O veterinário é irmão do guitarrista Bento Hinoto(Foto: Fernando Hinoto / Arquivo Pessoal )
Bento ao lado da mãe (Foto: Fernando Hinoto/Arquivo Pessoal)
Há exatos 20 anos, o avião que levava os cinco integrantes da banda Mamonas Assassinas se chocou contra a Serra da Cantareira, na Zona Norte de São Paulo, e deixou o Brasil de luto. O grupo musical voltava do último show de sua turnê, em Brasília. Era o fim de um fenômeno artístico. As músicas da banda - com letras escrachadas - chacoalharam o Brasil durante sete meses. No entanto, para o veterinário Chikara Hinoto, de 65 anos, irmão mais velho do guitarrista Bento, o fim dos Mamonas Assassinas nunca foi decretado. Pelo contrário, para ele o sucesso só aumenta. "Eles [Mamonas] estão mais vivos do que nunca", afirma.
O veterinário trabalha em uma clínica de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Em conversa com o G1, ele relatou sua alegria ao testemunhar, duas décadas após a partida da banda, o amor que milhares do fãs Brasil afora ainda nutrem pelo grupo musical. "A febre só aumenta. Acho engraçado ver crianças de 10 anos que cantam as músicas e gostam deles [Mamonas]. Estas crianças não eram nascidas quando eles se foram e elas são fãs. Quando ficam sabendo que eu sou o irmão mais velho do Bento, em algum evento, por exemplo, querem conversar comigo, tirar foto e me adicionar em redes sociais", detalha.
O guitarrista de cabelo rastafari, na verdade se chamava Alberto Hinoto. Chikara é o mais velho de sete irmãos. Morava em Mogi das Cruzes (SP), no bairro Mogi Moderno, e tinha 45 anos quando recebeu a notícia do trágico acidente aéreo que tirou a vida do irmão naquela noite de sábado.
O vetenirário viveu na cidade entre anos de 1976 e 2003. "Fiz minha vida em Mogi. No dia do acidente com a banda eu estava em um jantar com amigos. Fui para casa e mais tarde o telefone tocou e nos deram a notícia. Eu fui para o Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo e tive que cuidar de tudo", lembra.
Atualmente, ele possui um consultório veterinário no Jardim Odete, em Itaquaquecetuba (SP). Nesta mesma cidade, o pai do vocalista Dinho mantém um acervo da banda.
Bento ao lado do irmão Chikara na loja em Itaquaquecetuba (Foto: Fernando Hinoto / Arquivo Pessoal)O estabelecimento fica no mesmo prédio onde funciona uma casa de ração e pesca, que é adminstrada por um dos irmãos do Chikara. Ele conta que, no começo da carreira, Bento trabalhou na loja de ração com ele: "Ele me ajudava a cuidar das coisas lá. Fizemos um trato: ele saía mais cedo às sextas-feiras para fazer pequenas apresentações. Era o começo dos Mamonas", conta.
Guitarras usadas nos shows são mantidas pelafamília (Foto: Fernando Hinoto / Arquivo Pessoal)
O veterinário atualmente mora em Guarulhos, no bairro Bom Clima, com a mãe Toshiko Hinoto, de 90 anos. "Temos em casa instrumentos que ele [Bento] usava nos shows. Ainda guardamos um chapéu, capacete, fotos... Aquelas roupas que ele usava nos shows, nós fomos emprestando para bandas covers e acabamos perdendo". detalha.
Chikara, que acompanhou o início da formação da banda, conta que os integrantes sempre acreditaram no sucesso. "Eles ensaiavam na Associação Cultural Agricola de Itaquaquecetuba e faziam planos. Acompanhei vários ensaios da banda. Muitas vezes eles jogavam bola lá também", relembra.
Além de Bento, Chikara possui outros cinco irmãos: um mora em São Paulo, outro em Guarulhos, um vive em Mongaguá, no litoral Sul de São Paulo. O veterinário ainda tem um irmão que mora em Itaquaquecetuba. O mais distante vive em Belém do Pará. "O Alberto tinha um sonho quando começou a fazer sucesso. Na verdade ele queria comprar um apartamento para nossa mãe e pagar uma viagem para Europa para ela", diz.
Para o veterinário, o irmão caçula era como um filho. "Por causa da nossa diferença de idade e como o nosso pai morreu, em 1978, eu acabei assumindo esse papel paterno".
O sobrinho
Na época do acidente, Fernando Hinoto, filho de Chikara, tinha somente 16 anos. Soube da morte do tio assim que chegou em casa, após uma partida de futebol com os amigos em Mogi das Cruzes. "Ele [Bento] me ensinou muita coisa: andar de bicicleta, skate e jogar tênis de mesa. Acho que a única coisa que não aprendi mesmo foi tocar guitarra", lembra.
Bento e o sobrinho Fernando em um churrasco em Itaquaquecetuba (Foto: Fernando Hinoto / Arquivo Pessoal)Fernando conta que tinha uma forte ligação com o tio, talvez pela pouca diferença de idade: 10 anos. "Ele é a minha inspiração. Ele foi uma pessoa que lutou e alcançou", explica.
Mamonas Assassinas(Foto: Fernando Hinoto / Arquivo Pessoal)
Atualmente, Fernando mora em São Paulo, onde trabalha no ramo imobiliário. Entretanto, a infância, vivida em Mogi das Cruzes lhe traz grandes lembranças relacionadas à banda que levou o tio ao estrelato. A foto acima, segundo ele, foi feita durante um churrasco em um sítio em Itaquaquecetuba. "Depois da fama, eram somente nesses encontros que eu acabava vendo o meu tio. Às vezes, eu o via em show que eles [Mamonas] faziam em cidades nas redondezas. Minha música preferida deles é o Vira Vira", conta.
Se pudesse deixar um recado para o tio, Fernando diria: "ele fez tudo como deveria ter feito". Sobre a saudade, sentimento compartilhado com milhares de fãs brasileiros, Hinoto a define em uma frase: "O tempo transforma a dor em algo suportável", finaliza
Bento Hinoto guitarrista dos Mamonas Assassinas (Foto: Fernando Hinoto/Arquivo Pessoal)
