Edição do dia 27/05/2016

28/05/2016 01h44 - Atualizado em 28/05/2016 02h08

Áudio indica que Sérgio Machado teria ‘ajudado’ aliados políticos

Na conversa, Machado parece sondar Sarney se Temer pode participar de
uma articulação para evitar que sua investigação caia nas mãos de Moro.

Marcos LosekannBrasília, DF

Novos trechos de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, a que a TV Globo teve acesso, mostram que ele ajudou aliados políticos. Um deles foi o ex-presidente José Sarney, mas os diálogos não permitem dizer que tipo de ajuda foi essa. Outro aliado, segundo os investigadores, foi Gabriel Chalita.

Na gravação, Machado diz que contribuiu para o Michel Temer, para a campanha do "menino" que os investigadores identificam como sendo Challita, que concorreu pelo PMDB à prefeitura de São Paulo, em 2012. Os diálogos não revelam de que forma se deu a contribuição.

Na conversa, Machado parece sondar o ex-presidente José Sarney se o então vice-presidente Michel Temer pode participar de uma articulação para evitar que sua investigação caia nas mãos de Sérgio Moro.

Machado:Você acha que a gente consegue emplacar o Michel sem uma articulação do jeito que esta...?
Sarney:Não. Sem articulação, não. Vou ver o que...acontecendo, vou no Michel hoje.

Como que para estimular a conversa, Machado revela que contribuiu com Temer sem o conhecimento de Renan Calheiros. Foi ajudando na campanha do menino que para os investigadores é Gabriel Chalita que concorreu à prefeitura de São Paulo, pelo PMDB em 2012.

Machado: O Michel presidente...lhe dizer...eu contribuí para o Michel.
Sarney:Hum...
Machado: Eu contribuí para o Michel...não quero nem que o senhor comente com o Renan...eu contribuí pro Michel pra candidatura do menino...falei com ele até num lugar inapropriado que foi na base aérea...

Sarney aparenta preocupação com a revelação e quer saber se uma ajuda que ele próprio recebeu  de machado é do conhecimento de mais alguém.

Sarney:Mas alguém sabe que você me ajudou?
Machado: Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.

Só não fica claro que "ajuda" foi essa.

Em outra conversa, desta vez com o senador Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, Sérgio Machado, defende um acordo para barrar a Lava Jato que proteja também alguns nomes do PT e a familia de Lula. E chega ao absurdo de fazer referência ao suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas.

Machado diz que a solução passava pela permanência de Dilma Rousseff, mas sem poderes. Jucá faz referência a uma Constituinte para diminuir os poderes do Ministério Público:

Machado: Meu amigo, eu acho que o melhor seria...(inaudível) porque ela continuava presidente. Michel assumia com liberdade de mudar tudo.
Jucá: Negociava um ou outro cara aqui que ela quisesse proteger. 
Machado: Isso, proteger no governo. Essa conversa...(inaudível). Só tem a solução do Getúlio, rapaz. Proteger a família do Lula, fazendo um acordo com o Supremo. Não é possível que esses m**** não façam um acordo desse. 
Machado: Sem o Supremo não adianta. Ou corta as asas da Justiça e do Ministério Público ou f****. E quando essa coisa baixar (inaudível) cortar as asas do Ministério Público. (...) Hum?
Jucá:Aí na Constituinte...

Outra conversa foi gravada por Machado na casa de Sarney. Eles falaram sobre a presidente afastada Dilma Rousseff, o marqueteiro do PT, João Santana, que havia sido preso na lava Jato, e o ministro da Justiça. Mas eles nao dizem o nome do ministro. E não se sabe exatamente o dia da conversa, apenas o período, entre fevereiro e março deste ano, quando três pessoas ocuparam o cargo: José Eduardo Cardozo, Wellington Silva e Eugenio Aragão.

Machado: A Dilma não tem condições. Você vê, presidente, nesse caso do marqueteiro, ela não teve um gesto de solidariedade com o cara. Ela não tem solidariedade com ninguém não, presidente.
Sarney:E, nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela tá envolvida diretamente. e ela foi quem falou com o pessoal da Odebrecht para dar, acompanhar e responsabilizar pelo Santana.
Machado:Isso é muito sério. Prresidente, você pegou o marqueteiro dos três para o presidente do Brasil. Deixa que o ministro da Justiça, que é um banana, só diz besteira, nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. É que tavam dizendo essa semana: a presidente é b*** mole. A gente não tem um fato positivo.
Sarney: E todo mundo, todo mundo acovardado.
Machado:Acovardado.

Em outra conversa com Renan, presidente do Senado, Machado fala sobre o procurador-geral da República Rodrigo Janot, reconduzido ao cargo em setembro de 2015 por mais dois anos. Na gravação,Renan afirma que tentou evitar a recondução de Rodrigo Janot ao cargo, mas disse que estava só.

Machado: Agora uma coisa eu tenho certeza: sobre você não tem nada ainda.
Renan: Nesse mistério todo a gente nem sabe porque eles vivem nessa obsessão.
Machado: Hoje eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse b***, não. aquele cara ali...
Renan:Quem?
Machado: Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.
Renan:Eu tentei...mas eu estava só.

Os advogados do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, disseram que ele não pode se manifestar por conta do sigilo da delação premiada.

A presidente afastada Dilma Rousseff voltou a dizer que que todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana foram regulares e declarados à Justiça Eleitoral. Ela estranha que pessoas que não participaram da coordenação da campanha ou da tesouraria possam ter informações sobre pagamentos e arrecadações. Isso mostra, segundo Dilma Rousseff, que a origem dessas informações não tem nenhuma credibilidade. Dilma disse ainda que a tentativa de envolver seu nome em situações de que nunca participou são escusas e direcionadas e demonstram interesses inconfessáveis

A assessoria do Supremo  Tribunal Federal também repetiu que faz parte da natureza do Poder Judicário ser aberto e democrático e que os ministros são obrigados por dever de ofício a ouvir diversos atores da sociedade diariamente e que tal prática não interfere na imparcialidade das decisões.

O ministro do STF, Teori Zavascki, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a construtora Odebrecht não quiseram se manifestar.

O presidente em exercício, Michel Temer, negou que tenha pedido doação a Sérgio Machado para a campanha de Gabriel Chalita. Ele disse também que não foi candidato nas eleições municipais de 2012 e não recebeu nenhuma contribuição. Michel Temer disse ainda que nunca se encontrou em lugar inapropriado com Sérgio Machado.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, negou as acusações e disse que
ele próprio agilizou a recondução do procurador ao cargo logo assim que o nome de Rodrigo Janot foi indicado pela presidente.

O ex-presidente José Sarney, do PMDB, disse que tinha relação de amizade com Sérgio Machado e que, por isso, vendo que ele estava em momento de desespero, se prontificou a ajudá-lo e a sugerir nomes que poderiam participar da defesa dele.

Sobre citação à Dilma e também sobre o fato de ter recebido ajuda de Sérgio Machado, o advogado de Sarney, Antônio Castro de Almeida Carlos, disse que não vai responder fragmentos do que está sendo vazado, e informou que vai "pedir cópia da gravação como um todo para depois poder responder de forma contextualizada".

Na noite de sexta-feira (27) Gabriel Chalita divulgou uma nota em que declarou não conhecer Sérgio Machado e que todos os recursos recebidos na campanha dele foram legais, fiscalizados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral.

O senador Romero Jucá e a assessoria do PMDB não retornaram nossas ligações.