09/01/2016 15h11 - Atualizado em 09/01/2016 17h21

Veja como foi a fundação de Belém em 1616 e conheça sua história

Cidade surgiu para defender entrada da Amazônia de estrangeiros.
400 anos após sua fundação, Belém acumula encantos e desafios

Do G1 PA

A história de Belém começa em outra capital, a vizinha São Luís, no Maranhão: foi a partir dela que a coroa portuguesa planejou conquistar uma terra nova no vale do rio Amazonas, para garantir proteção contra invasores de outras partes da Europa.

“O documento que enviou no caso Francisco Caldeira Castelo Branco para o Pará foi assinado também aqui, ele é datado do dia 22 de dezembro de 1615. O mundo português  precisava de proteção ali pra entrada do Amazonas onde os holandeses, franceses, ingleses e irlandeses mantinham contato com as populações indígenas de Cametá, Bragança, os Caetés, pacajá e outras regiões” explica o turismólogo e historiador Antônio Norberto.

A preocupação da coroa portuguesa começou em 1615 – três anos após os franceses fundarem a cidade de São Luís em 1612. “A preocupação de Portugal era que esses franceses que estavam aqui, chegassem a região de Belém, então pra consolidar essa presença portuguesa, foi enviado Francisco Caldeira pra fundar a cidade de Belém”, disse o historiador Rodrigo do Norte.

Por conta disso, pode se afirmar que o marco zero de São Luís – o Palácio dos Leões – também faz parte da história de Belém. “O norte do Brasil começou a ser colonizado pelos portugueses a partir de São Luís e Belém  porque antes dos franceses chegarem e fundarem a cidade de São Luís, essa parte era abandonada", afirma a escritora Ana Luíza Almeida.

Rumo ao norte
A embarcação de Castelo Branco saiu do cais do porto de São Luís levando uma tropa de 120 soldados. A expedição foi um teste de resistência, com tempestades e rios estreitos. Mas depois de quase 20 dias navegando a tripulação avistou a baía do Guajará.

Na época da fundação da cidade a baía era um grande mangue, e o que chamava a atenção era a elevação do terreno, perfeita para a construção de uma base que protegesse a entrada da Amazônia. Um local de difícil acesso, mas que parecia muito com o território onde foi erguida São Luís.

Como Castelo Branco deixou  a capital do Maranhão durante o natal, resolveu chamar a nova cidade de Belém. Os exploradores montaram acampamento onde foi construído posteriormente o forte do Castelo, que ajudou a defender a terra de outras potências que queriam conquistar esta parte do Brasil.

De lá surgiram as ruas da cidade, como a rua do norte – hoje Siqueira Mendes -, a primeira rua de Belém. “Todas as ruas, sem excessão, seguiam o traçado do rio”, explica o historiador Michel Pinho.

Alguns prédios ainda contam parte desta história, preservando a arquitetura da época em seus beirais. O povoado, entretanto, precisava continuar crescendo: as primeiras grandes obras datam do século XVIII, e trazem a marca do arquiteto Antônio Landi.

A casa das 11 janelas é uma destas obras. O prédio foi projetado com duas frentes: o lado voltado para a praça tem influência Portuguesa, e do outro lado a influência é italiana. A poucos metros também foi construída a igreja da Sé, uma das grandes obras de Landi: extraordinária por fora, e suntuosa por dentro.

A obra da catedral já havia sido iniciada quando Landi chegou em Belém, mas  ele transformou o projeto para fazer da igreja uma das maiores catedrais portuguesas fora da Europa. Tudo fazia parte de um grande projeto para deixar a cidade mais bonita. “Landi foi para Belém o que Niemeyer foi para Brasília”, explica o arquiteto Flávio Nassar.

Profissão de fé
Manoel Maria guarda na memória muitas histórias da igreja. Algumas lembranças são carregadas de saudade, como o local onde foi enterrado o amigo dom Vicente Zico, arcebispo emérito de Belém, e outras fazem parte do cotidiano: o cametaense ajudou na reforma do órgão da igreja, e trabalhou tocando os sinos de bronze da catedral.

 Imigração e história
Muitas famílias estrangeiras desembarcaram em Belém, já que uma das preocupações de Portugal era aumentar a ocupação da colônia.

A cidade Velha é o bairro que guarda a memória mais antiga de Belém: a casa da família libanesa de Marcelo Fadul, uma residência cuja arquitetura de pé direito alto ajuda a combater o calor de Belém, e com uma mobília que parece cenário de novela de época.  Pudera: a história da família começa em 1900, quando Expiridião Fadul, avô de Marcelo, decidiu cruzar o oceano aos 13 aqnos para ganhar a vida em Belém.

“O Dom Pedro I foi ao Líbano e dava cidadania pra todos os libaneses que quisessem trabalhar, porque já sabia que não teria mais escravos. Então os libaneses vieram pra economia na época da borracha, do café”, explica Marcelo.

Expiridião virou comerciante, fez fortuna e comprou o casarão de portugueses em 1915. Aqui formou uma grande família, com nove filhas, netos e bisnetos. Os partos aconteciam na alvoca, o quarto do casal que até hoje guarda memórias da época. “Quando houve a revolução de 45 que o Barata assumiu o poder teve tiroteio aí na rua e até hoje nós temos marcas de bala que atingiram a casa”, relembra o proprietário, que garante não vender a casa mesmo diante de ofertas de compra milionárias.

Além da residência dos Fadul, o bairro de ruas estreitas revela museus, palacetes, monumentos e casarões da chamada Bélle Époque, heranças da economia da borracha que são um patrimônio nacional.

Para preservar a memória, o fotógrafo Apoena Augusto remontou cenas da cidade antiga, a Belém em Art Noveau que encantava e seduziu até o escritor Mário de Andrade, que registrou em uma carta ao amigo Manoel Bandeira suas impressões sobre a cidade.”Meu único ideal agora em diante é passar alguns meses morando no Grande hotel de Belém”, disse o escritor.

Desafios
A cidade tem 1,4 milhã ode habitantes, de acordo com o geógrafo Márcio Amaral. Muitos dos seus moradores vieram do interior do estado, em busca de oportunidades. Estas pessoas ocuparam áreas de baixada, onde convivem com diversos problemas, como o acúmulo de lixo nos canais que geram alagamentos.

Porém, apesar do crescimento desordenado, um pedaço da cidade continua preservado, mantendo a beleza da natureza – e para chegar lá, é preciso seguir o curso dos rios.
Na ilha do Combu, uma das mais próximas e famosas do arquipélago que faz parte de Belém, é possível ver a cidade de concreto na outra margem do rio. Um contraste com a paisagem típica da Amazônia, onde até o tempo parece passar mais devagar.
 

Encanto da floresta
O Combu é uma das 39 ilhas da capital que, somadas, representam 65% do território de Belém. Nelas, o principal sustento de muitas famílias é o açaí: durante a safra a coleta do fruto é diária.

Morar na floresta tem muitas vantagens: um quintal grande, com frutos, pode ser um paraíso difícil de conseguir encontrar na cidade. A paisagem é inspiradora, e transformou a obra do artista visual Sebá Tapajós “Quando eu entrei aqui foi um presente de Deus, um insight, um estalo”, disse.

A rota do grafite rio adentro começou na casa de Lúcio Deims Pereira, que ficou meio desconfiado a princípio, mas deu sinal verde para o artista usar a frente da sua casa. “Eu fiquei alegre, feliz porque a minha casa não era assim, era uma pintura simples. Valorizou mais”, disse o extrativista.

A vizinhança também gostou da obra. “Até na ilha das onças, em Barcarena, eles comentam pra lá. Eles acham muito legal”, conta Pereira.

O artista espera que os traços do grafite ajudem a despertar um novo olhar para a Belém das ilhas, a cidade que guarda a sabedoria da floresta, a biodiversidade amazônica e o equilíbrio entre o passado e o futuro. “O que eu gostaria de deixar como legado é o olhar turístico, o olhar federal do que a gente tem aqui né! Cara, que é a maior obra de arte do mundo assim, você tem o maior turismo, tá aqui....o tesouro é a Amazônia”, disse Sebá.

A obra agradou a estudante Monica Souza. “Gostei, eu achei bonito, dá uma vida na casa que tava sem pintura, tava muito meio sem graça... Combina até com o povo, porque o povo daqui é um povo alegre, é um povo contente”, afirma.

Por conta destes atrativos, as ilhas de Belém são um roteiro procurado por turistas. O grupo formado por Brasileiros, Indianos e Franceses ficou encantado com a floresta, suas flores e o hábito dos seus moradores – como seu Ladir que, aos 75 anos, impressionou pela vitalidade ao subir o açaizeiro. 

Mais do que todas as belezas, a região das ilhas oferece cheiros e sabores que fazem parte da vida de Belém – misturas que atravessam o rio para se encontrar na feira do Ver-o-peso.

 

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