Rio

PMs do Morro da Providência serão expulsos, diz Beltrame

Laudo mostra que jovem de 17 anos levou tiro à queima-roupa quando estava deitado

RIO — Ao comentar nesta quinta-feira, pela primeira vez, as imagens de policiais militares alterando a cena da morte de Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, no Morro da Proviência, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que os cinco PMs serão expulsos da corporação o mais rápido possível. O laudo de necrópsia, segundo revelou o jornal "Extra", diz que o jovem foi morto com um tiro à queima-roupa.

— A maneira que eu tenho para me desculpar com a população do Rio é colocando essas pessoas (policiais) na rua. Não há outra atitude a ser tomada, a não ser botá-las na rua de maneira rápida, através de um processo administrativo disciplinar. Cortar na carne nunca foi problema para a gente — disse o secretário.

'CENAS ABSURDAS'

Beltrame disse que os PMs flagrados no vídeo não podem participar do programa de pacificação.

— Eles têm que sair porque não são dignos de perfilar com policiais do naipe dos que estão aqui hoje — disse o secretário, referindo-se aos PMs que receberam, nesta quinta-feira, medalhas por terem se dedicado ao projeto das UPPs, durante uma cerimônia no Tijuca Tênis Clube. — O processo de pacificação engloba mais de nove mil policiais e 39 comunidades, onde mais de 1,5 milhão de pessoas são atendidas. Não serão quatro ou cinco pessoas travestidas de policiais que vão afetar um projeto que tem apresentado resultados. Sabemos que elas têm direito de ampla defesa, mas o que o flagrante das imagens mostra é insustentável. Elas serão expulsas por causa disso.

Fernando Veloso e Beltrame no Tijuca Tênis Clube Foto: Vera Araújo / O Globo
Fernando Veloso e Beltrame no Tijuca Tênis Clube Foto: Vera Araújo / O Globo

De acordo com Beltrame, as cenas gravadas por moradores — que mostram PMs colocando uma arma na mão do jovem ensanguentado e fazendo disparos — são “absurdas” e “intoleráveis”.

— Não é possível que isso ocorra num processo de pacificação. Num momento em que a polícia tenta diminuir o número de armas de destruição (fuzis) e se reestrutura para melhor atender a população, essas pessoas cometem um ato bárbaro, totalmente desastroso como esse, que causa repulsa em todos nós.

O laudo da necrópsia do jovem revela que Eduardo estava deitado quando foi baleado. O disparo de pistola teria dilacerado pulmões e coração da vítima. Além disso, marcas pelo corpo e costelas quebradas sugerem que ele foi espancado.

Apesar do episódio, Beltrame disse acreditar que as ações dos bons policiais vão prevalecer:

— Na maioria das UPPs, temos bons exemplos. Até na própria UPP da Providência. Um caso assim abala a credibilidade, mas estamos extirpando os maus policiais. Não vamos recuar.

Para impedir fraudes nos casos de autos de resistência, as Delegacias de Homicídios (DHs) vão assumir, a partir de agora, as investigações sobre mortes decorrentes de intervenções policiais. O anúncio foi feito nesta quinta-feira pelo chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso. Antes, só os casos de grande repercussão eram remetidos para as especializadas — a maioria ficava nas delegacias distritais. Veloso informou também que policiais novatos, aprovados no último concurso, vão atuar nesses novos casos. Segundo ele, inquéritos sobre homicídios antigos poderão ser revistos, desde que novas evidências surjam ou testemunhas procurem a polícia.

Como O GLOBO noticiou nesta quinta-feira, o número de mortes decorrentes de atividades policiais subiu nos oito primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014. Foi um aumento significativo: 17,9% no estado e 30,4% na capital. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP). Especialistas ouvidos pelo GLOBO disseram que a maioria dos casos não é investigada.

PARA ADVOGADO, 'UM ERRO'

De acordo com a defesa de quatro dos cinco PMs envolvidos na morte de Eduardo Felipe, não houve a intenção de alterar a cena do crime. Segundo o advogado Felipe Simão, o rapaz foi morto em tiroteio com a PM, pouco antes do momento registrado no vídeo:

— O que o vídeo não mostra é que o garoto foi baleado durante um intenso tiroteio. O registro mostra o momento posterior, quando o rapaz estava caído no chão. Naquele momento, ele já havia sido morto.

Ainda de acordo com o advogado, o policial que efetuou os disparos fez isso para destravar a arma, que seria do jovem.

— Ele viu que a arma estava com munições trepadas. Então, com medo de fazer o transporte da arma nessas condições, ele tinha que efetuar os disparos. Foi um erro, não um crime.

Simão ressaltou que, “por medo”, o policial efetuou o disparo com a mão do adolescente.

VÍDEO MOSTRA PMs ALTERANDO CENA DE CRIME