27/01/2016 07h28 - Atualizado em 27/01/2016 13h13

PF deflagra nova fase da Lava Jato que mira apartamentos da OAS

Suspeita é de que apartamentos serviram para empreiteira pagar propina.
Entre os crimes investigados estão corrupção e evasão de divisas.

Adriana Justi e Camila BomfimDo G1 PR e da TV Globo, em Brasília

A Polícia Federal (PF) cumpre a 22ª fase da Lava Jato na manhã desta quarta-feira (27) em São Paulo e Santa Catarina. Esta fase mira apartamentos da empreiteira OAS que, segundo investigações, podem ter sido usados para repasse de propina do esquema de corrupção da Petrobras.

A polícia tem 23 mandados judiciais para cumprir. Até as 11h30, dos seis mandados de prisão temporária, três haviam sido cumpridos. Dois investigados estão fora do país e um não foi localizado. Ainda há mandados em andamento.

Presos na 22ª fase
Nelci Warken
Ricardo Honório Neto
Renata Pereira Brito

Não tinham sido localizados até as 12h40
Maria Mercedes Riano Quijano
Ademir Auada
Luiz Fernando Hernadez Rivero

 

Os presos devem chegar a Curitiba no início da noite. Todos os investigados estão ligados à empresa Mossack Fonseca, segundo a polícia. O G1 tenta contato com os advogados.

Em São Paulo, a ação ocorre na capital, Santo André e São Bernardo do Campo. Em Santa Catarina, ocorre em Joaçaba.

A publicitária Nelci Warken, que prestou serviços de marketing à Bancoop, foi detida em São Paulo e levada para a sede da Polícia Federal na Lapa, na Zona Oeste.

Triplo X
Esta fase da operação foi batizada de Triplo X e tem como alvo suspeitos de abrir empresas offshores e contas no exterior para ocultar propina. Entre os crimes investigados estão corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Oitenta policiais participam da ação.

A Polícia Federal apura se a empresa Mossack Fonseca abriu offshores para esconder a propriedade de apartamentos de luxo em Guarujá, litoral de São Paulo, que eram da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e que, em 2009, foram assumidos pela OAS.

A suspeita é que as unidades teriam sido usadas para repasse de propina. Um desses apartamentos está no nome da empresa Murray, uma offshore aberta pela Mossack. A polícia apura indícios de fraudes na maneira como a Murray adquiriu o patrimônio. Uma linha de investigação aponta que o esquema ocultava os reais donos das offshores.

Policiais federais chegam com malotes da Operação Lava Jato na sede da PF em SP (Foto: Tatiana Santiago/G1)Policiais federais chegam com malotes da Operação Lava Jato na sede da PF em SP (Foto: Tatiana Santiago/G1)

As unidades investigadas ficam no condomínio Solaris, na praia das Astúrias. Um deles, segundo a PF, está ligado a familiares do ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Vaccari Neto. Vaccari, que já presidiu a Bancoop, foi preso pela Lava Jato em 2015 e está detido no Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

O Ministério Público Federal (MPF) investiga se um dos imóveis do Solaris teria sido reformado para a família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como noticiou o jornal "O Globo".

A empreiteira OAS participava do chamado "clube" de empresas que, por meio de um cartel, fraudava as licitações da Petrobras, segundo o MPF. Para conquistar os contratos, as empresas pagavam propina a diretores da Petrobras e a partidos políticos, com a intermediação de operadores.

A prisão temporária tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida em preventiva, que é quando o investigado fica preso à disposição da Justiça sem prazo pré-determinado. Os presos serão levados para a Superintendência da PF, em Curitiba.

Coletiva sobre a 22ª fase da Lava Jato (Foto: Adriana Justi/ G1)Representantes da Polícia Federal e do Ministério Público falam sobre a 22ª fase da Lava Jato (Foto: Adriana Justi/ G1)

21ª fase
Deflagrada em 24 de novembro e batizada de “Passe livre”, a 21ª fase prendeu o pecuarista José Carlos Bumlai sob a suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. O nome do empresário, que é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apareceu em depoimentos de delação premiada de Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, e do lobista Fernando Baiano.

Eduardo Musa relatou que recebeu US$ 720 mil de propinas em depósitos feitos em conta na Suíça, com pagamentos feitos por Fernando Schahin, ex-executivo do grupo Schahin. Além disso, o delator declarou que foi utilizado um argumento tecnicamente falso para o direcionamento da contratação da Schahin, pela Petrobras, para operar o navio-sonda Vitória 10.000.

Baiano afirmou que Bumlai recebeu R$ 2 milhões em propina. O dinheiro seria o pagamento em virtude da intermediação de Bumlai junto ao ex-presidente Lula para um contrato com a petrolífera.

Em novembro de 2015, Bumlai foi chamado a depor na CPI da Câmara para falar da suspeita de que teria intermediado empréstimo de R$ 60 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Banco Schahin, mas o pecuarista ficou em silêncio diante das perguntas dos deputados.

Após a 21ª fase, a PF também prendeu o sócio do banco BTG Pactual André Esteves. Ele é suspeito de planejar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O banqueiro já foi o 13º mais rico do país e cumpre prisão domiciliar desde dezembro do ano passado.

Além dele, também foram presos o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o chefe de gabinete dele, Diogo Ferreira, e o advogado Édson Ribeiro.