• Gustavo Silva
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Mary Elizabeth Winstead e John Goodman em cena de 'Rua Cloverfield, 10' (Foto: Divulgação)

Mary Elizabeth Winstead e John Goodman em cena de 'Rua Cloverfield, 10' (Foto: Divulgação)

Não dá para negar: Cloverfield é uma grande bobagem - divertida, mas ainda assim, uma bobagem. Porém o terror sci-fi de 2008, que pegou carona na onda (irritante) de filmes found footage, tinha um mérito inerente: além de ritmo, não se levava a sério.

Rua Cloverfield, 10, descrito pelo produtor J.J. Abrams como "sucessor espiritual" da obra da década passada, apresenta o mesmo espírito de galhofa, mas de maneira muito mais adulta e sutil. O filme é uma brincadeira com o espírito arrogante do espectador de 'grande entendedor de situações de risco'. Quem nunca pensou algo como "que personagem estúpido, faça isso!" durante um thriller? O raciocínio tem razão de ser: em produções recheadas de clichês, as soluções são fáceis de serem apontadas.
 

John Gallagher Jr , Mary Elizabeth Winstead e John Goodman: o trio de 'Rua Cloverfield, 10' (Foto: Divulgação)

John Gallagher Jr , Mary Elizabeth Winstead e John Goodman: o trio de 'Rua Cloverfield, 10' (Foto: Divulgação)

Só que o lançamento passa longe de ser uma concha de retalhos de momentos previsíveis - ainda que dê todos os motivos para se pensar o contrário. Michelle, personagem de Mary Elizabeth Winstead, briga com o noivo, vai embora de casa sem rumo e, depois de se ver envolvida em um acidente, acorda em um quarto subterrâneo, acorrentada e sob os cuidados de Howard, vivido por John Goodman.

A partir daí, é de se imaginar que Rua Cloverfield, 10 será mais um torture porn aos moldes de Jogos Mortais. Mas o desenrolar do filme segue rumos que induzem a pensar que o terror ganhará os ares dramáticos de fuga. Isso até que Emmet - na pele de John Gallagher Jr. -, outro hóspede (ou comparsa? Ou vítima?) de Howard, entra em cena e transforma a produção em um thriller psicológico intenso - clima que se intercala com os elementos de um grande sci-fi conspiratório.
 

John Goodman e Mary Elizabeth Winstead em cena de 'Rua Cloverfield, 10' (Foto: Divulgação)

John Goodman e Mary Elizabeth Winstead em cena de 'Rua Cloverfield, 10' (Foto: Divulgação)

A montanha-russa de gêneros poderia gerar uma tragédia digna de comédias de Adam Sandler na tela, mas é conduzida com maestria pelo estreante diretor Dan Trachtenberg. O elenco enxuto, que se resume praticamente ao já mencionado trio - com destaque para Goodman, que pôe o prefixo do seu sobrenome em xeque em meio aos seus suspiros ofegantes psicóticos - dá mais força aos personagens e a toda trama, cujo destaque está justamente em sua simplicidade aparente.

Mais do que sequência, Rua Cloverfield, 10 é uma obra independente de seu antecessor - um mérito por si só. Só que, de apenas uma bobagem divertida, a franquia torna-se relevante por sua qualidade elevada. Um dos grandes filmes de 2016, sem dúvidas.