04/07/2015 21h19 - Atualizado em 04/07/2015 22h28

Flip: para Grillo e Osorno, modelo de proibição às drogas está falido

Jornalistas que atuam no México substituíram Roberto Saviano.
Italiano mandou mensagem em vídeo se desculpando por ausência.

Shin Oliva SuzukiDo G1, em Paraty

O inglês Ioan Grillo e o mexicano Diego Osorno, que participaram de mesa na Flip 2015 (Foto: Divulgação/Flip)O inglês Ioan Grillo e o mexicano Diego Osorno, que participaram de mesa na Flip 2015 (Foto: Divulgação/Flip)

A difícil missão de substituir quem era aguardado como principal atração desta Flip 2015, o italiano Roberto Saviano, foi muito bem cumprida pelo jornalista inglês Ioan Grillo e o mexicano Diego Osorno, que denunciam em seus trabalhos os horrores da guerra do narcotráfico no México. Com ricas informações sobre a situação no país, ambos concluem que o atual modelo em relação às drogas, baseado na proibição, está falido e só ajuda a alimentar a indústria ilegal e a violência rampante na América Latina.

 

Antes de Grillo e Osorno falarem neste sábado (4) em Paraty, foi exibido um trecho de um vídeo em que Saviano se desculpa pelo cancelamento de sua participação na Flip. "Sempre é comum na minha vida os planos mudarem de última hora e isso impediu minha ida ao Brasil", afirmou o jornalista italiano. O vídeo na íntegra será exibido no domingo (5), na mesa de encerramento da Flip.

A primeira parte do debate foi dedicada aos relatos de como operam os cartéis mexicanos em relação à cultura de violência.

Para Osorno, que escreveu diversos livros sobre o tema, como "La guerra de los zetas" (2012) e vencedor do Prêmio Latino-Americano de Jornalismo sobre Drogas, "o narcotráfico não enfrenta o estado, ele usa o estado", uma das várias referências sobre como os cartéis mexicanos estão entranhados em vários níveis da sociedade local.

O mexicano diz que o caso dos 43 estudantes desaparecidos, que ganhou as manchetes do mundo, é só apenas uma parte dos milhares e milhares de casos de assassinato e tortura relacionados aos cartéis mexicanos e ignorados nos outros países.

Assassinato e tortura
Ele relata a impressionante história de integrantes do cartel dos Zetas, um dos mais poderosos do país, que resolveram fugir com US$ 8 milhões e vender informações sobre a organização criminosa para a polícia norte-americana. Em retaliação, 300 pessoas que tinham relações com esses membros, como amigos e parentes, foram brutalmente assassinadas.

Grillo, que trabalha com questões relacionadas à América Latina desde 2001 e é autor de "El Narco: inside Mexico's Criminal Insurgency" (2012), declara que a cooptação de jovens, que se tornam soldados dessas organizações criminosas desde cedo, possibilitam a criação de "máquinas de matar", insensíveis e capazes de atrocidades como decapitação e mutilação sem que sejam "pessoas com problemas mentais e sim normais".

Osorno criticou também a espetacularização na mídia da tática dos cartéis, com a divulgação de imagens de corpos, e citou um telejornal que exibia gráficos com as cidades com o maior número de assassinatos, "como se fosse uma competição de quem tinha mais mortos".

Mudança de modelo
O inglês Grillo diz que "nós temos que mudar a política para drogas. A proibição não está funcionando. Nós estamos vivendo um momento histórico, o debate sobre o tema está mais presente". Ele diz que as drogas são proibidas em lugares como EUA, mas são facilmente encontráveis.

O mexicano concorda e diz que caminhamos para uma mudança. Mas ressalta que o México e alguns outros países da América Latina ainda são reféns das decisões de Washington e não podem decidir por si próprios como adotar diferentes estratégias.

Ele afirma que há uma grande chance para isso na Assembleia Especial da Organização das Nações Unidas marcada para o ano que vem, citando também os esforços do grupo de ex-presidentes como o brasileiro Fernando Henrique Cardoso para alteração das atuais políticas.

Grillo diz que é preciso legalizar a maconha e depois começar a discutir a abordagem em relação à cocaína, já que essa droga fornece lucros imensos às organizações criminosas.

Em meio a tantas questões sérias, o único sorriso foi dado pela plateia quando o jornalista inglês, ao citar músicas de exaltação a traficantes, tentou pronunciar "funk proibidão" sem muito sucesso.

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