A medalha de ouro no peito é um presente que nem Juliana dos Santos achava que poderia ganhar nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Afinal, era apenas a sua segunda corrida na distância dos 5.000m. Quatro anos antes de competir no Canadá, no entanto, ganhou o presente que mudaria o rumo de sua carreira como atleta. Ela e o marido, o maratonista Marílson dos Santos, tiveram o filho Miguel. Dois atletas, dois sonhos olímpicos e um menino para cuidar. Juntos, no entanto, passaram a dividir as responsabilidades e se ajudar. A corredora não queria abrir mão de sua carreira, mas confessa que chegou a pensar em não retornar às pistas. Decidiu arriscar. Em Toronto, teve a certeza de que tomou a decisão acertada.
– No começo, sim (pensou em desistir). Um pouco. Eu nunca me desprendi do atletismo, sabia que podia voltar. Mas coloquei o meu filho como prioridade. Mas como lá em casa são dois atletas, eu ainda vivo com isso. Falo que o mais difícil para mim é a competição lá em casa: quem é a melhor, a mãe ou a atleta? E você quer ser boa nas duas, né? Eu via o Marílson continuando. Ele foi uma pessoa importante para mim ao falar que dava. Mas eu fui passo a passo. Não queria criar expectativa, vai que não dava, né? Deu - disse a atleta, que está com 32 anos.
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Bicampeão da maratona da Nova Iorque, Marílson não permitiria facilmente que a esposa não retornasse ao esporte e não lutasse por uma vaga nos Jogos Olímpicos no Brasil. Queria dividir os momentos nas pistas também. Enquanto ela compete no Pan, tomou a responsabilidade de cuidar do filho no período - já que está lesionado e não pôde ir aos Jogos. Juliana, no entanto, conta que não foi fácil se desprender.
– Depois de oito anos, ter que deixar dois no aeroporto foi bem tenso. E
voltar a competir a nível internacional com as meninas, uma vila top.
Eu estou desacostumada. É muita mordomia. É vidro de um lado, refeitório
do outro, pista a 500m da gente. Não estou acostumada. Vida de mãe é
correria. E o Adauto (Domingues, seu técnico) disse que eu teria de
reaprender de novo – diz a campeã pan-americana de 2015.
Juliana dos Santos também fez mudanças importantes dentro das pistas. Há oito anos, havia sido campeã pan-americana no Pan do Rio 2007 na prova dos 1.500m. Ouviu os conselhos do seu treinador e passou a se arriscar em outras provas. Ainda não sabe em qual disputa tentará o índice para participar das Olimpíadas do Rio ao lado do marido.
– Agora vamos com calma, vamos analisar as provas. Tanto os 5.000m quanto os 3.000m com obstáculos ou até mesmo os 1.500m. Vamos escolher a que me levar mais rápido às Olimpíadas. Eu e o Adauto vamos rever a prova e vamos acreditar. E vamos fazer o índice primeiro. O Marílson tem e preciso fazer para acompanhar. E treinar para que dê tudo certo. Depois de ganhar essa prova hoje, se eu precisava de uma motivação, não preciso mais – explicou.
Juliana faturou a medalha de ouro com tempo de 15m45s97, o seu melhor na curta carreira na distância dos 5.000m - mas ainda baixo se pensar em números mundiais. Brenda Flores, do México, ficou com a prata, com 15m47s19. Kellyn Taylor, dos Estados Unidos, completou o pódio.