Economia

Rio é segunda maior economia, mas indústria é apenas sexta do Brasil

Setor é o que concentra empregos com mais qualidade e renda maior
Infográfico sobre a indústria fluminense Foto: Editoria de Arte
Infográfico sobre a indústria fluminense Foto: Editoria de Arte

RIO - Com a segunda maior economia entre os estados brasileiros (11,8% de participação), o Rio de Janeiro ostenta um acanhado sexto lugar no ranking da indústria de transformação brasileira: sua fatia é de meros 6% do total. São Paulo lidera de forma absoluta (38,6%), mas o Rio fica bem atrás também de Minas Gerais (10,3%), Rio Grande do Sul (9%), Paraná (8,4%) e até Santa Catarina (7,1%), apontam os dados das Contas Regionais do Brasil para 2013, que acabaram de ser divulgados pelo IBGE. Se até os anos 1980 o Estado do Rio ainda era a segunda maior base industrial do país, hoje o segmento é pequeno diante do tamanho de sua economia, apontam especialistas. A indústria extrativa é maior que no resto do país, mas a concentração cobra seu preço, o que se observa agora, em um momento de crise no setor do petróleo.

— É na indústria de transformação que estão os empregos com mais qualidade, carteira de trabalho e renda maior. E a indústria é importante para desenvolver serviços mais qualificados e para a inovação tecnológica. O encolhimento da indústria de transformação indica um relativo empobrecimento da estrutura econômica do Rio de Janeiro — afirma o economista do Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rafael Cagnin.

A própria Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro admitem que essa participação da indústria de transformação poderia ser maior.

Para o professor da Uerj Bruno Leonardo Barth Sobral, o que ocorre na indústria fluminense não é apenas reflexo de um processo de esvaziamento da indústria que ocorre em todo o país, já que o Rio perde espaço para outros estados.

— A recuperação econômica do Rio não foi acompanhada por uma reestruturação de sua indústria, que é muito concentrada em siderurgia, petroquímica e refino. A indústria tem capacidade de articular outras atividades, como o setor de serviços, há um efeito multiplicador. Além disso, a indústria pode levar o desenvolvimento para o interior — avalia Sobral.

Ele acredita que é um erro pensar que a vocação fluminense não seria mais a atividade industrial, porque ainda há indústrias com peso no cenário nacional, como é o caso da fabricação de bebidas, de produtos químicos e metalurgia, e porque há potencial grande de sinergias quando indústria e serviços estão fortalecidos. Mais do que isso, no entanto, Sobral diz que o desafio de interiorização e maior integração econômica do estado como um todo exige maior preocupação com o processo de industrialização.

— Seria inadequado se pautar em estratégias que só valorizem restritas parcelas do território. A capacidade de interiorização do setor de serviços sozinho é bastante limitada, é preciso consolidar os polos industriais — defende o professor da Uerj.

Frederico Cunha, gerente de Contas Regionais do IBGE, aponta que não há um equilíbrio na distribuição das atividades econômicas do Estado do Rio, tanto no tamanho da agropecuária quanto no da indústria de transformação.

Se no Brasil a agropecuária responde por 5,3% da economia, no Rio essa fatia é de apenas 0,5%. O peso da indústria de transformação na economia brasileira é de 12,3%, enquanto no Rio de Janeiro é de 6,2%. Já o peso da indústria extrativa no Rio (15,7%) é quase quatro vezes ao da média brasileira (4,2%).

— Dos estados grandes, o Rio é o único que não tem uma representação decente da agropecuária. E a indústria de transformação é proporcionalmente menor que no país — diz Cunha.

Para o responsável pela Coordenadoria de Políticas Econômicas da Fundação Ceperj, Armando Filho, a indústria no Estado do Rio está demasiado concentrada na indústria do petróleo, o que acaba prejudicando a economia. Segundo ele, a indústria petrolífera é muito forte, e seria salutar uma diversificação, já que “depender só de um setor é muito ruim”. Armando Filho lembra, por exemplo, que hoje as finanças do estado sofrem por causa dos royalties do petróleo.

IMPOSTO E SALÁRIO DIFICULTAM

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Estado do Rio, Marco Capute, reconhece que uma melhor distribuição das atividades na composição da economia ajudaria a amenizar possíveis crises. Mas ele afirma que “a indústria do petróleo é como um ímã”.

O gerente de Ambiente de Negócios e Infraestrutura do Sistema Firjan, Guilherme Mercês, admite que a indústria fluminense poderia ser maior. Mas argumenta que, para isso, é preciso rever dois importantes custos: o do ICMS e o do piso salarial. Na década de 2000, o governo decretou um adicional de 1% na cobrança do ICMS para o Fundo Estadual de Combate à Pobreza. E também estabeleceu outro adicional, de 4%, para o ICMS de energia e telecomunicações, que em última instância afeta todos os setores, alerta a Firjan.

— É verdade, a gente tem condições de expandir a indústria de transformação, mas tem de atacar os principais fatores de competitividade, que são os custos tributário e trabalhista. O Rio perdeu muito na guerra fiscal. Durante muito tempo, foi na direção contrária dos outros estados.