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Há 30 anos, Piquet e Senna erguiam juntos a bandeira do Brasil no pódio

No dia 23 de março de 1986, no GP do Brasil que abriu temporada em Jacarepaguá, astros protagonizaram a primeira das oito dobradinhas deles na história da Fórmula 1

Por Rio de Janeiro

Bem e mal, certo e errado, proibido e permitido, esquerda e direita… Não adianta. O ser humano não resiste a um extremo, por mais que haja muito mais que 50 tons de cinza entre as cores preta e branca. O da vez no Brasil é na política. Nos dias atuais, ou se é tachado de “coxinha” ou de “petralha”. No fim da década de 1980, esse clima tomou conta da Fórmula 1 no país. Levando para fora da pista uma rivalidade construída pelos seus dois maiores astros da época, os torcedores brasileiros se dividiram entre “Sennistas” e “Piquetistas”, virando as costas para o privilégio de poder torcer por dois dos maiores nomes da história do automobilismo. Mas essa polarização nem sempre foi assim. E um episódio importante dessa história completa 30 anos nesta quarta-feira.

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Ayrton Senna e Nelson Piquet no pódio do GP do Brasil de 1986 (Foto: Divulgação/Williams)Ayrton Senna e Nelson Piquet no pódio do GP do Brasil de 1986 (Foto: Divulgação/Williams)



No dia 23 de março de 1986, Nelson Piquet e Ayrton Senna protagonizaram a primeira dobradinha entre eles na F1, com Piquet em 1º e Senna em 2º. O GP não poderia ser mais propício, o do Brasil, para delírio da torcida que lotou as arquibancadas do saudoso e já extinto Autódromo de Jacarepaguá, hoje local do Parque Olímpico do Rio 2016.

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A prova marcava a abertura da temporada de 1986. Uma das fortes concorrentes ao título, a Williams contava com a chegada de um consagrado Nelson Piquet, naquela altura bicampeão, para fazer companhia ao veloz, mas irregular Nigel Mansell. A principal rival da escuderia seria a McLaren, campeã do ano anterior com Alain Prost (e bicampeão no fim daquele ano), que contava também com Keke Rosberg. Já a Lotus corria por fora, apostando todas as suas fichas no jovem promissor Ayrton Senna.

Nos treinos que definiram o grid de largada, Senna, que no ano anterior já se mostrara um especialista em voltas lançadas, aproveitou o forte pacote da Lotus-Renault para as classificações e abriu o ano com a pole position. Atrás dele vieram os carros da Williams, de Piquet e Mansell. Na prova, porém, a maior experiência de Piquet e o melhor ritmo de corrida da Williams com relação à Lotus prevaleceram. Logo na largada, Mansell se precipitou ao tentar ultrapassar Senna, rodou e abandonou. Nelson, por sua vez, teve paciência e, três voltas depois, deixou o compatriota para trás para assumir a liderança. Depois disso, só saiu da ponta provisoriamente nas paradas nos boxes. Ao fim, cruzou a linha de chegada com 34s de vantagem sobre Senna. Jacques Laffite, da Ligier, completou os três primeiros.

Em uma época em que os ânimos entre os dois não eram tão exaltados, Piquet e Senna ergueram juntos, no pódio, a bandeira do Brasil, em uma imagem que ficou para a eternidade. Foi a terceira das onze dobradinhas entre brasileiros na F1, a primeira das oito entre os dois tricampeões. Nelson Piquet, 34 anos, era um consagrado bicampeão mundial, com seu lugar registrado na história. Já Ayrton Senna, 26, era um promissor talento, em seu terceiro ano de F1, apontado como futuro do Brasil na categoria. O gesto poderia simbolizar uma passagem de bastão. Mas a transição entre as gerações campeãs do país só ocorreu dois anos depois, em 1988 com o primeiro dos três títulos de Senna. “Culpa” de Piquet, que em 1987 se impôs em uma pouco amigável ambiente na Williams e alcançou seu terceiro título mundial. Nos anos seguintes, a rivalidade entre os dois cresceu a ponto de virar rixa e dividir também os fãs. Azar daqueles que perderam tempo discutindo, em vez de curtirem o auge do Brasil na Fórmula 1.