23/02/2016 12h55 - Atualizado em 23/02/2016 21h04

Morre paciente contaminado em mutirão de cirurgia de catarata no ABC

Aposentado está entre idosos que contraíram bactéria no fim de janeiro.
Famílias dizem que ao menos 15 pessoas perderam a visão após operação.

Do G1 São Paulo

Morreu um dos 21 pacientes que tiveram infecção após cirurgias de catarata em São Bernardo de Campo, no ABC, informou o SPTV nesta terça-feira (23). O aposentado Pelegrino Riatto, de 77 anos, teve uma parada cardíaca. Para a família, foi uma consequência da cirurgia nos olhos, já que por causa da infecção ele teve que ficar muito tempo sem tomar um remédio para evitar trombose. O paciente teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e complicações por causa da falta da medicação.

As cirurgias de catarata foram feitas no dia 30 de janeiro, no Hospital das Clínicas de São Bernardo. Depois disso, os pacientes tiveram infecção nos olhos. O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista, que agendou os procedimentos, disse que a infecção foi causada por uma bactéria, mas defendeu que o cirurgião capacitado para fazer as operações encaminhou os pacientes para tratamento assim que percebeu o problema.

Ainda segundo o instituto, os materiais usados nas cirurgias tinham registro na Anvisa e que foram esterilizados de acordo com o padrão do hospital. Em nota, a Prefeitura de São Bernardo do Campo lamentou a morte do aposentado e informou que o hospital encaminhou o corpo para o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), da cidade de São Paulo, para biópsia. O SVO deve emitir relatório sobre as causas da morte.

Perda da visão
O aposentado Expedito Batista é uma das vítimas da infecção após a operação. Ele decidiu fazer a cirurgia buscando maior qualidade de vida e continuar realizando uma de suas paixões, viajar de carro, como condutor. “Eu tinha 70% da minha visão. Entrei bem pra operar, pra melhorar. E perdi totalmente a visão do lado direito”, contou.

A perda da visão é definitiva, disseram os médicos que já operaram o aposentado mais duas vezes para combater a infecção por uma bactéria. Segundo informações recolhidas pelas famílias, pelo menos 15 pessoas perderam a visão e 10, o próprio globo ocular. Os parentes se organizam para processar o hospital.

Letícia Meikoga, filha de uma das vítimas, afirma que o grupo pretende entrar com uma ação pedindo indenização por danos morais, materiais e suporta para as famílias, além de medicamentos.

Marialda Alves Sampaio, também filha de vítima, representa uma das famílias que precisarão de ajuda a partir de agora. Ela contou que o pai dela, de 80 anos, era quem cuidava da mulher, também idosa. Mas agora, sem um dos olhos, a família terá de encontrar outra solução. “Nós trabalhamos, não podemos ficar lá o tempo todo. Eles vão precisar de um acompanhante. E quem vai ter que bancar esse acompanhante?”, questionou.

A Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo confirmou que de 27 pacientes operados no dia 30 de janeiro, 21 foram contaminados. A origem da contaminação ainda está sendo investigada. O contrato com a clínica particular, que atende no hospital de forma terceirizada, foi temporariamente suspenso.

A secretária da Saúde, Odete Gialdi, afirmou que o contrato com a clínica foi firmado em 2014. “No ano de 2015, essa mesma clínica realizou 945 cirurgias de catarata e não houve nenhuma intercorrência. Há um processo de investigação em curso. Nós não sabemos como essa bactéria entrou no centro-cirúrgico e como se deu a contaminação”, disse.

Segundo o oftalmologista Paulo Augusto de Arruda Melo, da Universidade Federal Paulista, todos os equipamentos e medicamentos usados nas cirurgias, como colírios e anestesias, devem ser examinados. Ele questiona a própria realização de cirurgias em larga escala, nos chamados mutirões. “Tem que se questionar a real necessidade de um mutirão de catarata numa cidade, num município desenvolvido encostado em São Paulo”, afirmou.

A Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo informou que está prestando todo o apoio às vítimas e seus parentes, o que inclui tratamento psicológico. A secretaria não quis informar o nome do médico e dos assistentes que participaram das cirurgias e disse que todas as informações estão sendo passadas para o Ministério Público e outras autoridades competentes.

Nota de esclarecimento - Prefeitura de São Bernardo do Campo
"A Prefeitura de São Bernardo do Campo, por meio da Secretaria de Saúde, informa que o senhor Pelegrino Foscher Riatto, 77 anos, foi encaminhado ao Hospital de Clínicas de São Paulo no dia 03/02/2016 para tratamento da infecção ocular. Já de alta deste procedimento, teve complicações relacionadas a doenças já existentes. O HCSP encaminhou o corpo para biópsia junto ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) do município de São Paulo, que deve emitir relatório sobre as causas do óbito. A Prefeitura de São Bernardo do Campo lamenta a morte do sr. Pelegrino e manifesta suas condolências aos familiares. A comissão de sindicância prossegue com o trabalho de investigação do evento adverso ocorrido durante cirurgias de catarata e o município reitera sua posição de dar ampla divulgação ao resultado das investigações, assim que estiverem concluídas. O relatório será encaminhado, na íntegra, ao Ministério Público e aos conselhos de classe. A Secretaria de Saúde informa que não há nenhum paciente internado no momento, mas todos que apresentaram infecção ocular continuam sendo monitorados, permanecendo sob avaliação e tratamento médico na rede pública de saúde e em serviços especializados. A Secretaria reafirma seu compromisso de continuar prestando toda a assistência e atenção aos pacientes e seus familiares, incluindo procedimentos de reabilitação, fornecimento de próteses e órteses, apoio psicológico e acompanhamento multiprofissional durante o tempo que for necessário." (23/02/2016)

Nota de esclarecimento - Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista
"O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista vem através dessa lamentar profundamente o falecimento do Sr. Pelegrino Focher Riatto. No momento, não temos como nos manifestar sobre o desenrolar do seu caso em particular, pois o paciente foi encaminhado à outra unidade e não temos acesso ao seu prontuário. Sem esse documento, não temos as informações técnicas e médicas do que houve com o paciente desde a sua entrada na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista está assistindo, atualmente, dez pacientes que estão sendo atendidos no Hospital de Clínicas de São Bernardo do Campo.
É importante destacar que o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista aguarda a divulgação do laudo da sindicância ainda em andamento. O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista reafirma que colocou à disposição da imprensa um representante." (23/02/2016)

 

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