05/07/2015 00h19 - Atualizado em 05/07/2015 01h44

Povo grego decide futuro do país em referendo neste domingo

Eleitores respondem se aceitam ou rejeitam acordo proposto por credores.
Resultado da consulta deve ser conhecido por volta das 15h.

Do G1, em São Paulo

Gregos protestam pelo "sim" em manifestação nas ruas de Atenas, na sexta-feira (3) (Foto: Reuters/Marko Djurica)Gregos protestam pelo 'sim' em manifestação nas ruas de Atenas, na sexta (3) (Foto: Reuters/Marko Djurica)

O povo grego vai às urnas neste domingo (5) em um referendo que pode resultar na saída do país da zona do euro. Os eleitores vão responder se aceitam ou rejeitam as exigências dos credores da Grécia em troca de ajuda para pagar sua dívida. A votação começou às 7h (1h pelo horário de Brasília) e o resultado deve ser conhecido por volta das 15h.

 

Manifestantes tomaram conta de Atenas nos dias que antecederam a votação, mostrando o país dividido entre os que defendem as reformas impostas à Grécia e os que recusam as medidas. Houve tumultos e a polícia chegou a intervir com gás lacrimogêneo.

Na sexta-feira, uma pesquisa do respeitado instituto Alco para o jornal Ethnos mostrava uma pequena vantagem dos defensores do acordo, mostrando o "sim" com 44,8% contra 43,4% para o "não". Mas a vantagem fica dentro da margem de erro de 3,1 pontos percentuais, e 11,8% dos entrevistados disseram que ainda estavam indecisos, segundo a Reuters.

O que o referendo vai perguntar?
A consulta quer saber se os eleitores aceitam o acordo proposto pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 26 de junho. Dividido em duas partes, o acordo exige uma série de reformas para cortar gastos e aumentar a arrecadação. Os gregos terão que escolher entre duas respostas: não ou sim. Para os principais líderes europeus, a pergunta é outra: se a Grécia deve ou não ficar na zona do euro.

Referendo na Grécia (Foto: Arte/G1)

Quais são os termos do acordo?
Os credores pedem que os gregos cortem benefícios de aposentadorias e pensões e aumentem impostos para melhorar a saúde financeira do país. Os pontos centrais da proposta são a ampliação do imposto IVA e uma redução drástica no número de pessoas que podem optar por uma aposentadoria antecipada. Os credores também exigem ações para reduzir a evasão fiscal e acabar com a corrupção. Só assim vão liberar a ajuda de € 1,8 bilhão que Atenas precisa para pagar uma parcela de sua dívida com o FMI – e que venceu no dia 30 de junho.

O que pensa o governo grego?
O partido que ocupa o poder na Grécia não aceita as condições impostas no acordo, alegando que as medidas são "humilhantes", pouco eficazes e penalizam a população. Na sexta-feira, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, fez um pronunciamento na televisão apelando aos gregos para votar pelo "não", rejeitando o que chamou de "chantagem" e "ultimato" por parte dos credores.

Cédula de votação do referendo deste domingo (5) (Foto: Reprodução)Cédula de votação do referendo deste domingo (5)
(Foto: Reprodução)

E se o "sim" vencer?
Tsipras disse que respeitará a decisão do povo se houver vitória do "sim", mas não ficará no governo para implementar a proposta do Eurogrupo. O ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, também assegurou que se o "sim" vencer renunciará e não assinará o que qualificou como um "acordo hipócrita", que não aborda questões-chave como a sustentabilidade da dívida. A Grécia possivelmente passará por um novo episódio de instabilidade política se aceitar os termos do acordo.

E se o "não" vencer?
O porta-voz do governo da Grécia, Gavriil Sakellaridis, afirmou na quinta-feira que uma vitória do "não" permitirá voltar à mesa de negociações para conseguir um acordo em melhores condições. Mas se esse acordo não sair, a Grécia pode ser expulsa da zona do euro por calote. A saída do país da unidade monetária permitirá que a Grécia volte a controlar sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações. Mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.

A Grécia vai sair do euro na vitória do "não"?
Ninguém sabe ao certo. Não existe uma regra e até o vice-presidente do Banco Central Europeu, Vitor Constancio, disse em abril que não havia qualquer lei que determine a expulsão da zona do euro em caso de calote. O governo grego insiste que não está tentando abandonar a moeda e até insinuou que poderia iniciar processos legais caso os outros países da zona do euro tentem expulsar a Grécia. Se o Banco Central Europeu decidir bloquear completamente o crédito para Atenas, as autoridades gregas não teriam mais opção a não ser começar a imprimir sua própria moeda para tentar manter a economia funcionando.

O que diz o FMI?
O Fundo disse que considera a dívida da Grécia "insustentável". Em documento publicado após a Grécia deixar de pagar uma parcela de sua dívida, o FMI apontou que o país precisa de ao menos € 50 bilhões até 2018 para conseguir fechar as contas. Segundo o fundo, mesmo que a Grécia aprove o plano dos credores no referendo, o país precisará de uma nova ajuda nos próximos três anos. Do total, ao menos € 36 bilhões teriam de ser financiados com recursos europeus. Hoje, a dívida grega supera € 300 bilhões.

 O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, discursa pelo não no centro de Atenas, nesta sexta (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis) O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, discursa pelo não no centro de Atenas, nesta sexta (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)

 

Manifestantes reúnem-se no centro de Atenas antes do referendo sobre o futuro da economia grega, nesta sexta-feira (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)Manifestantes reúnem-se no centro de Atenas antes do referendo sobre o futuro da economia grega, nesta sexta-feira (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)

RESUMO DO CASO- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
- Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
- Na última terça-feira (30), venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro.
- Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro.
- Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados nesta semana para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
- A Grécia depende de recursos da Europa para conseguir fazer o pagamento ao FMI. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu nesta terça-feira.
- O governo grego apresentou uma nova proposta de ajuda ao Eurogrupo, grupo que reúne ministros da União Europeia, fazendo concessões, mas rejeitando algumas das medidas de cortes mais duras.
- O primeiro-ministro grego convocou um referendo para domingo (5 de julho). Os gregos serão consultados se concordam com as condições europeias para o empréstimo.
- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.

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