Rio

Botafogo ganha projeto do escritório Burle Marx

Proposta, que será apresentada à prefeitura, prevê revitalização de área verde
Projeto para a Enseada de Botofago Foto: Escritório de Paisagismo Burle M / Escritório de Paisagismo Burle Marx
Projeto para a Enseada de Botofago Foto: Escritório de Paisagismo Burle M / Escritório de Paisagismo Burle Marx

RIO - Nos 50 anos do Parque do Flamengo, quem ganha um presente dos discípulos de Roberto Burle Marx é a Enseada de Botafogo. Considerado “patinho feio” da orla carioca, embora conte com um dos cartões-postais mais famosos do Brasil — a paisagem do Pão de Açúcar —, o lugar ganha um banho de paisagismo num projeto que acaba de sair das pranchetas do Escritório Burle Marx, como informou a coluna Gente Boa.

O trabalho, que propõe um passeio de desenho geométrico junto aos prédios, revitalização da área verde central, nova iluminação e também equipamentos de esporte e lazer no calçadão da praia, será doado à prefeitura, dentro das comemorações dos 450 anos do Rio e também dos 60 anos do escritório.

Calçadas com identidade

Uma das ideias da equipe foi dar uma identidade à enseada, a exemplo da Praia de Copacabana. O projeto acaba com a falta de continuidade e de uma cara própria da principal calçada de Botafogo, com 10.500 metros quadrados, usada nos deslocamentos do dia a dia. No lugar, entra o traço característico do arquiteto e paisagista Haruyoshi Ono, considerado o herdeiro intelectual de Burle Marx e diretor do escritório, onde entrou como estagiário há 50 anos.

— É um desenho orgânico, feito para o espaço pelo Haru, que trabalhou a quatro mãos com o Roberto no calçadão de Copacabana — afirma o arquiteto paisagista Gustavo Leivas, sócio do escritório. — A proposta é criar uma grande promenade, tendo o pedestre como principal na hierarquia. As vias que cortam o passeio ganhariam passagens em nível: a calçada seria um elemento contínuo, com o carro tendo que subir e descer uma rampa. Além disso, implantamos no projeto uma ciclofaixa, que toma espaço destinado aos veículos.

Enquanto a ciclovia da orla tem hoje uma função mais de lazer e de pista para quem segue de bicicleta para o Centro, a ciclofaixa ao lado do calçadão dos prédios integraria o bairro, ajudando quem precisa se movimentar dentro de Botafogo. O projeto também dá fim ao trechos onde a calçada se torna mínima, quase inviável à circulação, e ordena os equipamentos urbanos, como postes e bancas de jornal.

Recuperação de jardins

Outro ponto sobre o qual a equipe se debruçou foi a área central, cujo paisagismo foi feito por Burle Marx no final dos anos 40, antes mesmo do Parque do Flamengo. Os canteiros verdes acabaram mutilados e transformados ao longo do tempo, principalmente com as mudanças no sistema viário. Agora, o escritório, que tem, entre os projetos mais recentes no Rio, o paisagismo do Museu do Amanhã, do Museu da Imagem e do Som e da Vila dos Atletas, propõe a recuperação dos jardins, tombados em 2009 — ano do centenário do paisagista — pelo prefeito Eduardo Paes junto com outras 83 obras de Burle Marx na cidade.

Ideia é apostar em patrocínio das empresas da região

Na área da praia, o projeto tenta superar falhas na acessibilidade, ausência de mobiliário adequado e pontos de conflito entre pedestres e ciclistas. O projeto ganhou dois deques, que facilitam o acesso e servem como uma extensão do calçadão.

— É uma área com paisagem maravilhosa, mas subutilizada — avalia a arquiteta paisagista Isabela Ono, sócia do escritório.

Estão previstos elementos como bancos com design especial para o local e quiosque na praça junto ao Botafogo:

— É uma interferência criteriosa. Há palmeiras nativas, e incluímos um quiosque que segue o padrão atual. Os bancos têm desenho mais contemporâneo, com linhas mais discretas — detalha Gustavo.

O escritório Burle Marx aposta no patrocínio de empresas instaladas na Praia de Botafogo. No final dos anos 80, uma delas chegou a reformar sua calçada, com desenho de Haruyoshi Ono. A ideia é ampliar a iniciativa, como ocorreu no Biscayne Boulevard, em Miami:

— Lá, coube a cada proprietário executar sua frente.

Além do Biscayne Boulevard, o escritório fez projetos para mais de 34 países, como os jardins da Unesco, em Paris, e o Kuala Lampur City Centre, na Malásia.