France Presse

05/11/2015 16h22 - Atualizado em 05/11/2015 16h27

Justiça dá início a megajulgamento contra rede de corrupção na Itália

46 acusados de pertencer à 'Máfia Capital deverão comparecer ao tribunal.
Rede se formou a partir de lucrativas licitações públicas de Roma.

Da AFP

O "megajulgamento" contra os supostos chefes de um bando de mafiosos com ramificações em quase todos os setores da prefeitura de Roma começou nesta quinta-feira (5) na capital italiana, um dia histórico para a luta contra o crime organizado.

No total, 46 pessoas deverão comparecer diante do tribunal, acusadas de pertencer à chamada "Máfia Capital", uma rede de criminosos, empresários, funcionários e políticos de todos os partidos que se formou a partir das lucrativas licitações públicas de Roma em setores-chave como imigração, refugiados, limpeza urbana e lixo.

A batalha judicial deverá determinar se a rede criminosa romana pode ser comparada à máfia siciliana Cosa Nostra, à Camorra napolitana ou à 'Ndranghetta calabresa ou se trata-se simplesmente de um grupo de criminosos. No caso de uma condenação por máfia, as penas são muito mais severas e a detenção deve ser cumprida em uma prisão de segurança máxima.

O prefeito de Roma, Ignazio Marino, em foto de 28 de julho (Foto: AP Photo/Gregorio Borgia)O prefeito de Roma, Ignazio Marino, em foto de 28
de julho (Foto: AP Photo/Gregorio Borgia)

O caso foi revelado em dezembro de 2014 com a prisão de 37 pessoas, entre eles vários políticos romanos de todos os partidos, tanto de direita como de centro e esquerda, alguns dos quais estão cumprindo prisão domiciliar. O escândalo repercutiu na recente saída do prefeito de Roma, Ignazio Marino (esquerda), acusado, entre outras coisas, de incapacidade para limpar a prefeitura.

Principal acusado
O principal acusado é o líder da rede criminosa, Massimo Carminati, ex-terrorista de extrema direita, com uma impressionante trajetória criminosa, mais conhecido como "O caolho" por ter perdido um olho em um confronto com a polícia.

"Este é um miniprocesso, manipulado pela imprensa", falou com tom depreciativo à imprensa o advogado de Carminati, Bruno Naso. Carminati quer "esclarecer muitas coisas e acreditem - ele o fará. Nesta história, o que mais o irrita é que seu nome seja associado à máfia e às drogas", defende seu advogado.

Bruno Naso, advogado de Massimo Carminati, é cercado por repórteres ao chegar no Palácio da Justiça de Roma para o julgamnto da 'Máfia Capital' nesta quinta-feira (5) (Foto: REUTERS/Yara Nardi)Bruno Naso, advogado de Massimo Carminati, é cercado por repórteres ao chegar no Palácio da Justiça de Roma para o julgamnto da 'Máfia Capital' nesta quinta-feira (5) (Foto: REUTERS/Yara Nardi)

Carminati e sua mão direita, Salvatore Buzzi, chefe de inúmeras cooperativas que trabalham para a prefeitura, deverão responder por associação mafiosa, corrupção, usura, extorsão e alteração de leilões.

Os dois encontram-se detidos em prisões fora de Roma e assistirão ao julgamento por meio de videoconferência por razões de segurança.

Para Lirio Abate, um repórter da agência italiana Ansa que teve que fugir da Sicília devido às ameaças de morte da máfia Cosa Nostra e autor da reportagem 'Os quatro reis de Roma', que despertou o fenômeno, declarou ao canal de notícias Rainews que Carminati "é um mafioso", um "chefe que usa violência, ameaças e pressões".

Outros nomes
Outros nomes conhecidos desta lista de funcionários corruptos que enriqueciam com o dinheiro destinado aos mais pobres são Luca Gramazio, representante na prefeitura do partido do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e Mirko Coratti, ex-presidente do conselho municipal de Roma e membro do Partido Democrático (PD, esquerda), no poder com Matteo Renzi.

"Reconheceu que recebeu quantias em dinheiro e vai responder por isso", anunciou o advogado de Luca Odevaini, um dos acusados mais importantes, já que era chefe da polícia municipal da capital.

"Não era uma máfia, porque a máfia em Roma investe em negócios legais, recicla dinheiro, intimida", explicou à imprensa.

Em junho deste ano, a procuradoria romana estendeu a investigação a outras 44 pessoas envolvidas em um complexo sistema de trocas de favores que incluía subornos, contratos de trabalho a parentes e amigos e doação de casas.

Os indignados do Movimento 5 Estrelas (M5S), segundo partido da capital, que esperam ganhar a Prefeitura de Roma nas eleições de maio, pediram que sejam reconhecidos como parte civil no julgamento, ou seja, como parte afetada.

"Somos o anticorpo à corrupção que esta cidade necessita, somos as pessoas limpas que podem mudar Roma", assegurou a deputada Roberta Lombardi.

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