04/07/2015 23h04 - Atualizado em 05/07/2015 00h08

Arnaldo Antunes e Karina Buhr fazem cantoria e 'poema-jingle' na Flip 2015

Músicos e poetas, eles foram aplaudidos de pé; público cantou junto no fim.
Cantora levou pandeiro para mesa lotada na noite deste sábado (4)

Cauê MuraroDo G1, em Paraty

Karina Buhr, com o pandeiro aos pés, e Arnaldo Antunes, durante a mesa 'Desperiçando verso' neste sábado (4) na Flip 2015 (Foto: Divulgação)Karina Buhr, com o pandeiro aos pés, e Arnaldo Antunes, durante a mesa 'Desperiçando verso' neste sábado (4) na Flip 2015 (Foto: Divulgação)

Teve até pandeiro – possivelmente o primeiro da história da tenda dos autores. E, no fim, teve cantoria generalizada, no palco e no público, passinhos marcando o ritmo etc. Arnaldo Antunes e Karina Buhr recitaram poemas com trechos cantados à capela e foram aplaudidos de pé na mesa “Desperdiçando verso”, que encerrou a programação deste sábado (4) na 13ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

 

O número final foi ideia da mediadora, Noemi Jaffe. Ela convocou todos a repetirem um poema-mantra, ou poema-jingle, nas palavras de seu criador, Arnaldo Antunes. O verso era "agora aqui ninguém precisa de si", título do livro que o cantor, compositor e poeta acaba de lançar. Ele havia inventado uma melodia inspirada em cantos indianos e colocou na trilha de um vídeo de divulgação da obra. Cantaram ele e a plateia. 

Sintoma da eficácia do jingle: na escada que levava até a saída da tenda, já tinha gente entoando que "agora aqui ninguém precisa de si". Num bar ali perto, mesma coisa.

Feminismo e bom humor
Tendo publicado recentemente seu primeiro livro de poesia, "Desperdiçando rima", Karina Buhr agradou os presentes também pelo bom humor. Além de pioneira na introdução do pandeiro (o instrumento era dela), foi a primeira participante da Flip 2015 a comentar que a "mesa" do evento é, na verdade, feita apenas de cadeiras. O povo gostou e riu junto. 

Parecendo um pouco tensa, Karina dava bastante risada. Mesmo na hora de falar sobre sua militância feminista. Era um pedido da mediadora, que leu uma das colunas que a cantora assina numa revista. Começava assim: "Seja puta na cama, seja gostosa entre as gostosas".

"Assim, eu adoraria não precisar dizer: 'Sou feminista'. Mas tem que dizer, porque é uma agonia danada isso. Está muito longe de as coisas ficarem tranquilas pra gente. É também por necessidade, por essa coisa de todo dia ter coisas que barram, um monte de quebra-mola. E você cansa, desiste de um monte de coisa."

Ela se lembrou, então, de quando um figurino usado num show fez uma fã implicar. "Ela queria gostar do show, mas não estava gostando, porque eu estava de maiô e ficava rebolando." Karina diz que tem "preguiça" deste tipo de abordagem.

"Odeio cartilha, regra para se seguir. [O feminismo] Tem coisa boa mas tem coisa ruim, tem policiamento. Claro que tem que analisar o que você vê e o que você ouve, mas eu morro de medo de ter que explicar a poesia que fez, explicar a ironia. Tenho medo de a gente chegar num ponto em que vire um policiamento total."

Outro aplauso veio quando a mediadora perguntou, a partir de um poema, algo sobre Karina pensar "se está tudo para alugar". A resposta: "Acho que sim, né? Não pode ser puta, a gente aluga".

Momento Jô Soares
Apesar de menos expansivo que a colega de debate, Arnaldo Antunes foi bem recebido. Ele é mais articulado e direto ao falar de seus poemas: "Acho que a poesia é um veículo de resistência à estagnação da sensibilidade".

Quando cantou "Socorro", com letra de Alice Ruiz, teve palmas e assobios. E sua leitura-cantada de "Que me continua" (a voz dele soa daquele jeito mesmo), já no final, foi impressionante.

Assim que Arnaldo concluiu, Noemi avisou que o tempo da mesa tinha se esgotado. E todo mundo, plateia inclusive, fez um "aaah" que lembrou programa do Jô Soares quando a entrevista é aprovada. A fila de autógrafos lá fora estava bem grande.

 
 
 
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