Política

Mujica diz que presidente ‘não é monarca’ e deve viver como a maioria do povo

Ao lado de Lula, ex-presidente do Uruguai afirmou que quem quer ganhar dinheiro não deve ir para a política

O ex-presidente do Uruguai, José Mojica
Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo
O ex-presidente do Uruguai, José Mojica Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo

SÃO BERNARDO DO CAMPO — Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador e ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica afirmou, neste sábado, que governantes e dirigentes políticos devem viver como “a maioria de seu povo”, e que os partidos não podem servir como balcão de emprego nem deixar os políticos enriquecerem. Um dos nomes mais destacados da esquerda latino-americana, Mujica também fez uma forte defesa dos partidos como pilares da democracia.

— A República não é uma monarquia. Não há que confundir um presidente com um monarca. Temos que entender que um posto importante não é outra coisa a não ser um voto de confiança do povo — disse Mujica, que ainda afirmou:

— Temos de lutar por partidos republicanos, onde ninguém é mais que ninguém e os dirigentes aprendem a viver como a maioria do país, e não como a minoria. Há gente que gosta muito de dinheiro, então que vá para o comércio, para a indústria, que multiplique a riqueza e que pague impostos.

As declarações foram feitas durante um seminário sobre participação social organizado pela prefeitura de São Bernardo do Campo, dirigida pelo petista Luiz Marinho, que mediou o encontro entre Mujica e Lula. O PT passa por um de seus piores momentos desde o escândalo do mensalão, com suspeita de receber propina de empresas contratadas pela Petrobras e com algumas estrelas estrelas acusadas de enriquecimento.

— A política é o sonho de que a gente viva melhor e não precisa de compensação material porque isso não tem preço. Nem tudo é mercadoria no mundo. Nem tudo se vende, nem tudo se compra — completou Mujica.

Depois de dizer que a “democracia requer partidos e não há democracia sem partidos”, Mujica alertou para o risco de polarização entre as classes sociais. Ele defendeu um “acordo nacional básico”.

— Quanto mais dura for a confrontação das classes sociais que operam em uma sociedade, mais difícil será a recuperação. Não se pode brincar com fogo.

Ele pediu à plateia, a maioria ativista ou dirigente de esquerda, “paciência e militância” e lembrou que “o único animal que tropeça com a mesma pedra é o homem”.

Assim como Mujica, Lula foi ovacionado diversas vezes no auditório lotado por cerca de 1,6 mil pessoas. O petista também falou que os políticos petistas devem dar o exemplo e não devem dizer que têm uma escola pública de qualidade se matriculam seus filhos em escolas particulares. Disse ainda que era um “único analfa” entre os presidentes brasileiros, que seriam todos professores universitários. Descontraído, o petista falou por mais de uma hora e por várias vezes chamou Mujica de “Pepito”. Ao falar de sua derrota para o governo do estado, em 1982, disse que ouviu conselhos eleitorais de Fidel Castro, ex-presidente de Cuba.

— O Fidel, que nunca tinha disputado uma eleição na vida dele, me deu conselho político eleitoral — riu Lula, contando que não tinha mais disposição para concorrer até que Fidel disse ser um grande feito a votação obtida por um metalúrgico (1,25 milhão de votos):

— Eu voltei entusiasmado, achando que era grande mesmo. Mas voltei pensando: Esse Fidel é um metido porque nunca disputou eleição nem para a juventude socialista e vem dar palpite.

Depois do evento, Mujica e Lula seguiram para um almoça na casa do prefeito Luiz Marinho.