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A 100 dias do Rio 2016, crise política e problemas em arenas são gargalos

Indefinição na presidência, no entanto, não deve impactar muito na organização dos Jogos. Problemas em eventos-teste ligam alerta, e queda de ciclovia levanta suspeita

Por Rio de Janeiro

A cerimônia que marca os 100 dias para os Jogos, em Atenas, nesta quarta-feira, deveria contar com a presença do prefeito Eduardo Paes. Ele receberia a tocha olímpica do Rio 2016. No entanto, a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, semana passada, causando a morte de duas pessoas, obrigou o retorno do prefeito à capital carioca mal ele havia pisado na Grécia. Em vez da tocha, ele estará nesta manhã divulgando o plano operacional dos Jogos. Quem vai receber o símbolo olímpico é a presidente Dilma Rousseff, no dia 3 de maio. Ela, no entanto, poderá ser afastada pelo Senado dias depois. 

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É nesta atmosfera que o país e a cidade chegam à marca de 100 dias para os primeiros Jogos da América do Sul. Em meio aos resquícios da queda da ciclovia, um legado dos Jogos, e da crise política, 98% do Parque Olímpico está pronto, mas ainda é preciso concluir algumas arenas, atender às queixas de federações esportivas, monitorar os casos de zika e seguir a preparação para inimigos habituais dos Jogos, o doping e o terrorismo.  

OBRAS SUSPEITAS, ATRASADAS E CRITICADAS

Problema de energia no evento-teste natação; maria lenk  (Foto: Fabrício Marques)Quedas de energia no evento-teste da natação serviram para pressionar empresa de energia (Foto: Fabrício Marques)




A queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, no mesmo dia em que a chama olímpica era acesa na Grécia, manchou a imagem da cidade e lançou suspeitas sobre a qualidade das obras relacionadas diretamente ou indiretamente aos Jogos. O gerenciamento dos trabalhos no Parque Olímpico e em Deodoro tem como empresa responsável a Concremat, a mesma que construiu a ciclovia. Nesta segunda, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego informou que 11 operários morreram em construções ligadas ao Rio 2016. A Prefeitura contestou o número, afirmando que três casos não tiveram relação com obras dos Jogos. A falta de planejamento e o prazo apertado foram apontados como principais motivos. Dentre os 38 embargos determinados pelas fiscalizações da superintendência, um deles foi feito no velódromo, o que causou o cancelamento do evento-teste do ciclismo de pista. Na obra foram constatados problemas de segurança dos operários. A CPI das Olimpíadas será instalada esta semana na Câmara dos Vereadores com o objetivo de investigar os contratos entre o poder municipal e as empreiteiras.  

Arenas ainda incompletas
Velódromo - 85%
Arena Carioca 2 - 99%
Centro de Tênis - 92%

Em reforma
Centro de Tiro Esportivo
Centro de Hipismo
Maracanãzinho
Riocentro
Engenhão
Arena Olímpica
Estádio de Remo da Lagoa

 Confira o infográfico das obras olímpicas

Os recentes eventos-teste para os Jogos expuseram várias críticas de dirigentes de federações esportivas. Quedas de energia marcaram as disputas da ginástica e da natação, que ainda sofreu com o calor. Para o Comitê Rio 2016, que se vira para cortar gastos, os problemas na luz serviram para pressionar os fornecedores de eletricidade. Detalhes importantes do Centro de Tiro Esportivo, como o estande das finais, estavam incompletos. O Engenhão não ficará totalmente pronto para os eventos-teste do atletismo olímpico e paralímpico, em maio. Outros locais de competição que deveriam ter sido concluídos no fim do ano passado, como os centro de tênis e de hipismo, sofreram atraso depois que a empreiteira Ibeg foi afastada. No Maracanãzinho a cobertura passa por reforma.  

A obra mais cara dos Jogos, a linha 4 do metrô, que oficialmente chegou a R$ 9,7 bilhões, ficará pronta. Ela enfrentou dúvidas, atrasos, aumento de custo, crise econômica do governo estadual e dificuldade de empréstimo junto à União. De acordo com a Secretaria de Estado de Transportes, a obra está 93% concluída, e as cinco estações vão funcionar a partir de julho, um mês antes dos Jogos. Na Baía de Guanabara, seguem as instalações das ecobarreiras nos 17 rios que mais poluem as águas da disputa da vela. Este mês, foi inaugurado o cinturão que desvia o esgoto da Marina da Glória. 

CRISE POLÍTICA

Inauguração Estádio Aquático Parque Olímipico Rio 2016 Dilma Rousseff Eduardo Paes (Foto: Beth Santos / Prefeitura do Rio)Dilma na entrega do Estádio Aquático, ao lado de Eduardo Paes, Francisco Dornelles e Carlos Arthur Nuzman (Foto: Beth Santos / Prefeitura do Rio)



Na próxima terça-feira, dia 3 de maio, a presidente Dilma Rousseff recepcionará em Brasília a chegada da tocha olímpica ao país. Na semana seguinte ela poderá ser afastada provisoriamente do cargo pelo Senado, até o julgamento da acusação de crime de responsabilidade, as chamadas "pedaladas fiscais". Caso o vice Michel Temer assuma a presidência do país, cargos importantes no governo federal atrelados à organização dos Jogos Olímpicos deverão mudar, como o ministro do Esporte, com o interino Ricardo Leyser. Nome-chave na pasta, que sobreviveu ao ex-ministro George Hilton, o político do PC do B pode até permanecer para os Jogos, voltando a ocupar a secretaria de alto rendimento. No Comitê Rio 2016, uma troca de comando no país neste momento não causaria um impacto muito grande na operação dos Jogos. 

O Comitê Olímpico Internacional espera que em agosto a situação pelo menos se amenize para que a crise não tire o foco dos Jogos, ainda mais com a presença de cerca de 25 mil jornalistas na cidade. O momento do Brasil foi citado pelo presidente do COI, Thomas Bach, em discurso na cerimônia de acendimento da tocha, semana passada:

- Nestes dias difíceis que o Brasil está passando, a chama olímpica é a lembrança de que somos parte da mesma humanidade. 

Na mesma ocasião, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Rio 2016, chamou de desafiadores o momento pelo qual o país passa e as ondas surfadas pelo Movimento Olímpico.  

SEGURANÇA

Simulado de ação contra terrorismo rio 2016 (Foto: Danilo Borges / Brasil2016.gov.br)Simulado de ação contra terrorismo: experiências anteriores de grandes eventos (Foto: Danilo Borges / Brasil2016.gov.br)



Este mês a Agência Brasileira de Inteligência divulgou a ameaça terrorista ao Brasil de um integrante do Estado Islâmico. Secretário extraordinário de segurança para grandes eventos, Andrei Rodrigues se recusou a fazer comentários sobre o assunto. Ele conta com a experiência de eventos anteriores, como a Copa do Mundo e a Jornada Mundial da Juventude, e a experiência de profissionais de segurança em países habituados a lidar com o terrorismo e em grandes competições internacionais. 

A operação de segurança dos Jogos Olímpicos começa no próximo dia 3 de maio, com o início do revezamento da tocha. Serão 85 mil agentes, dentre policiais e militares, o dobro dos Jogos de Londres, e uma média de 8 agentes para cada um dos 10.500 atletas. Assim como o COI, profissionais da área esperam que o clima político fique mais ameno. Mas em caso de manifestações nas ruas o plano de ação já está pronto. Andrei minimiza uma possível mudança de comando no país: "O planejamento está validado não por pessoas, mas por instituições perenes. Por isso não há nenhum processo político. É estritamente técnico".

ZIKA 

Vírus da Zika fumacê sambódromo do rio de janeiro - Rio 2016 (Foto: Reuters)Agentes sanitários no Sambódromo: combate ao mosquito transmissor da dengue e da zika (Foto: Reuters)


A boa notícia foi dada nesta segunda-feira pela Organização Mundial de Saúde: a epidemia de zika no Brasil está regredindo. O fim do verão estaria relacionado à diminuição do número de casos, como haviam previsto autoridades sanitárias. No Rio de Janeiro foram 18 mil casos este ano até . Nos dois primeiros anos o noticiário foi contaminado pela ameaça do vírus. Cientistas chegaram a pedir o cancelamento dos Jogos. Países como a Zâmbia Atletas estrangeiros e brasileiros que estiveram na cidade disputando eventos-testes abusaram do repelente e alguns se protegeram com calças e camisas de manga cumprida. Delegações de outros países tomarão precauções para evitar o contágio através do mosquito aedes  aegypti. Telas serão colocadas nas janelas da Vila dos Atletas. O Comitê Olímpico do Brasil pediu à fornecedora de material esportivo uma camisa de manga longa especialmente para evitar as picadas.  
    
DOPING

Fabricação do Meldonium em laboratório (Foto: EFE/ARCHIVO/VALDA KALNINA)Fabricação do Meldonium em laboratório: substância pode deixar de ser proibida (Foto: EFE/ARCHIVO/VALDA KALNINA)



No dia 1º de janeiro deste ano o meldonium entrou na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada). A tenista Maria Sharapova disse que não sabia da proibição e foi flagrada por seu uso no Aberto da Austrália. O medicamento cardiovascular estaria em um remédio que ela usava há dez anos para suprir deficiência de magnésio. Cerca de 130 atletas do leste europeu já foram pegos no exame antidoping com o meldonium. A Wada suspendeu todos provisoriamente, mas pode reavaliar os casos, já que estudos não revelam quanto tempo a substância permanece na corrente sanguínea. A Rússia, país de Sharapova, é o principal envolvido no escândalo dos casos de doping da Federação Internacional de Atletismo, revelados em agosto do ano passado. O atletismo russo está suspenso preventivamente até 17 de junho, quando a Iaaf julgará o caso. O escândalo também atingiu atletas do Quênia e da Etiópia. 

No Brasil, a Agência Brasileira de Controle de Doping (ABCD) segue realizando testes surpresas em atletas com chance de medalha nos Jogos para evitar casos positivos no Rio 2016. Neste fim de semana foi confirmado o doping de Maria Elisa, reserva do vôlei de praia. Principal velocista do país, Ana Cláudia Lemos foi flagrada pelo uso de oxidrolona, mas apenas punida com uma advertência.