Série ASérie BEuropa

- Atualizado em

Embalado pelo vento, Isaquias vence C1 200m e conquista mais um ouro

"Só nasce um Ayrton Senna, um Ronaldinho, um Usain Bolt. Ele é desse tipo", diz primeiro treinador do brasileiro. No K1 200m, Edson Isaias fica com a prata

Por Toronto, Canadá

Isaquias posa para foto com as três medalhas que conquistou em Toronto (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)Isaquias posa para foto com as três medalhas que conquistou em Toronto (Foto: Divulgação/ Confederação Brasileira de Canoagem)

Nem a chuva forte, que apertou ainda mais na hora de sua prova, nem os adversários, nem a torcida a favor dos canadenses... Nada parou Isaquias Queiroz. Após conquistar uma prata com Erlon Silva no C2 1000m e o primeiro ouro da história brasileira nos Jogos Pan-Americanos na segunda-feira no C1 1000m, a fera da canoagem velocidade se consagrou em seu primeiro Pan ao subir novamente no topo do pódio, nesta terça. Desta vez, a prova foi o C1 200m. Na prova curta, o baiano disparou nas águas de Welland, no Canadá. O atleta de 21 anos largou atrás, deu um sprint final e passou todo mundo, completando a prova com o tempo de 39s991 - a prata ficou com Jason McCoombs, do Canadá, com 41s333, e o bronze com Arnold Rodriguez, de Cuba, com 41s459. A arrancada, embalada pelo vento, gerou brincadeiras sobre o estilo de Usain Bolt.

- Até dá para fazer uma comparação sim (risos). Mas tenho que me preparar muito ainda para chegar aos pés daquele deus da corrida. Estou firme na preparação e espero conseguir continuar tendo resultado nos meus treinamentos. Para mim, as medalhas significam que o trabalho está sendo feito. A satisfação é muito grande de ajudar o Brasil, somos uma nação inteira, um time só, então fico muito feliz. Agora é manter o foco - comentou o brasileiro.

O recorde mundial da prova é 38s137, do ucraniano Iurii Cheban. O tempo foi registrado durante o Mundial da categoria, disputado em agosto de 2014, em Moscou, na Rússia.

Isaquias é o grande nome da canoagem brasileira para as Olimpíadas Rio 2016 (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)Isaquias é o grande nome da canoagem brasileira para as Olimpíadas Rio 2016 (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)

Leia mais:

Um rim a menos e "pulmão a mais": dramas viram combustível de Isaquias
"Maluco Beleza": estilo de Isaquias vira marca da canoagem: "Eu sou único"
Acompanhe o calendário de todos os eventos do Pan de Toronto

Isaquias recebe sua segunda medalha de ouro no Pan de Toronto (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)Isaquias recebe sua segunda medalha de ouro no Pan de Toronto (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)

Ex-técnico de Isaquias em Ubaitaba, no sul da Bahia, onde nasceu e cresceu, Figueroa Conceição afirmou que Isaquias é um atleta do calibre do jamaicano.

- Só nasce um Ayrton Senna, um Ronaldinho, um Usain Bolt. Ele é desse tipo.

Não tem tempo ruim para ele. Isaquias afirmou que a ventania ajudou no Canadá.

- Eu e meu treinador (Jesús Morlán) estávamos até conversando disso antes, do vento... Como eu não treino o C1 200m, minha saída é devagar. É sempre ruim. Acho que o vento me favoreceu. Se treinar bastante, não tem sol, chuva, não tem tempo ruim - disse.

Marca registrada da canoagem brasileira por seu estilo único, o “Maluco Beleza” tem, além das três medalhas no Pan de Toronto, dois títulos mundiais no C1 500m, prova não-olímpica, um ouro e uma prata no Mundial de Velocidade júnior em Brandenburg, na Alemanha, em 2011, e dois bronzes no Mundial adulto, em Duisburg 2013 e Moscou 2014. Isso com apenas 21 anos. 

Sem um rim, o atleta do Club Athlético Paulistano saiu de Ubaitaba, interior da Bahia, onde deu duro na infância. Era cuidado pelos irmãos em casa, já que a mãe passava o dia na rodoviária como servente. Aos três anos, sofreu queimaduras em um acidente doméstico, e o médico disse que iria morrer. Sobreviveu. Aos cinco, foi sequestrado, mas voltou aos braços da mãe. Aos 10, caiu de uma árvore, teve uma hemorragia interna e perdeu um rim. Começou na canoagem um ano depois.

No início, era uma brincadeira. Mas viu que poderia ser profissional. Treinou, treinou, treinou e, somado ao talento inato, se tornou um vencedor. Hoje, é "fominha de medalhas". 

- A gente sempre quer, né? Eu cheguei aqui no Canadá para ficar com três ouros. Consegui no C1 1000m e C1 200m, e no C2 1000m não deu. Meus parceiros achavam que eu era capaz de conseguir três ouros, mas com uma prata e dois ouros estou muito satisfeito.

Ele ainda quer chegar mais longe. O sonho, claro, é ser campeão olímpico nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. O Brasil já tem três vagas garantidas (no C1 1000m, K1 1000m e K1 500m).

Teoricamente, a primeira é de Isaquias. A Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), vai divulgar uma lista oficial mais perto dos Jogos Olímpicos, baseada em índices técnicos. A seleção, contudo, pode se classificar para mais provas no Campeonato Mundial de canoagem de velocidade e paracanoagem em Milão, na Itália, de 19 a 23 de agosto.

01

o DIA EM WELLAND

Edson Isaias, com a medalha de prata conquistada no K1 200m (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)Edson Isaias levou a prata no K1 200m (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)

O Brasil iniciou o dia com um sexto lugar em Welland, mas logo depois se recuperou e conquistou uma prata. As irmãs Beatriz e Ana Paula Vergutz disputaram o K2 500m, se esforçaram bastante, mas terminaram com o tempo de 1m53s152. A vitória foi das cubanas Yusmari Mengana e Yurieni Guerra. A Argentina ficou com a prata, com Sabrina Ameghino e Alexandra Keresztesi. Karina Alanis e Maricela Montemayor, do México, foram terceiro.

Edson Isaias da Silva foi bem no K1 200m. Fez o tempo de 36s239, atrás apenas do canadense Mark De Jonge, com 35s733, e levou a segunda colocação. Uma surpresa, segundo ele, já que seu tempo das preliminares foi o terceiro melhor. Cesar de Cesare, do Equador, levou o bronze, com 36s431. Da área de imprensa, jornalistas e membros da delegação do Brasil chegaram a comemorar, achando que ele tinha ficado na frente.

- Essa prata é merecida porque, se formos ver, temos medalhistas olímpicos aí. É por detalhes, não dá para dizer quem é favorito, mas no domingo eu não era favorito, entrei com o terceiro melhor tempo e hoje, olha aí, esse resultado para o Brasil. Isso mostra ao povo brasileiro que a canoagem está em alta.

Valdenice Conceição terminou em terceiro no C1 200m (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)Valdenice Conceição terminou em terceiro no C1 200m (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)

Valdenice Conceição também medalhou para o Brasil. No C1 200m, chegou ao terceiro lugar no pódio com o tempo de 53s143. Em primeiro, a canadense Laurence Vincent Lapointe, com 49s685, e Anggie Avegno Salazar, do Equador, cravou 51s998, o que lhe garantiu a prata. Pouco depois, Edileia Matos dos Reis competiu no K1 200m para mulheres. Ela fez o tempo de 46s074, ficando em quinto. A prova foi vencida por Yusmari Mengana, com o tempo de 42s946.

Mas ainda havia tempo para mais uma medalha do Brasil na canoagem. Na categoria K2 200m, que encerrou as disputas da modalidade em Toronto, Hans Mallmann e Edson Isaias terminaram na terceira posição, com o tempo de 34s345. Logo atrás chegaram os canadenses Mark de Jonge e Pierre-Luc Polin, com 34s350. Para a organização, no entanto, a diferença de tempo não foi suficiente para separar os rivais, e as duas duplas ficaram com o bronze.

Hans Mallmann e Edson Isaias comemoram muito o bronze na K2 200m (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)Hans Mallmann e Edson Isaias comemoram muito o bronze na K2 200m (Foto: Divulgação/Confederação Brasileira de Canoagem)