Felipe Melo conquistou o seu terceiro Campeonato Turco pelo Galatasaray, segunda-feira, e se igualou em número de títulos ao meia Alex, ex-Fenerbahçe - um dos maiores ídolos brasileiros no país. Mas esse ano não foi fácil para o volante: por causa de uma operação na coluna, em fevereiro, o camisa 3 ficaria fora da reta final da temporada. Porém, o "pitbull" voltou em apenas um mês e ajudou o Galatasaray a conquistar mais uma taça, passando o rival Fenerbahçe como maior campeão (20 a 19) e colocando a quarta estrela acima do escudo (cada cinco conquistas valem uma estrela na Turquia).
Para levar o terceiro título, Felipe Melo nem precisou entrar em campo na segunda: o empate de 2 a 2 entre Fenerbahçe e Istanbul BB deu a taça ao Galatasaray. No clube desde 2011 e um dos maiores ídolos da torcida, o volante de 31 anos ainda não planeja deixar a Turquia. Mesmo com o interesse do time do coração: segundo o atleta, o Flamengo o procurou há um mês para consultá-lo sobre um possível retorno à Gávea.
- Houve
uma sondagem da parte do Flamengo, pelo vice-presidente de futebol, Alexandre Wrobel. Apenas uma
sondagem, conversa normal entre amigos e torcedores do clube. Ele passou para o meu empresário, mas não foi
adiante. Não me envolve somente. Envolve o Galatasaray também. O presidente novo, que
acabou de ser eleito, quer renovar comigo. Com o Flamengo foi apenas uma sondagem - revelou o volante, que tem contrato até o meio de 2016.
Após o Flamengo, Felipe Melo passou por Cruzeiro, Grêmio, Mallorca, Racing Santander, Almería, Fiorentina e Juventus antes de chegar ao Galatasaray. Além dos três títulos do Turco, o atleta venceu ainda duas Supercopas da Turquia e uma Copa da Turquia com a camisa do clube. A terceira taça nacional veio coroar uma temporada de superação do volante, que revelou jogar no sacrifício só para o Galatasaray conseguir levantar a taça. Felipe Melo ainda pode terminar a temporada com o título da Copa da Turquia, caso o Gala vença o Bursaspor, no dia 3 de junho (quarta-feira).
- Esse
ano foi de superação. Operei uma hérnia e ia ficar três meses fora. As pessoas
falaram que eu ia perder o resto da temporada. Agradeço minha família, meus
amigos e o Rato, que para mim é o melhor fisioterapeuta do Brasil. Comecei a sentir
dores lá atrás. Mas nada comparado a essa temporada. Joguei 10 jogos no
sacrifício. Acabava de jogar e ficava três dias fazendo massagem e tratamento.
Tudo na base da injeção e anti-inflamatório. Fiz isso porque o time precisava de
mim. Essa vontade de lutar me fez continuar. Só parei quando não senti a perna
esquerda em um jogo da Copa da Turquia. Fiquei quatro ou cinco jogos fora, éramos
líderes e quando voltei estávamos em terceiro. Voltei e vencemos seis jogos em
sequência. Foi impressionante o trabalho do nosso time. É uma emoção muito
grande. O que eu passei essa temporada foi muito difícil. Agradeço muito ao
Rato. Muito mesmo - concluiu.
Leia abaixo a entrevista completa com Felipe Melo:
GLOBOESPORTE.COM: Conquistar mais
um título e passar um dos maiores rivais (Fenerbahçe). Qual é o sentimento desse tricampeonato? E se igualar ao ídolo Alex?
Felipe Melo: A ideia quando eu vim para cá era ficar apenas um
ano. Eu quase fui para o Paris Saint-Germain antes de vir para cá. Vim para cá e o Gala estava
desacreditado. Vinha da pior colocação da história no Campeonato Turco. Eu
cheguei e conseguimos conquistar o título na casa do Fenerbahçe. Continuei
emprestado e depois fui comprado. Vim para ficar um ano e já estou há quatro aqui. Sei que estou fazendo
história em um grande clube com torcedores apaixonados. Fico feliz de poder
coroar o clube com a quarta estrela no peito. Um fato inédito aqui na Turquia.
Como é a sua relação com a torcida?
Eu estou vivendo a minha relação com a torcida. Não
sei como era a relação do Alex. Todos aqui respeitam ele. Até os torcedores do
Gala e do Besiktas. No primeiro ano, vencemos e fomos campeões. Aqui eu não
esperava essas paixão toda do torcedor. Ao ponto de eu não poder sair na rua. Quando
fui punido pelo meu tweet, no primeiro dia eram 500 torcedores, no segundo, 1000.
Tive que sair de casa para falar com eles, e aí foi uma festa, me jogaram para o alto.
É uma coisa de louco. No final do jogo eu tenho que ir na frente da torcida e
bater continência para eles porque é todo mundo fazendo isso para mim. Eu troco de
telefone quase toda semana. Porque eles descobrem meu número e ficam me ligando
de madrugada. Coisa de louco. Futebol envolve paixão, e aqui eles veem isso.
Você está na
Europa há 11 anos. A emoção de um clássico entre os três grandes
é comparada com algum clássico aqui do Brasil?
Olha... Eu sou flamenguista e todo mundo sabe.
Quando era pequeno sempre ia ao Maracanã. Já vi estádio lotado com 100 mil
pessoas em um Flamengo x Vasco. Jogando no Brasil nunca tive essa experiência de estádio
completamente lotado. Joguei os clássicos na Itália (Junventus x Milan, Juventus x Internazionale).
Quando joguei lá, o Torino estava na segunda divisão. Na Fiorentina tinha essa paixão e esse peso, uma rivalidade muito grande com o Juventus, mas muito mais da
parte da Fiorentina. Os torcedores do Juventus não ligavam muito pra isso. Foi aqui mesmo (Turquia)
que eu vivi isso, de jogar no estádio do Fenerbahçe e do Gala com torcida única.
Por causa do problema que é, da paixão, da rivalidade. Essa paixão que o
torcedor sente aqui ultrapassa a razão, o torcedor deixa a razão ir pro saco e
mete o pé. Claro que a rivalidade de Flamengo e Vasco é incrível assim como Grêmio e Inter. Aqui eu ainda joguei clássico brigando por título, e aí aumenta mais ainda.
Essa conquista
representa participar de mais uma Liga dos Campeões na carreira. Você já jogou uma Copa do Mundo. O quão emocionante é a Champions?
Vou jogar mais uma Copa se Deus quiser! (risos). A
Champions é um campeonato incrível. Eu vivo muito isso, gosto muito de futebol.
No domingo, antes do clássico com o Besiktas, eu mandei uma mensagem para o meu
assessor chorando. Olhei aquela torcida toda chorando e falei: "Esse choro tem que ser
de alegria." Quando entro em campo e toca o hino da Champions eu me emociono sempre. É o ápice
do futebol depois da Copa do Mundo.
Ainda sonha em voltar à seleção brasileira?
Tenho 31 anos, estou dando caldo para caramba ainda.
Ainda tenho muito carrinho para dar (risos). O Dunga é fera, independente de uma
convocação ou não, sou fã dele. Confio no meu trabalho. Tenho feito isso com
muita humildade e seriedade.
Você não foi expulso nenhuma vez nessa temporada? Os problemas com cartões acabaram?
Pelo Campeonato Turco, não levei um vermelho. Falta
um jogo só, já somos campeões, não vou dar esse mole (risos). A idade ajuda. Mais
experiência. Os filhos crescem e começam a cobrar mais também. Meu futebol não
é futebol "mimimi", de caneta aqui, caneta ali. Eu até gosto desse estilo, por isso sou fã do Neymar. Mas meu futebol é ser um guerreiro e ter um bom passe. Beliscar, morder. Foi isso que me levou pra Seleção. E é
isso que, se Deus quiser, vai me fazer voltar à Seleção.
Como é a sua relação com os companheiros de equipe aí? Você sempre está comemorando gols e tem uma sintonia muito grande com o Sneijder. Como é sua relação com ele?
Ele é um cara fora de série. Dentro de campo, eu roubo a bola e dou para ele. A mesma coisa que eu
vou fazer se eu voltar para a Seleção. Vou roubar a bola e dar para o Neymar. Mas o
Sneijder é um cara fora de série. Quando ele chegou aqui eu falei para ele não
brincar com nada de Seleção, se não o couro ia comer (risos). Brincadeiras à parte, ele é um dos grandes jogadores
com quem joguei. Ele e o Drogba são dois monstros. O "negão" é
brincadeira, ninguém derruba ele, o cara é fera.
E como é sua relação com o Alex Telles? Você tentou dar conselhos a ele, já que é mais experiente?
Eu gosto muito desse garoto. Ele sabe escutar. Futebol
é bacana por isso. Com 12 anos, se você estiver nesse meio, vai aprender muito. E se tiver 70 anos, também vai conseguir aprender muito. Essa troca é muito boa. Ele tem uma qualidade muito
grande, muito bom jogador. Já tomou umas porradas minhas aqui (risos). Mas ele gosta de escutar.
Ele merece o melhor. Vai brilhar muito ainda.
*Lucas de
Freitas, estagiário, sob supervisão de Thiago Dias