Política

Collor chama Janot de ‘fascista’ e mostra vídeo sobre busca da PF em imóvel funcional

Denunciado na Lava-Jato, senador reclama de não ter prestado depoimento nos autos do processo

Na tribuna do Senado, Collor chama Janot de ‘fascista’ e mostra vídeo sobre busca da PF em imóvel funcional
Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo
Na tribuna do Senado, Collor chama Janot de ‘fascista’ e mostra vídeo sobre busca da PF em imóvel funcional Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo

BRASÍLIA - O senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTB-AL) fez novo discurso na tribuna do Senado nesta segunda-feira com ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamando-o de “fascista”. Collor foi denunciado na semana passada em um processo relativo à Operação Lava-Jato. O senador exibiu ainda um vídeo de cerca de dois minutos de um bate-boca na porta do seu apartamento funcional, alvo de busca e apreensão no mês passado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Collor defendeu ainda que seja rejeitada a recondução de Janot, a quem chamou também de "sujeitinho a toa".

- É esse tipo, sujeitinho a toa, de procurador-geral da Republica, da botoeira de Janot, que queremos entregar à sociedade brasileira? Possui ele a estabilidade emocional, a sobriedade que sempre lhe falta nas vespertinas reuniões que ele realiza na procuradoria? Possui ele a estabilidade emocional, repito, a sobriedade, o perfil democrático e mais do que isso, esta ele dotado da conduta moral que se exige para um cargo como esse? Não senhoras e senhores. Não me parece ser este o caso - afirmou.

No vídeo, procuradores e delegados da Polícia Federal impedem que integrantes da Polícia Legislativa do Senado entrem no apartamento. O diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, argumenta que como é um imóvel funcional o órgão que dirige deve acompanhar a diligência. Os investigadores refutam. Carvalho tenta forçar a entrada, enquanto os representantes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal impedem o acesso. No bate-boca, um dos investigadores empurra Carvalho.

– Se retire! O senhor não é objeto do mandado! – diz um dos investigadores.

– Estão causando nulidade no processo – responde o diretor da Polícia do Senado.

Collor leu ainda da tribuna relatórios dos representantes da Polícia do Senado nos quais eles destacam que a operação de busca começou as 5h40 da manhã e que haviam “placas frias” nos carros dos investigadores. O senador destaca ainda que os vigilantes foram impedidos de acionar a Polícia do Senado, sendo, inclusive, mantidos junto a investigadores para impedi-los de fazer o contato.

– A verdade é que infelizmente a equipe do senhor Janot pode às 5h40 da manhã, mesmo sem apresentar mandado judicial, pode arrombar um apartamento funcional e invadir a privacidade de qualquer senador. Hoje fui eu, amanhã pode ser qualquer um de nós. Até quando vamos permitir esse estado policialesco que a PGR pretende implantar? – questionou Collor.

O senador prosseguiu afirmando que Janot atua com arbitrariedade e abuso de autoridade. E chamou o procurador-geral de fascista:

– Trata-se afinal de um fascista. Trata-se o senhor Rodrigo Janot de um fascista da pior extração e cuja linhagem pode ser refletida nas palavras de Plutarco: “Nada revela mais o caráter de um homem do que seu modo de se comportar quando detém um poder e uma autoridade sobre os outros: essas duas prerrogativas despertam toda paixão e revelam todo vício” – afirmou Collor.

O senador chamou o procurador-geral ainda de “figura tosca”, repetiu acusações sobre a atuação de Janot à frente da PGR e afirmou que encaminhará todo o material sobre a busca no seu apartamento funcional à Mesa Diretora da Casa.

A Polícia Federal reiterou que o mandado e a diligência cumprida no apartamento funcional de Collor tinham caráter sigiloso. Por esse motivo, o mandado só poderia ser apresentado a um morador do apartamento ou advogado indicado pelo senador.

O 1º vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), afirmou que a Mesa Diretora do Senado precisa se inteirar sobre as informações trazidas por Collor. Ressaltou, porém, que é preciso se manifestar em defesa do servidor Pedro Carvalho. Não fez menções a Janot.

Collor afirmou que não rebateria o mérito da denúncia contra ele porque não teve acesso ainda. Criticou o fato de a denúncia estar protegida por segredo de Justiça. Reclamou também de dois depoimentos seus terem sido cancelados pelos investigadores, e a denúncia ter sido apresentada sem que fosse ouvido.

O senador tem feito diversos ataques a Janot nas últimas semanas na tentativa de criar embaraços para a recondução do procurador-geral, que será sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta quarta-feira. Ele apresentou um voto em separado no qual incluiu nos autos cinco petições que pedem a destituição de Janot, além de dois processos em andamento no Tribunal de Contas da União (TCU) sobre contratos firmados pela PGR. Na semana retrasada, em um dos pronunciamentos, Collor chegou a xingar Janot da tribuna.

O ex-presidente é investigado na Lava-Jato sob a acusação de recebimento de propina em contratos da BR Distribuidora. A PGR já estimou em R$ 26 milhões o montante recebido pelo grupo do qual Collor faz parte entre os anos de 2010 a 2014.