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Nelson Motta Nelson Motta
Nelson Motta Foto: O Globo

A opinião como patologia

Hoje até mendigos têm celulares, mas a Anatel fala em telefonia fixa. Vai investir em orelhões? Em internet discada?

Temos uma das piores e mais caras internets do mundo, somos 93º lugar entre as mais lentas. Mas acumulamos R$ 19,4 bilhões em impostos pagos por empresas e usuários ao Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), que a Anatel diz que só podem ser gastos com... telefonia fixa! Num tempo em que até mendigos têm celulares, com uma banda larga precisando de investimentos maciços, os caras vêm falar em telefonia fixa? Vão investir em orelhões? Em internet discada?

Ah, é a lei. Então mude-se a lei, porque foi mal feita (certamente para beneficiar algum grupo), e as necessidades mudaram, mudou o interesse público. Para isto existem parlamentares que têm informação e participação na legislação, no desenvolvimento e na liberdade da internet, que são vitais para a democracia. Os desconectados serão os analfabetos do futuro.

Mas, hoje no Brasil, analisar argumentos, pesar consequências, equilibrar pontos de vista com a realidade, e mudar de opinião... está proibido. É coisa de traíra, adesista, vendido. Se alguém muda de opinião, é logo suspeito de ter levado algum, de ter sido cooptado ou comprado: os acusadores medem os outros por eles mesmos. E nunca vão mudar de opinião: sobre os outros.

O psicólogo americano Leon Festinger (1919-1989) explica: “Diga que discorda, e ele lhe dará as costas. Mostre fatos ou números, e ele questionará suas fontes. Apele para a lógica, e ele será incapaz de entender seu raciocínio.”

Na sua famosa “Teoria da dissonância cognitiva”, ele mostra como “uma pessoa de convicções profundas se torna incapaz de mudar de opinião diante de contradições: é imune a evidencias e argumentos racionais.”

No Brasil, a teoria se confirma. Com velhos conceitos e métodos primitivos, querem interditar a circulação de ideias, em favor da militância cega e surda, baseada em fatos e teorias que já foram desmentidos, ou confirmados, pelo tempo e pela história.

Dissonantes cognitivos andam em bandos, se alimentam de verbas públicas e são fiéis ao erro, persistentes no autoengano e determinados em repetir fracassos. Seu habitat natural é o Planalto Central.

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