A alimentação paleolítica, também
conhecida como dieta “paleo", foi popularizada na década de 70 e ficou
muito famosa, principalmente, após o lançamento do livro "The Paleo
Diet", publicado em 2002. A dieta paleolítica é uma forma de alimentação
baseada na nutrição dos ancestrais do ser humano que viveram antes de 10.000
a.c. Esses indivíduos eram caçadores e coletores que consumiam, especialmente,
carnes e vísceras animais, peixes, vegetais, frutas e castanhas. Além disso,
outro detalhe é que não havia o cultivo naquela época, já que nossos ancestrais
eram nômades.
Existem muitas críticas à alimentação
paleolítica, principalmente com relação ao seu nome: “paleolítica “. Isso
porque ela não segue exatamente a alimentação ancestral. Muitos dos alimentos
contidos na alimentação paleolítica não existiam em 10.000 a.c., como brócolis,
couve-flor, repolho e outros que sofreram modificações ao longo dos anos,
tornando impossível reproduzir fielmente o que era feito. Por isso, vemos
outros nomes e tipos da alimentação paleolítica, mas em sua maioria, seguindo
sempre a filosofia da baixa ingesta de carboidratos e de alimentos processados.
Por outro lado, os defensores da
dieta paleolítica baseiam-se na teoria que o ser humano moderno não estaria
geneticamente adaptado para metabolizar os alimentos industrializados, processados
e cultivados. Além disso, outra afirmativa é que a nossa dieta moderna,
rica em comidas processadas, gorduras trans e açúcar, é a raiz de doenças como
a obesidade, câncer, diabetes, doenças do coração, doenças degenerativas,
depressão e infertilidade.
Eu Atleta Paleo: sentindo na pele a união de dieta paleolítica e crossfit
Por milhões de anos, o metabolismo e
a fisiologia humana envolvem a retenção de sódio e a excreção de potássio em
resposta a uma alimentação que era pobre em sódio e rica em potássio. Com o início da agricultura e a
industrialização dos alimentos, houve uma importante queda no consumo diário de
potássio contribuindo para o desenvolvimento de diversas doenças. De
fato, estudos recentes evidenciam que a alimentação paleolítica é rica em potássio e pobre em sódio, ao contrário
da dieta ocidental. Uma revisão de Palmer et al publicada este mês na
Mayo Clin Proc (2016) mostra que o consumo de potássio pela nossa população
está muito abaixo da recomendação diária, enquanto o consumo de sódio está
extremamente elevado.
Diversos estudos mostram que o baixo
consumo de potássio está relacionado com diversas doenças, incluindo as cardiovasculares,
a litíase renal e a osteoporose. Essa afirmação é ainda validada por outros
estudos mostram que a suplementação com potássio tem efeitos favoráveis na
redução da pressão arterial, na diminuição do risco do acidente vascular
encefálico, na melhora da saúde óssea e na redução do risco de nefrolitíase.
Dieta vegetariana causa mudanças
genéticas de longo prazo, diz estudo
O National Health
and Nutrition Examination Survey (NHANES) estimou que entre 2007 e 2008 a
ingesta de potássio por homens foi em torno de 3026 mg/d, e em mulheres de 2290
mg/d. Esses valores são substancialmente menores do que os valores diários
sugeridos de 4700 mg/d. Essa “deficiência” de potássio é ainda mais notável
quando a comparamos com a incrível ingesta dos nossos ancestrais pré-históricos,
que era de 15.000 mg/d.
Recentemente, a alimentação
paleolítica também mostrou íntima relação com a diminuição da resistência
insulínica. Artigo publicado no Annual Meeting of the Endocrine Society
evidenciou que uma dieta paleolítica reduziu marcadores relacionados com a
resistência insulínica. A autora Caroline Blomquist PhD cita que: “Uma dieta
paleolítica parece ter benefícios para a resistência à insulina, efeitos
benéficos na perda de peso e na diminuição do risco para doenças cardiovasculares”.
Outro fator muito importante e
discutido sobre a alimentação paleolítica é o fato de ser rica em gorduras
monoinsaturadas e em Ômega 3 (EPA e DHA), relacionados em estudos com a redução
da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e o câncer. Além disso,
alimentação paleolítica é rica na vitamina K2, associada com a prevenção de
doenças cardiovasculares, osteoporose e cuja deficiência favorece o
envelhecimento.
Dietas com proporção maior de proteínas ajudam a perder de peso
O que está incluído na dieta
paleolítica:
- Vegetais
- Frutas
- Carnes, peixes e
ovos
- Nozes, castanhas e
sementes
- Gorduras vegetais
saudáveis
O que não está incluído:
- Açúcar e alimentos
processados
- Trigo e grãos
- Álcool
- Bebidas açucaradas
- Alimentos
industrializados
Embora a alimentação paleolítica
ofereça todos estes benefícios, devemos alertar que ela não pode ser feita por
qualquer pessoa e não deve ser seguida por crianças. A melhor experiência nesta
alimentação é a consciência de não comer alimentos processados. Equilibro
sempre é o ideal, busque a orientação do seu médico e nutricionista.
Referências:
1 - Biff F.
Palmer, MD, and Deborah J. Clegg, PhD. Achieving the Benefits of a
High-Potassium, Paleolithic Diet, Without the Toxicity. Mayo Clin Proc.
2016;91(4):496-508
2 - DeSalvo
KB, Olson R, Casavale KO. Dietary Guidelines for Americans. JAMA
2016;315(5):457-458.
3 - Food and
Nutrition Board, Institute of Medicine. Potassium. In: Dietary Reference
Intakes for Water, Potassium, Sodium, Chloride, and Sulfate. Washington, DC:
National Academies Press; 2005:186e268.
4 - Cogswell
M, Zhang Z, Carriquiry A, et al. Sodium and potassium intakes among US adults:
NHANES 2003-2008. Am J Clin Nutr. 2012;96(3):647-657.
5 - Palmer
BF. Regulation of potassium homeostasis. Clin J Am Soc Nephrol.
2015;10(6):1050-1060.
6 - Ellison
DH, Terker AS. Why your mother was right: how potassium intake reduces blood
pressure. Trans Am Clin Climatol Assoc. 2015;126:46-55.
7 - Blomquist
C, et al "Beneficial effects on fatty acid composition and indices of
fatty acid desaturase activity with a paleolithic-type diet during a two-year
intervention in obese postmenopausal women" ENDO 2016; Abstract SUN-575. Endocrine Society
*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com
GUILHERME RENKE
Médico pela Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Cardiologia pelo Instituto Nacional de Cardiologia INCL RJ e Endocrinologia pela IPEMED. Membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, Membro do American College of Sports Medicine, Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Membro do Departamento de Ergometria e Reabilitação da SBC.