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Berlusconi compra gigante editorial italiano

Mondadori, presidida pela filha do magnata, pagou € 127,5 milhões pela RCS
O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP
O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP

ROMA - O ex-primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi levou meses tentando tomar o poder do mercado editorial do país, e agora conseguiu. Depois de muitas negociações, a editora Mondadori, presidida por sua filha Marina Berlusconi, comprou outra grande editora, a RCS, por € 127,5 milhões. Pouco se comparado à fortuna de € 6 bilhões da família. Com o acordo, a Mondadori se torna um colosso editorial e passará a controlar 38% do mercado da Itália, além de ser responsável por 25% dos livros escolares.

“Um colosso destas dimensões assumiria um preocupante poder de barganha frente aos autores e teria uma influência determinante nas livrarias. É uma ameaça à liberdade de expressão”

Umberto Eco
Escritor italiano

A negociação se aproveitou das dificuldades ecônomicas por que passa o grupo RCS, que publica o jornal "Corriere della Sera", um dos maiores da Itália. A Mondadori já controlava quatro selos, e com o acordo passará a ter dez. Estima-se que o novo gigante editorial italiano vá faturar € 500 milhões por ano em um mercado que move € 1,2 bilhão.

Marina Berlusconi se esquivou das críticas de escritores italianos e estrangeiros — de Umberto Eco a Thomas Piketty, passando por Toni Servillo e Tahar Ben Jelloun —, que criticaram a compra da RCS pela família do ex-premier desde o início das negociações, no começo do ano.

“Um colosso destas dimensões assumiria um preocupante poder de barganha frente aos autores e teria uma influência determinante nas livrarias. É uma ameaça à liberdade de expressão”, criticou Umberto Eco, autor de “O nome da rosa”.

A aprovação dos órgãos que controlam a concorrência e o mercado no país ainda está pendente. A filha de Berlusconi classificou a compra como “um investimento significativo de uma grande empresa italiana em um setor nobre como o do livro”. Segundo ela, a editora dá, assim, “um passo crucial para ter maior solidez”, que também significa “um investimento no futuro do país”.

O mundo cultural teme deixar tanto poder nas mãos do controverso ex-chefe de governo que, por quase duas décadas, contribuiu com o empobrecimento moral da Itália. Entre os receios de escritores e intelectuais reside no fato de Berlusconi poder se tornar o maior censor da república, visto que o clã decidirá grande parte do que se publica no país.

O medo não é infundado, afinal Berlusconi já é dono do grupo televisivo Mediaset, com uma cota de mercado superior a 30%. Durante sua gestão à frente do conglomerado, ele foi condenado por fraude fiscal na compra e venda de direitos de exibição de filmes. Além disso, durante o período em que foi chefe do Executivo, Berlusconi também dirigiu os canais da Rai, a televisão pública italiana.

O magnata controla ainda 3,2 mil torres de transmissão e tenta ganhar o controle de todas as torres de sinal de TV do país. Longe da vida política e impedido de exercer cargos públicos, acredita-se que, com a compra da editora RCS, Berlusconi tente demonstrar o poder que ainda tem, provando continuar a ser um dos homens mais influentes do país.