Rio Bairros

Prefeitura de Niterói anuncia restrição ao acesso na Praia do Sossego

Famílias que moram na praia serão removidas e uma sede da Guarda Ambiental será construída no local

Vista de onde ficará a base da Guarda Ambiental, na Praia do Sossego
Foto: Bia Guedes
Vista de onde ficará a base da Guarda Ambiental, na Praia do Sossego Foto: Bia Guedes

NITERÓI — Situado entre as encostas de Camboinhas e Piratininga, está o Sossego. A praia — que faz jus ao nome sugestivo — costuma ser pouco frequentada e é a mais intocada da orla de Niterói. A partir desta semana, no entanto, sua rotina deve ser alterada por uma série de medidas que prometem causar polêmica. A pretexto de preservar o lugar, a prefeitura anunciou que vai restringir o acesso à praia e construir ali uma sede da Guarda Ambiental. As construções que existem hoje serão demolidas e os moradores, realocados. O objetivo é adequar a área para que ela possa ser transformada num parque municipal.

Segundo o vice-prefeito de Niterói, Axel Grael, as mudanças começam a ser implementadas até o fim do ano. Entre as novidades previstas estão uma nova trilha, a recuperação da vegetação nativa e o ordenamento do trânsito e do estacionamento. Apesar das transformações, a prefeitura afirma que o clima rústico da praia será mantido.

— A Praia do Sossego é uma área importante porque tem um grande potencial de visitação. Mas esse grande fluxo de pessoas, sem gestão, tem degradado o local. O que nós queremos é justamente ordenar o uso para que a praia mantenha as suas características ambientais e continue sendo um lugar aprazível — explica Grael.

Número máximo de visitantes

A principal mudança no dia a dia de quem frequenta o local será o controle do acesso, feito a partir da base da Guarda Ambiental que será construída no alto do morro, próximo ao início do caminho para a areia. A ideia é estabelecer um número máximo de visitantes simultâneos. Outra restrição deve vir a partir da definição de um horário de visitação, como acontece nos parques estaduais.


As casas erguidas na praia deverão ser demolidas, segundo a prefeitura, e seus moradores, realocados
Foto: Bia Guedes
As casas erguidas na praia deverão ser demolidas, segundo a prefeitura, e seus moradores, realocados Foto: Bia Guedes

— Faremos um cálculo para estabelecer quantas pessoas o lugar suporta de maneira confortável e sem que haja degradação — explica o vice-prefeito, acrescentando que os técnicos da prefeitura ainda estão discutindo se permitem ou não a presença de quiosques por meio de concessão. — Acho que não é o caso de ter, mas ainda não definimos.

O entendimento da prefeitura é que a praia já não suporta a atual demanda. Embora num dia de semana o movimento seja pequeno — na última quarta-feira, contava-se nos dedos o número de banhistas — nos fins de semana de sol o número excessivo de carros provoca uma série de transtornos. A solução provável, antecipa Axel, é determinar o número de vagas disponíveis e operar um esquema de trânsito semelhante ao que é feito na Prainha e em Grumari, no Rio:

— Se ali só cabem 40 carros, não adianta chegarem 80 porque não vai caber. A experiência de todo mundo vai ser ruim.

Morador de Piratininga e frequentador da praia, o estudante Henrique da Cunha vê com bons olhos a proposta de preservar a praia, mas diz que as restrições ao acesso deveriam ser discutidas.

— Gosto do aspecto da preservação, mas a questão de restringir a entrada é mais complexa. Quem mora na região vai conseguir entrar a hora que for, nem que seja por Piratininga ou pela água, então só vai funcionar com quem vem de fora — avalia.

Também está prevista a recuperação da vegetação de restinga e a substituição de espécies de plantas exóticas por nativas. Os recursos para o projeto vêm do pagamento de compensação ambiental pelas obras da TransOceânica. Serão R$ 1.660.500 que serão divididos entre as obras na Praia do Sossego e em investimentos no Parque Estadual da Serra da Tiririca. A prefeitura ainda aguarda a licitação, mas afirma que as obras terão início este ano.

ATO CONTRA A RETIRADA DA FAMÍLIA

Embora more há 37 anos na Praia do Sossego, a família do pescador Antônio Claudio, de 45 anos, perdeu a tranquilidade. Eles foram obrigados pela Justiça a deixar a pequena casa onde moram. Um ato será realizado neste domingo, na praia, contra a retirada da família.

Claudio, que é mergulhador, diz que tira o sustento da mulher e da filha, de 4 anos, da pesca. Na casa ao lado vivem o irmão e a esposa. Numa outra casinha, no meio da trilha, vivem os quatro filhos do irmão. Ele diz que, se morar perto do mar, sabe que nunca vai faltar alimento para a família. Na quarta-feira, ele pegou dez polvos em pouco menos de uma hora.


Ao lado da família, Antonio Claudio segura os polvos que acabara de pescar
Foto: Bia Guedes
Ao lado da família, Antonio Claudio segura os polvos que acabara de pescar Foto: Bia Guedes

— Tem muito peixe. Aqui só passa fome se quiser — diz ele.

Longe d’água, as perspectivas são bem piores. A prefeitura ofereceu à família um apartamento do programa Minha Casa Minha Vida no Sapê. Até receberem a unidade, precisarão sobreviver com R$ 600 do aluguel social.

— Quando era mato, sem água, luz, sem valor, ninguém queria a terra. Agora vão tirar a gente alegando que é uma área de reserva e vão por outra construção no lugar?