Pacientes reclamam de longa espera no Hospital Rocha Faria

Municipalizada há um mês, unidade ainda tem problemas no atendimento

por Márcio Menasce

Mais de duas horas de espera na triagem do Rocha Faria - Márcio Menasce / Agência O Globo

RIO - Enquanto cerca de cem blocos arrastavam multidões em vários bairros da cidade, várias pessoas também se aglomeravam, ontem, em Campo Grande, mas nenhuma sorria como os foliões que desfilavam pelas ruas. Boa parte delas encarava mais de duas horas de espera no Hospital Rocha Faria, cuja gestão foi transferida do estado para o município um mês atrás.

A principal queixa de quem foi impedido de curtir o último dia de carnaval por problemas de saúde era o longo tempo de espera para passar pela classificação de risco. Alguns pacientes que entraram no hospital no início da manhã reclamavam que, ao meio-dia, ainda não haviam sido atendidos. Socorro rápido, só para quem chegava em ambulâncias.

Horas na sala de espera

— O atendimento está péssimo. Esperei quase três horas até me chamarem para uma triagem com uma enfermeira. Estou com muitas dores pelo corpo e febre. Não sei se é dengue, zika ou outra doença do tipo. Pelo jeito, como não sou um paciente em estado grave, ainda terei de aguardar um bom tempo para ser examinado por um médico — lamentou o pintor Elias Gonçalves, de 40 anos.

O securitário Jorge da Costa Silva, de 64 anos, enfrentava situação semelhante. Ele procurou o Rocha Faria por causa de uma forte dor no pulso esquerdo, mas, após duas horas, ainda não tinha se levantado de uma cadeira na sala de espera.

— Sequer passei pela classificação de risco. Vim procurar um ortopedista, mas não fui chamado para nada, nem mesmo um enfermeiro me recebeu — reclamou Jorge.

Sem dobrar as pernas

A terça-feira de carnaval também não foi como o autônomo Paulo Pires, de 64 anos, esperava. Ele foi ao hospital com o filho André Luís Pires, de 37 anos, que é portador de necessidades especiais e estava com feridas pelo corpo. A agonia do pai era grande, e comovia quem acompanhava de perto sua preocupação.

— André não fala, não consegue explicar o que está sentido. As pernas estão tão inchadas que não dobram e, por isso, não pude trazê-lo de táxi, tivemos de pegar um ônibus. Já estamos esperando atendimento há duas horas e sequer passamos pela triagem — disse Paulo, esforçando-se para não chorar.

Paciente perdida

Já Cláudio Santos reclamava de um outro problema: a dificuldade para encontrar sua irmã, Shirley de Oliveira. Ela passou mal de madrugada e foi levada ao Rocha Faria por bombeiros. Mas, pela manhã, Cláudio não conseguia localizá-la.

— No sistema de cadastramento, aparecia que Shirley havia sido atendida e mais nada. Ninguém sabia onde ela estava. Percorri todo o hospital mostrando uma foto da minha irmã em meu celular. Cheguei às 6h, e só às 8h a encontrei, com a ajuda de um funcionário que a reconheceu, na sala verde da emergência. É muita desorganização. Como podem perder uma paciente? — reclamou Cláudio.

No último sábado, enquanto os secretários municipais de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho, e de Saúde, Daniel Soranz, visitavam o Rocha Faria para conhecer o novo ponto eletrônico biométrico, instalado para controlar os horários de funcionários, pacientes também formavam fila por atendimento na emergência. Na ocasião, a direção do hospital informou que, dos cinco clínicos gerais escalados para o plantão, dois haviam faltado, alegando problemas de saúde, e um chegou atrasado.

A Secretaria municipal de Saúde informou que, ontem, quatro médicos deveriam compor o plantão na emergência do Rocha Faria. Um faltou e foi substituído pelo coordenador do setor. Ainda segundo o órgão, a reclamação de Cláudio Santos é improcedente.

Salários com meses de atraso

O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, afirmou ontem que a longa espera para atendimento no Rocha Faria é decorrente da crise de recursos humanos da Organização Social (OS) que administra o hospital.

— A OS que saiu após a transferência de gestão deixou uma dívida trabalhista. A OS Therezinha de Jesus, que assumiu o serviço, deveria regularizar tudo, mas os médicos também levaram um calote dela. Resultado: ainda não receberam os salários de novembro e dezembro, que não foram pagos pela administração anterior. Isso está provocando um reflexo no atendimento, pois faltam profissionais. Esse projeto de municipalização veio para resolver o problema, mas a prefeitura entrou no Rocha Faria e acabou criando uma situação mais grave — disse Darze.

O presidente do sindicato afirmou que assumiu o compromisso de defender os médicos na Justiça do Trabalho e que apresentará esta semana uma ação para cobrar o pagamento dos salários atrasados.

Questionada sobre as afirmações de Darze, a Secretaria municipal de Saúde respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não procede a informação do Sindicato dos Médicos de que haveria dificuldade de lotação de profissionais”.