Política Lava-Jato

Em gravação, Renan orienta defesa de Delcídio no Conselho de Ética

Presidente do Senado argumenta que acelerou processo no plenário da Casa

RIO - Uma gravação divulgada nesta quinta-feira pelo “Jornal Hoje” da TV Globo indica que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), orientou Vandenbergue dos Santos Sobreira Machado, diretor de assessoria legislativa da CBF, e que seria um representante do senador cassado Delcídio Amaral (Sem partido - MS), sobre como o ex-líder do governo deveria fazer sua defesa na época em que enfrentava um processo no Conselho de Ética. Segundo integrantes do Senado, Renan e Vandenbergue são amigos e também próximos de Delcídio. A pedido de Renan, o lobista deu acompanhamento a Delcídio, antes de Renan saber que o ex-senador fizera delação premiada para denunciar a todos.

Na conversa do dia 24 de fevereiro, Renan afirma que é preciso que o presidente do conselho, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), peça diligências para não parecer que a investigação estava parada e sugere que Delcídio faça uma carta mostrando “humildade” e que já “pagou o preço pelo que fez”.

RENAN: O que que ele (Delcídio) tem que fazer... Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias... Família pagou... A mulher pagou...

VANDENBERGUE: Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora.

RENAN: Conselho de ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras... O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado...

VANDENBERGUE: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada...

Delcídio teve seu mandato de senador cassado no último dia 10 de maio. Em nota, Renan argumentou que acelerou o processo de cassação no plenário, às vésperas da votação do impeachment.

"O desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais. Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou", pondera o presidente do Senado em nota.

Por meio da assessoria, o presidente do Conselho de Ética, João Alberto, disse que sempre cumpriu o Regimento e que a prova de que houve celeridade é que Delcídio já está cassado.

Assessores de Delcídio disseram que as gravações mostram que Renan sempre "operou" no Conselho de Ética: antes da delação de Delcídio, para postergar o processo, e, depois da delação, para acelerá-lo.

SÉRIE DE CONVERSAS POLÊMICAS

Renan foi alvo esta semana de outros vazamentos de gravações, mas envolvendo o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Em um dos áudios , reproduzido na noite de quarta-feira pelo "Jornal da Globo" , Renan fala com Machado e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) em como acessar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da Lava-Jato Teori Zavascki. O grupo cita o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cesar Asfor Rocha e o advogado Eduardo Ferrão. Em outro diálogo entre Renan e Machado, os dois fazem críticas ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a políticos.

Machado fez delação premiada na Lava-Jato, já homologada por Zavascki. Numa série de depoimentos prestados à Procuradoria-Geral da República, ele falou sobre a arrecadação de dinheiro de origem ilegal para políticos aliado s, entre eles Sarney, Renan e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR).  Um áudio envolvendo Jucá, divulgado na última segunda-feira, acabou levando a sua saída do governo de Michel Temer .