O dia 31 de julho de 2014 marcou oficialmente a despedida de Ronaldinho
Gaúcho do Atlético-MG. Numa entrevista coletiva emocionada na Cidade do
Galo, R10 anunciou o fim de seu ciclo com a camisa alvinegra.
Apesar da saída antes do término de seu contrato - válido até o fim de 2014 -, ele deixou o nome eternizado
na história do clube com a conquista de um Estadual, da Recopa e,
principalmente, da Libertadores, maior título da história do Galo. Foram 88 jogos e 28 gols numa passagem de
pouco mais de dois anos. Hoje no Fluminense, ele deixa
saudades entre os torcedores alvinegros, em especial a alguns que
conviveram, de perto, com o ídolo em Lagoa Santa, na região
metropolitana de Belo Horizonte, local em que o craque morou durante sua estadia por Minas.
Na data que marca um ano sem R10 no Galo, o GloboEsporte.com visitou a antiga casa do jogador, falou com
funcionários que conviveram com o meia, além de "fornecedores", vizinhos e amigos, a fim de buscar “causos” envolvendo a passagem do jogador pelo estado, não antes conhecidos pelo público. Nem todos os entrevistados
quiseram se identificar, por terem uma relação de amizade com o jogador,
mesmo que a distância. Confira outras histórias protagonizadas por Ronaldinho Gaúcho, em Minas Gerais.
festas em casa
Das diversas pessoas ligadas a R10 ouvidas pela reportagem, a maioria relatou situações parecidas: Ronaldinho sempre
fez churrascos com um número reduzido de pessoas: 15. Festas de
arromba foram apenas duas, nos dois aniversários comemorados
pelo meia em Minas Gerais. Nada de bebedeiras apoteóticas recorrentes ou
megaeventos que tiravam o sono dos vizinhos. A agitação era substituída por constantes reuniões,
principalmente nos dias de semana.
- Não temos nada a reclamar dele. Só uma vez o som estava um pouco mais
alto, aí o encarregado de segurança foi lá, conversou e abaixaram. Era
uma pessoa que entrava para a casa dele, fazia umas festinhas lá dentro
mesmo, mas sem atrapalhar ninguém – resumiu
Lidiane Silva, funcionária do condomínio.
Apesar da pouca badalação relacionada a festas, pelo menos um “causo”
marcou funcionários e moradores do Condomínio das Amendoeiras. O
porteiro Renílson Abreu relembra uma história que lhe foi contada, envolvendo
um dos convidados de Ronaldinho. Depois da festa,
ele foi parar com o carro dentro d’água.
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- Eu não presenciei, mas foi à noite. Um convidado entrou, foi na festa,
bebeu e, na saída, errou o trajeto. Em vez de seguir pela avenida, virou
para o clube, estava manguaçado mesmo. Aí, lá embaixo, tem um
pesque-pague, ele tentou virar, mas não conseguiu.
Um dos vigilantes que rodam à noite passou lá, viu aquele movimento, ele
tentando tirar o carro... Veio outro carro da segurança e o rebocou. O
convidado estava bem embriagado mesmo, mas foi só isso de anormal nessa
época aí, além das baguncinhas deles lá.
O resto foi tranquilo.
A opinião dos vizinhos mais próximos é um pouco diferente dos
funcionários do condomínio. Mas hoje, sentindo a ausência do craque,
eles admitem que Ronaldinho faz falta.
- Na época, tinha um pouco de barulho, sim, chegava a incomodar. Mas, como
ele era um cara humilde, que sempre atendia pedidos de autógrafos e era
atencioso com as crianças, a gente hoje até sente saudade. Mas que
tinha o som um pouco alto, isso tinha, e não
tinha hora e nem dia para eles se reunirem na casa do Ronaldinho –
explicou Carlos Salgado, ex-vizinho de R10.
duelo de mc's, amor ao galo e diferenças com o rio
Apesar de sempre reunir pessoas em sua casa, são poucos os registros
fotográficos da época, tampouco filmagens. Segundo os frequentadores,
não havia nenhuma relação com o que ocorria nos tempos de Flamengo, no
Rio de Janeiro. Na capital carioca, a lenda conta
que os celulares dos convidados eram recolhidos e entregues na saída.
Por aqui, Ronaldo tornou-se mais liberal, sempre educado, mas, mesmo
assim, sem permitir a exposição excessiva. Caso algum celular registrasse
algo, logo um amigo ou segurança abordava a pessoa
e exigia que a foto fosse apagado. Caso contrário, rua.
- Diferente do que era no Rio, aqui não tinha essa de pegar o celular de
quem chegasse na casa para colocar num saquinho. O pessoal já ficava
mais à vontade, mas sempre que alguém ia tirar uma foto, alguém chegava
perto e mandava apagar, na moral. Se algum
convidado começasse a ficar muito empolgado e enchendo o saco, Ronaldo
já dava um toque nos seguranças e mandava vazar. As festas não tinham
quebradeira como se imagina, eram mais reservadas – revelou um amigo, que
também fazia o papel de segurança, mas que
preferiu não se identificar.
Com o ambiente seguro e tranquilo, R10 passou a mostrar um lado mais
extrovertido. Para uma
das confraternizações, a banda local No Flow foi contratada, mas, em
determinado momento, o jogador mostrou ser artista também com o microfone.
- A banda tem no repertório funk e rap e, em determinado momento, o
pessoal começou a fazer rimas improvisadas, que o pessoal chama de duelo
ou batalha. Do nada, o Ronaldo pegou o microfone, começou a mandar
algumas rimas e ganhou feio do adversário dele. Todo
mundo ficou espantado - disse Marcelo Barcelos, um dos músicos da banda.
Familiarizado com o ambiente e as pessoas, o jogador teria mostrado amor pelo Atlético-MG num discurso que
teria marcado quem estava presente.
- Quando cheguei no Rio de Janeiro, o Cristo (Redentor) bateu
continência para mim. Mas quando cheguei ao Atlético, que vi realmente o
que era uma grande torcida. Cheguei como comandante e agora sou só um
soldado do Galo – teria dito o camisa 10, segundo uma das pessoas ouvidas pela reportagem.
a fiel escudeira
Zilca é a governanta de Ronaldinho Gaúcho, que acompanha a família do
jogador há anos. É ela quem toma conta de tudo relacionado à casa do
jogador. Mas, em Lagoa Santa, Zilca recebeu o apoio
irrestrito e a amizade de uma fiel escudeira: Eva
Reias, dona de um empório na cidade, que vende todo tipo de
bebida, além de carnes especiais. A empresária conta como tudo começou.
- Um dia estava aqui na loja, e a Zilca ligou, se identificando como a
governanta do Ronaldinho. Ela estava perguntado qual tipo de serviços
oferecíamos e se eu poderia providenciar alguns produtos. No início,
achei até que era trote, mas, mesmo assim, peguei a
lista e levei a encomenda. Quando cheguei por lá, vi que realmente era
verdade. Quando eu estava colocando a mão na massa, carregando peso e
tudo mais, apareceu o Ronaldo. Ele foi simpático e, no bom mineirês,
perguntei se ele estava joia. Foi aí que ele caiu
na risada, e sempre que me encontrava por lá, nesses dois anos, perguntava
se eu estava joia, brincando comigo.
A lista elaborada por Zilca, por telefone, foi apenas o início do
contato entre elas. Segundo Eva, a relação ganhou em confiança, e ela
passou a tomar conta da logística dos churrascos. Além disso, chegou até a emprestar freezer para o jogador.
- Depois dessa primeira venda, adquiri a confiança de atender nos
eventos, no aniversário dele de 33 anos, de 34, e, diariamente, nos
churrascos que tinham lá. Ele tinha muitos amigos constantes, grupos de
15 pessoas, e passei a abastecer a casa dentro do que
me permitiam. Eu tinha liberdade de chegar na despensa mesmo, olhar o
que estava faltando e repor cada item. Depois eu até emprestei um
freezer para comportar o volume de cerveja. E, como atleticana, customizei-o todo com adesivos do Galo.
Com relação à cerveja, Eva guarda com carinho uma boa lembrança. Ela se orgulha de ter ajudado a apurar o gosto do jogador.
- Ele que me perdoe de estar falando assim, mas chegou aqui em Lagoa
Santa bebendo uma cerveja mais fraquinha. Achei estranho, depois ganhei mais
liberdade, comentei com a Zilca e ofereci a cerveja
mais encorpada. Depois, segundo a Zilca, ele disse que
não sabia que aqui tinha. A partir de então, deixei o freezer para eles
sempre cheio - explicou a empresária, que também comentou sobre o gosto do jogador por tequilas. Ela apresentou outra marca da bebida ao craque.
- Na hora, ele não se empolgou muito, mas, logo depois, as quatro garrafas que tinha levado estavam vazias – relembra.
Saudade de R10
Eva garante que sente falta da amizade que fez com todos que cercavam o
jogador e sonha revê-los um dia. Ela também não desmente que o lado
financeiro era muito bom, mas não revelou valores. Pelo que conta
outro funcionário, que sempre estava na casa de
R10, o gasto mensal com bebidas e carnes especiais superava os R$ 10
mil.
Churrascos
regados a picanha também eram constantes, mas ele não dispensava uma boa
feijoada. Feijão tropeiro, prato típico de Minas e
que geralmente agrada os visitantes, não entrou em sua lista de
preferências.
Outro item que não podia faltar era a costelinha, e teria sido
justamente ela a vilã para R10 em um dos churrascos. Logo após
encerrar o tratamento dentário, o dentista foi claro: nada de comer
alimentos duros por algum tempo. Ronaldinho não seguiu a recomendação à
risca, acabou prejudicando um dente e teve que ir às
pressas para resolver a situação.
- Não vamos contar a história do dente não, tadinho. A costelinha que
quebrou o dente, mas deixa isso para lá – desconversou Eva.
Mas é Ronaldinho quem escreverá uma nova história em seu currículo. Neste sábado, ele voltará a atuar em campos brasileiros, mas agora pelo Fluminense. Ele está confirmado para enfrentar o Grêmio, às 18h30 (de Brasília), no Maracanã.