17%) e diminuição do apetite (16%).

De acordo com Orrin Devinsky, diretor do Centro de Epilepsia da Universidade de Nova York e membro da Academia Americana de Neurologia, a eficácia da droga ainda deverá ser testada em novos estudos, com uso de placebo, por exemplo.

- Até agora tem havido poucos estudos formais sobre esse extrato de maconha - afirmou. - Os resultados são de grande interesse, especialmente para as crianças e seus pais, que têm buscado uma resposta para esses ataques debilitantes.

TEMA MOBILIZA MÃES E PAIS NO BRASIL

No Brasil, mães e pais de crianças com epilepsia têm se mobilizado em prol da legalização da maconha medicinal. Em janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou resolução que tirou o canabidiol da lista de substâncias proibidas , o que não significa a concessão automática de registro de remédios feitos a partir de CBD. Ativistas argumentam que ainda são necessários novos avanças, como diminuir as restrições para a prescrição médica, reclassificar o THC e outros compostos da maconha, e regulamentar o cultivo para fins medicinais.