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John Coltrane é tema de HQ de Paolo Parisi lançada agora no Brasil

Estrutura do livro segue a lógica do clássico álbum 'A love supreme', de 1965
Páginas de 'Coltrane', obra que segue a estrutura do álbum conceitual 'A love supreme', de 1953, para registrar os principais momentos da carreira do músico Foto: Divulgação
Páginas de 'Coltrane', obra que segue a estrutura do álbum conceitual 'A love supreme', de 1953, para registrar os principais momentos da carreira do músico Foto: Divulgação

SÃO PAULO — Quem gosta e conhece jazz não terá dificuldade de identificar na capa de “Coltrane”, biografia em quadrinhos do saxofonista americano John Coltrane (1926-1967), que a Veneta acaba de lançar, um recorte da capa de “Blue train” (1957), considerado pelos críticos o primeiro trabalho autenticamente solo do músico. Ao ler o álbum do desenhista italiano Paolo Parisi, no entanto, o leitor será remetido a outro disco do compositor, “A love supreme” (1965), considerada a obra mais representativa de sua carreira.

— A estrutura do livro segue a estrutura do álbum: quatro capítulos o livro, quatro partes o disco, inclusive com os mesmos títulos. É o único trabalho dele que não tem aquela clássica divisão em faixas dos vinis. Por ser um álbum conceitual, entre outras peculiaridades, me fez pensar que uma biografia pudesse seguir a estrutura do álbum — diz Parisi, em entrevista por telefone.

John Coltrane é o tema da graphic novel do artista italiano Paolo Parisi que a Veneta lança no Brasil Foto: Divulgação
John Coltrane é o tema da graphic novel do artista italiano Paolo Parisi que a Veneta lança no Brasil Foto: Divulgação

No posfácio à obra, o autor sugere inclusive conectar a leitura com a audição. Apaixonado por música, o ilustrador conta que decidiu fazer o livro sobre Coltrane por descobrir no músico uma espécie de “guia”.

— É um artista que vai além do jazz. Ele foi muito importante na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Uma figura de expressão que vai além da música em si, que fez do gênero uma mensagem de paz. Não por acaso, uma de suas músicas mais belas é “Peace on Earth”.

As principais referências de Parisi, que classifica seu trabalho como “biografia ficcional”, foram o livro “John Coltrane: his life and music” (2000), de Lewis Porter, e a última entrevista concedida pelo músico, em 1966, a Frank Kofsky, incluída no livro “Black nationalism and revolution in music” (1970). Muitas das situações reproduzidas, assim como as falas, foram tiradas dessas duas fontes.

Algumas licenças poéticas foram tomadas, explica o autor, para acomodar o ritmo narrativo, mas nada de muito significativo:

— Existe uma base de realidade, de época. Mas para mim interessava mais explorar a figura do homem, do artista que manteve relações com outros músicos, da figura que teve muitas dificuldades para superar o vício nas drogas e no álcool e do defensor engajado dos direitos civis. Por outro lado, é também um tributo ao jazz.

CITAÇãO AO RACISMO NOS EUA

Além de Dizzy Gillespie, Miles Davis, Thelonius Monk e Duke Ellington, ganham destaque outras figuras importantes na trajetória de Coltrane, como Martin Luther King e Malcolm X. A última parte, intitulada “Psalm”, abre com uma descrição do atentado cometido pela Ku Klux Klan a uma igreja batista de Birmingham, no Alabama, que matou quatro crianças negras e inspirou a canção “Alabama” (1963).

O livro se completa com um apêndice de três capítulos, com mais referências sobre Coltrane. Há uma lista de livros sobre o músico, uma discografia e uma relação de vídeos.