Felipe
Massa é bem conceituado dentro da Williams, e na própria F1, pela
velocidade, constância – o único piloto a marcar pontos nas seis
etapas disputadas este ano -, dedicação e liderança, tudo muito
útil à equipe, mas enfrenta concorrência, e séria, para ser o
escolhido para assinar mais um ano de contrato.
Como
Mike O'Driscoll e Claire Williams, os profissionais que decidem no
time inglês, devem definir a sua dupla de pilotos até as férias de
agosto, no caso de o mercado se mexer como se espera por causa da
mudança conceitual do regulamento em 2017, as próximas seis
corridas do campeonato terão grande importância para Massa. Não é
exagero defini-las como hora da verdade para o seu futuro na
Williams e talvez até na F1.
Nunca
é demais lembrar que a boa reputação, decorrente da sua
importância no ressurgimento da Williams, espalhada no paddock por
ninguém menos do diretor técnico, Pat Symonds, pode levá-lo a outra
escuderia. E a que Massa se encaixaria muito bem é a da montadora
francesa Renault, em fase de reestruturação.
Aos
35 anos, a experiência dos 235 GPs de Massa, hoje, com 11 vitórias,
41 pódios e 16 poles, teria grande valor para a Renault, como teve
para a Williams nos dois últimos anos, depois da pior temporada da
sua história, em 2013, nona, com 5 pontos, apenas.
Nicolas
Todt, empresário de Massa, conversa também com os franceses no caso
de seu piloto ser preterido na Williams. Um bom trabalho nos seis GPs
a seguir no Mundial, conforme mencionado, no entanto, darão um
impulso grande para Massa continuar na Williams.
Pistas
boas para a Williams
“Na
F1 você vale, essencialmente, pelo que fez nas últimas corridas”,
costuma dizer Flavio Briatore, ex-chefe de equipe campeão do mundo
com a Benetton, em 1994 e 1995, e Renault, 2005 e 2006. A boa notícia
para Massa é que quatro dos próximos seis circuitos do calendário
têm histórico de serem bem favoráveis ao carro da Williams. Bons
resultados sempre impressionam.
Se
valer o que o modelo de 2014 e o de 2015 fizeram no Canadá, Áustria,
Inglaterra e Alemanha (ver a tabela), o FW38-Mercedes deste ano pode
permitir a Massa e ao companheiro, Valtteri Bottas, somarem muitos
pontos nessas provas. A exceção é a pista de Budapeste, por causa
das suas curvas de baixa velocidade, onde a Williams apresenta
dificuldades.
Mas
em Montreal, dia 12, Spielberg, 3 de julho, Silverstone, 10, e
Hockenheim, 31, muito provavelmente Massa vai dispor de um monoposto
capaz de lhe permitir estar mais à frente nas corridas do que até
agora este ano. E não pode desperdiçar a chance se as coisas
seguirem seu curso normal.
Logo
depois da etapa no Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, a F1
desembarca no Azerbaijão, estreia do país no calendário, dia 19.
Novidade para todos na F1. O traçado de 6.006 metros de extensão,
20 curvas, na capital do país, Baku, deverá ser a pista de rua mais
veloz da história.
O
segmento que se estende da curva 16, 17, 18, 19 e 20, todas muito
abertas, até a freada da curva 1, cerca de 2 mil metros, um terço
do circuito, será percorrido flat out, em aceleração máxima. É
maior que o de 1.300 metros existente da saída da curva 12, em
Xangai, até a freada da curva 14, no fim da grande reta. A 13 na
China também é flat out. Há uma elevada possibilidade de o FW38 de
Massa e Bottas ser rápido também em Baku.
A
Williams terminou em terceiro os dois últimos campeonatos, os do
início da tecnologia híbrida na F1. Este ano ocupa apenas o quarto
lugar. A RBR deu um grande salto de performance com o avanço da
unidade motriz Renault e deixou a Williams para trás. O chassi do
modelo RB12 de Daniel Ricciardo e Max Verstappen é excepcional, a
ponto de a RBR já ameaçar a vice-liderança da Ferrari. Depois de
seis etapas, a Williams soma 66 pontos enquanto a RBR, terceira, 112,
logo atrás da Ferrari, 121. A Mercedes está bem na frente, 188.
Esse
é um fator importante na definição dos pilotos da Williams para
2017. Se o time que já venceu sete vezes o Mundial de Pilotos e nove
o de Construtores terminar em terceiro, pouco provável, O'Driscoll e
Claire terão maior liberdade para escolhê-los, ouvirão mais
Symonds. A organização receberia da Formula One Management (FOM) um
valor maior do que se terminar em quarto, resultado mais realista. A
diferença está quase na casa do que a Williams paga para a Mercedes
pelo uso da sua unidade motriz, cerca de 18 milhões de euros.
Com
quem Massa concorre?
Um
nome é quase certo, Jenson Button, atualmente na McLaren-Honda.
Semana passada, Ron Dennis, sócio e diretor da escuderia, falou em
alto e bom som que o jovem e talentoso belga Stoffel Vandoorne, seu
terceiro piloto, não está disponível para ninguém. A Renault se
interessou por ele. Deverá ocupar a vaga de Button na McLaren em
2017, para correr ao lado de Fernando Alonso.
Button
interessa a Williams. Apesar dos 36 anos é um triatleta e compete na
F1 ainda em alto nível. Ajuda ser inglês. Foi campeão do mundo, em
2009, com a Brawn GP, e tem no currículo, hoje, 290 GPs, 15
vitórias, 50 pódios e 8 poles. Em 2000, aos 20 anos, depois de uma
temporada de estreia na F1 muito boa, oitavo colocado, na própria
Williams, aceitou o convite da Benetton. E por pouco sua carreira não
acabou ali. A relação com Briatore foi das mais tensas.
A
Renault também conversa com Button. Ele aceitaria ganhar menos dos
12 milhões de euros atuais pagos por Dennis. E tem, ainda, a Ferrari
nessa história. O campeão do mundo de 2009 faz parte da lista dos
italianos. Kimi Raikkonen dá sinais inequívocos de estar na curva
descendente como piloto. Disputa uma boa prova e duas, três ruins.
O
inglês tem o perfil de piloto que a montadora francesa, em especial,
procura, o mesmo de Massa, um piloto experiente, importante numa
mudança de regulamento severa, como a de 2017, e ainda eficiente. E
a Ferrari por saber que Button seria mais constante que Raikkonen,
por vezes pressionaria Sebastian Vettel também. As duas escuderias
têm outros candidatos.
É
provável que O'Driscoll e Claire não tenham estabelecido prioridade
para Button, no confronto com Massa, no caso de ele estar disponível
no mercado. Massa eles conhecem e sabem de que forma poderá
contribuir para a equipe. Button, apenas supõem.
Para
os engenheiros, ficaria tudo como está
“Eu
tenho 30 anos de F1 e nunca vi uma dupla de pilotos trabalhar tão
bem junta como a nossa”, afirmou ao GloboEsporte.com, Symonds, no
ano passado. Se depender da área técnica, a permanência de Massa e
Bottas na Williams tem o seu voto. O finlandês está mais próximo
de ter o contrato renovado. Curiosamente, soma menos pontos de Massa,
29, oitavo colocado, diante de 37 de Massa, sétimo.
Outros aspectos interessante no confronto entre os dois pilotos da Williams
são os desdobramentos da melhora significativa de Massa a partir da
segunda metade de 2014, quando passou a ser mais constante,
eficiente. O primeiro foi a revalorização de Massa, depois da má
imagem deixada nos últimos anos de Ferrari, como companheiro de
Alonso.
E o
segundo foi a redução do valor do passe de Bottas no mercado, haja
vista que hoje ele não está, ao menos com força, na lista de
Mercedes e Ferrari, como já esteve. Em 2014, em razão do mau início
de campeonato, Massa somou 134 pontos, sétimo colocado, com três
pódios. Bottas, 186, quarto, seis pódios. No ano passado, Massa fez
121 pontos, sexto, 2 pódios, e Bottas, 136, quinto, dois pódios.
A
Williams vem sendo procurada por empresários de vários pilotos,
alguns com patrocinadores dispostos a investir alto na equipe. A
razão é a possibilidade de Ed Wood e Jason Somerville, os
responsáveis pelo projeto dos carros nos últimos anos, desfrutarem
do avanço da engenharia da Williams para produzir um carro que
permita a seus pilotos mais do que os modelos de 2014 e 2015 e o FW38
deste ano. A revisão das regras dá essa oportunidade.
Nasr
é candidato
Não
é segredo que Steve Robertson, empresário de Felipe Nasr, busca um
novo espaço para seu talentoso piloto. Seus dois maiores focos são
a Williams e a Renault. O contrato de Nasr com o Banco do Brasil é
de dois anos, portanto acaba no fim desta temporada.
Mas
o retorno proporcionado é grande, apesar das limitações por vezes
até embaraçantes do brasiliense, nesta temporada, com o C35-Ferrari
da Sauber, modelo que disputa com o MRT05-Mercedes da Manor o título
de carro mais lento do campeonato. Nasr deve continuar sendo
patrocinado pelo Banco do Brasil, fundamental para ele seguir na F1.
As vagas para pilotos sem patrocinadores são raras.
Apesar
de Nasr acreditar não precisar dispor de equipamento para expor sua
capacidade, para impressionar quem escolhe os pilotos, não é bem
assim. Apenas lutar para não largar na última fila e não ocupar,
regularmente, as últimas colocações, certamente não ajuda a
formar uma imagem positiva, por mais atenuantes que existam,
decorrentes da falta de competitividade do C35.
Mas
Nasr já foi um piloto de testes elogiado na Williams, em 2014.
Deixou seu cartão de visita para O'Driscoll e Claire, além de ter
realizado notável trabalho na Sauber, no ano passado, na sua
estreia na F1. Isso tudo mais o patrocínio do Banco do Brasil e os
interesses de manter um brasileiro na F1 o colocam na lista do time
inglês.
Gostariam,
ainda, de competir pela Williams o russo Daniil Kvyat, atualmente na
STR, prestes a fechar um pacote elevado de investimento com
empresários do seu país, e o alemão Pascal Wehrlein, com apoio da
Mercedes. Ele é da academia da montadora. As conversas entre
empresários e chefes de equipe fazem parte da F1. Mas bater o
martelo é outra história, muitos fatores interferem no processo de
escolha.
A
Williams tem ainda dois ou três meses para ver o que é melhor para
si, também em função do orçamento estimado para 2017, ano de
custos elevados por causa do maciço investimento que
os novos modelos, com chassi e pneus mais largos, e unidades motrizes
mais potentes, exigirão para serem desenvolvidos.
Para
Massa, o primeiro desafio é mudar o seu histórico no GP do Canadá,
já a partir dos primeiros treinos livres, dia 10. O Circuito Gilles
Villeneuve não está dentre os que obteve seus melhores resultados.
Em 13 temporadas de F1, por exemplo, nunca largou na primeira fila e
nunca chegou ao pódio.
Suas
melhores colocações em Montreal foram um quarto lugar, em 2005, com
Sauber; dois quintos, em 2006 e 2008; dois sextos, 2011, todos com
Ferrari, e 2015, Williams; um oitavo, 2013, e um décimo, 2012, ambos
com Ferrari.