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Jogadoras, técnico e dirigentes não vão à audiência sobre boicote no STJD

Auditor do processo que avalia ausências na seleção feminina decide até quarta se nova convocação será necessária. Gestor do Corinthians alega síndrome do pânico

Por Rio de Janeiro

Nem dirigentes, nem técnico, nem jogadoras. Todos as partes convocadas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STDJ) do Basquete a prestar esclarecimentos sobre o boicote à seleção  brasileira feminina no evento-teste para os Jogos de 2016 apresentaram justificativas para não comparecerem às audiências marcadas para esta quinta-feira. A convocação do STJD se deu depois que sete das 12 jogadoras chamadas por Antônio Carlos Barbosa para defender o Brasil na competição enviaram cartas com pedidos de dispensa: nove no total, sendo duas por lesão e sete por "razões particulares". 

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Gestor do Corinthians/Americana e um dos líderes do colegiado de quatro clubes da Liga de Basquete Feminino (LBF), que promoveu o boicote à seleção, Ricardo Molina apresentou uma justificativa acompanhada de um atestado médico, no qual alegou estresse devido à crise do basquete feminino e síndrome do pânico. Em conflito com a CBB e outros representantes do movimento, ele não atendeu às chamadas do GloboEsporte.com e apagou inclusive a sua página no Facebook, após um post polêmico e em tom irônico, no qual fez "elogios" à entidade máxima do basquete e às jogadoras pelo "exemplo de patriotismo" - em referência à Clarissa, dispensada pelo Corinthians/Americana depois do evento-teste. Os clubes alegam que a Confederação não dá ao basquete feminino a mesma atenção dada ao time masculino e reclamam da falta de planejamento visando as Olimpíadas. Eles ainda defendem a criação de um departamento para o basquete feminino na entidade e uma parceria entre os times e a CBB. 

Auditor responsável pelo processo, Paulo Valed Perry foi embora antes das 13h, já que todas as jogadoras apresentaram motivos para a ausência  (Foto: Carol Fontes)Auditor responsável pelo processo, Paulo Valed Perry foi embora antes das 13h, já que todas as jogadoras apresentaram motivos para a ausência (Foto: Carol Fontes)

Auditor responsável pelo processo no STJD, Paulo Valed Perry aceitou as justificativas apresentadas para as ausências no tribunal. 

- Ninguém está sendo, a princípio, acusado de nada. Era apenas para colaborar com a justiça para a gente apurar realmente se houve uma infração. (...) O código de Justiça Desportiva tem uma previsão das pessoas que não atendem sua convocação. Mas, evidentemente, se houver uma justificativa, esta pode ser aceita. E eu aceitei. Então, no momento, não há risco de ninguém ser denunciado porque não compareceu nessa oitiva (depoimento) - disse o auditor responsável pelo processo, Paulo Valed Perry.

Perry foi o único a comparecer ao local às 10h (de Brasília), horário marcado para ouvir os depoimentos do diretor de seleções, Vanderlei Mazzuchini, de Barbosa e Ricardo Molina. Vanderlei está em uma viagem aos Estados Unidos, ao lado do técnico da seleção brasileira masculina, Rubén Magnano, para conversar com jogadores da NBA; Barbosa, que recentemente foi submetido a uma cirurgia na retina, passou por outro procedimento médico nesta data para a retirada de um óleo no olho. Em breve, ele viajará pelo Brasil para acompanhar os jogos da LBF e, por isso, não poderia adiar o compromisso médico. Molina só entregou a justificativa para sua ausência nesta manhã, quando enviou uma petição acompanhada de um atestado médico, alegando estresse e síndrome do pânico. 

Barbosa diz que missão é recuperar autoestima e acredita que boicote chegou ao fim (Foto: Buda Mendes/Getty Images)Barbosa teve procedimento cirúrgico na retina e, por isso, não foi (Foto: Buda Mendes/Getty Images)

- Eu já estava com esse procedimento cirúrgico marcado há muito tempo. Como houve o evento-teste e eu terei de viajar pelo Brasil para ir aos jogos (LBF), não poderia remarcar, teria que fazer logo - contou Barbosa, que assumiu o comando da seleção feminina pela terceira vez. 

A audiência com as sete jogadoras que pediram dispensa do evento-teste estava marcada para às 13h, mas todas enviaram comunicados e justificativas de que não poderiam comparecer. Gilmara e Joice (Americana/Corinthians), Adrianinha, Tati Pacheco e Tainá Paixão (América de Recife), alegaram que suas equipes jogam hoje pela Liga de Basquete Feminino (LBF) (contra Presidente Venceslau e Maranhão, respectivamente), enquanto Jaqueline e Tássia (Santo André) disseram não ter recursos para arcar com a viagem ao Rio, visto que nem o STJD nem os clubes providenciariam as passagens.

Diante da ausência de depoimentos, Perry analisará até a próxima quarta-feira, dia 27 de janeiro, as evidências de que dispõe até o momento - principalmente, matérias e vídeos veiculados na imprensa sobre o caso -, para decidir se será necessário reconvocar dirigentes, técnico e atletas para prestarem esclarecimentos. Perry afirmou não ser possível prever se haverá qualquer punição às partes supostamente envolvidas no boicote. Caso haja, será uma suspensão. 

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entenda o boicote

A relação entre a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e o colegiado de clubes da LBF foi se deteriorando ao longo dos últimos anos. Os clubes alegam que a CBB não dá ao basquete feminino a mesma atenção dada ao time masculino. O estopim da crise ocorreu em novembro, quando a CBB não enviou seus principais dirigentes à festa de lançamento da LBF.

O colegiado exigiu que os seis técnicos que dirigem os clubes da LBF fizessem parte do departamento técnico da seleção. Em dezembro, pressionado, o técnico Luiz Augusto Zanon pediu dispensa do cargo da técnico da seleção - a justificativa oficial foi "preservar a saúde". Para tentar apaziguar os ânimos, a CBB contratou Barbosa como técnico e a ex-atleta Adriana Santos para o cargo de coordenadora da seleção feminina.

Clarissa basquete brasil sul-americano (Foto: Divulgação/CBB)Única a furar o boicote, Clarissa foi dispensada pelo Corinthians/Americana (Foto: Divulgação/CBB)

Como a entidade cumpriu apenas duas das solicitações do movimento, o colegiado manteve a crítica. Enquanto Molina preferiu sair de cena, outros dirigentes garantem que a luta pelo basquete feminino continua. Outro motivo que teria irritado Molina foi a contratação de Erika pelo América-PE, outra equipe ligada ao colegiado. O gestor do Corinthians/Americana teve interesse em fechar com a pivô, assim como o Maranhão Basquete e o Sampaio Basquete. 

- A luta continua, agora não só em relação ao colegiado. Vamos continuar defendendo o basquete. Atingimos alguns objetivos nossos, mas não todos. Infelizmente, a seleção brasileira perdeu uma grande oportunidade de discutir e aprimorar cada vez mais o basquete, trabalhando junto com a seleção, unindo o departamento técnico, físico e médico para evitar ou tratar lesões. O Barbosa tem uma boa relação com os técnicos da liga, e essa interação com ele pode ajudar na criação de planejamento único e um canal para discussão, avaliando, por exemplo, qual o melhor trabalho a ser feito com uma atleta para aprimorar o seu rendimento no clube, na seleção e no cenário internacional. Fizemos o nosso planejamento e apresentamos à Confederação. O trabalho em parceria com os clubes facilitaria muito. É muito importante termos um departamento - revelou Roberto Dornellas, treinador e gestor do América-PE. 

Dos clubes da LBF com atletas convocadas, apenas o Sampaio Basquete (MA) liberou jogadoras para defender a seleção no evento-teste. Assim, somente três da lista de 12 convocadas pela lista inicial se apresentaram: Iziane e Isabela Ramona, do Sampaio, e Clarissa, que furou o boicote apoiado por seu time, o Corinthians/Americana. Foi preciso convocação de emergência para a seleção se apresentar com 11 atletas. A 12ª e última a completar o grupo foi a ala Júlia Carvalho, que atuou na temporada passada pelo Santo André.