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Brasil é o país mais preocupado com o clima, diz pesquisa

Em levantamento internacional, quase 80% apoiam corte de poluentes
Com a falta de chuvas e assoreamento, formam-se bancos de areia em leito de rio de Januária, em Minas Gerais. Eles impedem a navegação de barcos de maior porte Foto: André Teixeira / Agência O Globo/29.08.2015
Com a falta de chuvas e assoreamento, formam-se bancos de areia em leito de rio de Januária, em Minas Gerais. Eles impedem a navegação de barcos de maior porte Foto: André Teixeira / Agência O Globo/29.08.2015

WASHINGTON — Os brasileiros são os mais preocupados com o clima entre populações de 40 países. Uma pesquisa realizada com 45 mil pessoas em todos os continentes pela Pew Research Center mostra que 86% da população nacional acredita que a mudança climática “é um problema muito sério”. O percentual é muito acima da média global, de 54%, e superior à preocupação dos dois países que mais poluem no mundo: Estados Unidos (45%) e China (18%, o pior percentual da pesquisa). O dado brasileiro fica acima das nações desenvolvidas, como Alemanha (55%), Reino Unido (41%), Canadá (51%) e Japão (45%). O resultado nacional ainda se sobressai na comparação de outras nações em desenvolvimento, como Turquia (37%), Rússia (33%) e Argentina (59%).

O Brasil também se destaca em outros pontos do levantamento chamado “A preocupação global sobre a mudança climática — suporte para a limitação das emissões”, divulgado ontem e realizado entre março e maio deste ano. Noventa por cento dos entrevistados no país acreditam que as mudanças climáticas já estão afetando as pessoas, contra 51% da média global. E 99% dos brasileiros afirmam que estes impactos serão sentidos dentro dos próximos cinco anos, contra 79% do resultado mundial. A pesquisa aponta ainda que 89% dos brasileiros também acreditam que as pessoas terão de mudar aspectos de suas vidas por causa das mudanças climáticas, contra 67% da média mundial. A mediana de apenas 22% acreditam que a tecnologia pode resolver este problema sem a necessidade de grandes alterações. Mesmo nos EUA, um país conhecido por suas inovações tecnológicas, 66% acreditam as pessoas terão de alterar significativamente os seus estilos de vida.

Na pontuação feita pelo instituto americano, levando em conta diversos aspectos do levantamento, o Brasil tem a maior nota (11,42), contra a média de 9,93 e o piso de 8,66, registrado em Israel. Os dois países mais poluentes do mundo têm nota baixa, bem abaixo da média global: EUA, com 8,78, e China, com 9,11. “Este forte suporte público interno, bem como a pressão internacional, provavelmente contribuiu para recente promessa da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, para cortar carbono as emissões de carbono do país em 37% até 2025”, afirma a pesquisa.

— No geral, o levantamento revela um alto grau de preocupação global com as mudanças climáticas — conta Richard Wike, diretor de Atitudes Globais de Pesquisa da Pew Research Center. — A maior parte da população de todos os 40 países pesquisados consideram que este é um problema sério. E as preocupações são especialmente elevadas na América Latina. Uma razão pela qual nós podemos ver níveis mais altos de preocupação geral em alguns países emergentes e em desenvolvimento é que as pessoas desses países são mais propensas do que a de nações mais ricas a acreditar que as alterações climáticas terão um impacto pessoal sobre elas.

Por outro lado, a imensa maioria da população global apoia a redução das emissões de gases do efeito estufa: 78% dos entrevistados concordam com estas restrições, o que pode contribuir para a assinatura de um acordo global na Conferência do Clima no fim do mês, em Paris.

Na maior parte dos países, mais de 70% dos entrevistados apoiam o corte da liberação de poluentes. A medida é menos popular na Turquia (56%). No Brasil, ela conta com o apoio de 88% das pessoas; pouco abaixo do visto na Coreia do Sul e na Itália (89%), onde estas medidas têm mais devotos.

A seca é o maior temor da mudança climática. Quarenta e quatro por cento da média mundial dos pesquisados citam este problema, que é mais preocupante na América Latina e na África (59% dos entrevistados de cada continente). Na sequência, há o risco de grandes tempestades, temidas por 35% do total dos entrevistados e por 34% dos moradores da Ásia. Catorze por cento acreditam que o aumento da temperatura é uma grande ameaça, e no Oriente Médio este percentual é de 19%. E apenas 6% da média global se preocupa com o aumento do nível dos mares, embora este tema tire o sono de 17% dos americanos.

O instituto de pesquisa, um dos mais conceituados dos EUA, espera que estes dados possam servir de base para os políticos que deverão decidir o futuro do acordo climático em Paris. Para o Pew Research, “há um consenso global de que a mudança climática é um desafio significativo”.

A represa da Petrobras em Xerém, no Rio de Janeiro, apresentou em outubro seu menor nivel de água de todos os tempos Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
A represa da Petrobras em Xerém, no Rio de Janeiro, apresentou em outubro seu menor nivel de água de todos os tempos Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

MULHERES E JOVENS SE PREOCUPAM MAIS

A pesquisa da Pew Research Center mostra que as diferenças sobre as preocupações com os problemas climáticos não ocorrem apenas entre países. Dentro da mesma nação, grupos distintos olha de forma única para este assunto. Em geral, mulheres e jovens são mais preocupados com o tema. Nos EUA, por exemplo, 51% das mulheres consideram as mudanças climáticas um problema grave, contra 45% dos homens. E 52% da população entre 18 e 29 anos se preocupa com o tema, contra apenas 38% dos que tem mais de 50 anos.

A ideologia política também interfere no debate sobre o clima. Nos EUA, apenas 20% do republicanos acreditam que a mudança climática é um problema sério, contra 41% dos independentes e 48% dos democratas. Da mesma forma, apenas metade dos republicanos apoia a limitação da emissão de gases do efeito estufa, contra 82% dos democratas. O mesmo se repete em outros países. Na Itália, por exemplo, enquanto 69% das pessoas de esquerda acreditam que a mudança climática é algo sério, apenas 42% que se dizem de direita confirmam esta afirmação.

— Nos EUA, assim como em diversas outras democracias relativamente ricas, há divisões partidárias afiadas sobre esta questão, e essas diferenças certamente influenciam no debate interno sobre a mudança climática — assinala Richard Wike, diretor de Atitudes Globais de Pesquisa da Pew Research Center.

Na maioria dos países, as populações tendem a acreditar que grande parte do fardo para lidar com a mudança climática deve ser suportado pelos países mais ricos. Uma média de 54% concordam com a afirmação: “Os países ricos, como os EUA, Japão e Alemanha, devem fazer mais do que os países em desenvolvimento, porque eles têm produzido a maioria das emissões de gases causadores do efeito estufa até agora”. Apenas 38% acreditam que as nações em desenvolvimento devem fazer tanto quanto as ricas, porque produzirão a maior parte dos poluentes no futuro.