do UFC em relação ao momento que atravessou (Foto: Reprodução)
Foi um ano longo para Jon Jones, ex-campeão peso-meio-pesado do UFC. A sensação é de que os dias se multiplicaram diante de episódios como um teste positivo de antidoping e, principalmente, um acidente de trânsito sem prestar socorro, que lhe custou o cinturão do evento e uma mancha indelével em sua carreira.
Nesta terça-feira, em entrevista ao site "MMA Fighting", "Bones" falou minuciosamente sobre os momentos que viveu antes, durante e após a batida de carro, ocorrida em abril, na cidade de Las Vegas (EUA), seguido da fuga desesperada e da falta de socorro à vítima - uma mulher grávida, que fraturou o braço.
- A situação toda foi louca. Fui a uma festa, muita bebida rolando... Fui para a cama pensando, "Sem beber e dirigir", nenhum dos meus amigos me deixariam pegar outro caso de DUI (Embriaguez ao volante). Fui para a cama, acordei na manhã seguinte, todo mundo tinha ido embora da festa na casa. Meu amigo e sua esposa estavam lá, e fiquei pensando comigo mesmo: "Este cara tem um filho, uma família, eu devia ir embora desta festa". Obviamente, não era mais uma festa. Entrei no meu carro, ainda estava bem cansado, lembro de estar no sinal vermelho, ouvindo música, mandando mensagem no meu celular... E vi a luz ficar verde, presumi que era o meu farol que ficou verde, mas era para as pessoas que estavam indo reto no trânsito, eu estava fazendo uma curva. Eu pisei no acelerador quando vi o sinal verde e me encontrei indo na direção contrária do trânsito.
Jones conta que tudo aconteceu muito rápido - embora tenha notado que acabara de cometer um erro. Ele relata que percebeu que não se machucou e, ao "cair a ficha" de que estava longe de casa desde o dia anterior, teve a certeza de que se encontrava em uma situação delicada.
- Apenas pensei comigo mesmo: "Cara, saí ontem à noite, ainda não voltei para casa, provavelmente ainda estou com o cheiro de ontem, preciso sair daqui. Isso vai ser terrível, vai ser complicado. Tenho que ir". Eu estava com medo, fiquei apavorado. Estava com medo de ter que falar com a polícia naquela hora. Então pensei, "Vou me afastar daqui".
À época, a imprensa noticiou que Jones - apesar da fuga - teria retornado ao seu automóvel para pegar determinada quantia de dinheiro, algo que ele nega com veemência. O atleta do UFC declara que o desespero o cegou.
- As pessoas disseram que eu corri de volta à cena para pegar dinheiro, fazendo soar como se eu tivesse dado a volta no quarteirão e voltado... Isso nunca aconteceu. Por que eu precisaria correr para pegar dinheiro? Meu dinheiro está em contas, em investimentos, coisa assim. Eu estava cego, cara. Eu certamente bati forte, e fiquei pensando: "Preciso ir, preciso me afastar disso". Comecei a correr, cheguei a me afastar cerca de cinco jardas (4,6 metros) do meu carro, e me lembrei que tinha um cachimbo de maconha no meu porta-copos. Sabia que, se a polícia encontrasse aquele cachimbo no meu carro, tudo seria ainda pior do que eu achei que deveria ser. Voltei, olhei para o porta-copo, o cachimbo tinha voado para algum outro lugar do carro, e saí correndo de novo. Não tinha ideia do que tinha atingido, não sabia se era um carro ou um caminhão, se era um homem ou uma mulher, só sei que minha visão estava estreita, eu só pensava que precisava correr o mais rápido possível. A experiência toda durou uns 15 ou 16 segundos, e foram os piores 16 segundos da minha vida e da minha carreira, com certeza.
Jones garante que recorreu a um amigo para levá-lo ao hotel - até então, não sabia que havia machucado uma mulher no acidente. O lutador revela que sua esposa foi quem deu a dimensão do problema ao sugerir que "Bones" colocasse seu próprio nome em um site de buscas para ficar ciente das notícias veiculadas nos Estados Unidos e no mundo.
- Ela disse: "Jon, você precisa dar uma busca no Google pelo seu nome", e em talvez meia hora depois da situação acabar, o "TMZ" já tinha publicado e todos esses grandes veículos de mídia (também). Eu literalmente sentei lá e chorei pelo resto do dia. Realmente achei que minha carreira tinha acabado. Sabia que mudaria minha vida. Foi um longo dia para mim. Foi provavelmente o ponto em que mais estive deprimido na vida.
Confira a entrevista na íntegra:
Polícia
Eles não estavam me procurando. Em nenhum momento, eu me escondi da polícia. Eu tinha um advogado e estávamos tentando reunir tudo, descobrir exatamente o que aconteceu. Assim que a polícia produziu o mandado, nós literalmente ligamos dentro de uma hora, e eu cheguei à delegacia uma hora e meia depois. Não me escondi de jeito nenhum. Fiz o que qualquer um faria nessa situação, que é contratar representação apropriada e seguir o protocolo.
Liberdade
Isso me assustou, me assustou mesmo, pois pensei que poderia ir para a cadeia pelo resto da minha vida. Não sabia se o bebê ficaria bem, não sabia em que estágio da gravidez ela estava... As pessoas disseram que ela quebrou o braço... Sinceramente, eu estava me sentindo miserável, muito deprimido, pensando que poderia nunca mais ver minhas filhas, ou minha esposa. Não estava nem pensando em lutar de novo, mas em minha liberdade ser retirada.
Medo da morte
Suicida? Não, de jeito nenhum, minha religião não permitiria isso. Apenas sabia que tinha uma estrada longa à minha frente, financeiramente, legalmente, em todos os aspectos da minha vida. Explicar para minha família, meus treinadores, todas as pessoas que decepcionei.
Prisão
Sim, estive numa cela, por talvez duas horas. Foi uma sensação terrível. Uma semana antes, eu estive num hotel cinco estrelas em outro país, trabalhando, e passar de um lugar tão bom na vida para uma cela de cadeia, de uniforme laranja, machucou. Tive um pequeno ataque de ansiedade quando estava lá, realmente mexeu comigo. Eu estava sozinho (na cela).
Tratamento na cela
Eles me trataram muito respeitosamente. Tudo que fiz, era "Sim senhor", "Não senhor". Não fui tratado de forma diferente, tudo foi da forma como todos fazem. Peguei um cara me filmando, pedi para um supervisor conferir e acho que foi apagado, mas fora isso, senti que era como qualquer outro cara.
Fim da carreira
Eu meio que pensei em jogar a toalha. Não pensei em suicídio, mas pensei em desistir de tudo, de deixar de estar no olho do público. Pensei, "Deixa eu ajeitar tudo por conta própria", deletar meu Twitter, meu Instagram, e nunca mais ter que responder nenhuma pergunta de ninguém, e lidar com essa coisa com minha família. Senti que já tinha uma carreira no MMA digna de Hall da Fama, pensei que não tenho mais nada a provar, já bati todo mundo, vi grandes coisas na vida, viajei pelo mundo... Acabou, acabei de estragar minha carreira, vou pendurar tudo, focar em mim mesmo, me aproximar de Deus e me focar na minha família. Essa era a minha mentalidade.
Reunião com o UFC na época
Eu disse isso para eles (Dana, Lorenzo e Lawrence Epstein). Eles vieram para uma reunião, me perguntaram como eu estava, e eu achava que eles iam me perguntar se ainda lutaria ou não (com Anthony Johnson). Eu disse a eles que não estava interessado em lutar, que estava pensando em parar de lutar há algum tempo, e que não podia focar em lutar naquele momento, com tanta coisa pairando sobre mim. Sabia que a semana da luta seria infernal para mim, que os fãs me castigariam como mereço, e não estava com coragem para encarar isso naquela hora. Eu disse a eles, "Façam o que tiverem de fazer", e eles disseram, "Provavelmente teremos de te destituir do título e suspendê-lo por tempo indeterminado". Eu disse, "Eu não dou a mínima". Então, eles tiraram o cinturão e fizeram o que tinham de fazer. Depois, caiu a ficha que não tinha mais o cinturão, e esse foi um longo dia para mim.
Falta de apoio do UFC
Não (senti que estavam preocupado comigo), não na verdade. Eles nunca vieram me visitar antes sobre nada, nunca viajaram para dizer oi, para saber como estava, só vieram para Albuquerque para tirar meu cinturão. Não senti... Sinceramente, Lorenzo não parecia que se importava, ele pareceu muito genuíno. Ele me olhou nos olhos o tempo todo e perguntou, "Como vai você?". Na época, não sabia como estava me sentindo, estava todo errado emocionalmente. No fim das contas, foi um encontro de negócios, e um que não foi favorável para mim.
Cinturão
Não lutei por isso. Não tenho nada a provar, aquele cinturão não me solidifica quem sou como lutador. Já bati os principais (lutadores). Precisava de uma parada. Sou um artista desde os 19 anos, desde o dia que entrei no esporte, as pessoas já estavam dizendo que eu era o próximo Anderson Silva, o futuro do esporte. Sempre tive um pouco de expectativa em toda a luta que fiz. A pressão que coloco sobre mim, o nível em que estava lutando... Era preciso ficar longe do cinturão por um tempo para me libertar. Hoje eu me sinto ótimo.