Política Lava-Jato

Força-tarefa da Lava-Jato avalia já ter condições de denunciar Lula

Investigadores aguardam só o envio de documentos para Curitiba, determinado pelo STF

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Yasuyoshi Chiba / AFP / 6-6-2016
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Yasuyoshi Chiba / AFP / 6-6-2016

SÃO PAULO — Integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato avaliam que já possuem “elementos concretos” para denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pelo menos três das seis frentes de investigação contra o petista. Os investigadores aguardam a remessa definitiva dos documentos contra o ex-presidente para Curitiba, determinada na segunda-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki , para apresentar as denúncias sobre o tríplex do Guarujá, a reforma no sítio de Atibaia e o aluguel de contêineres para o transporte de acervo de Lula, pagos pela OAS.

VEJA: O andamento das investigações sobre Lula

Na terça-feira, a defesa do ex-presidente informou ao GLOBO que recorrerá da decisão de Teori , que enviou as investigações às mãos do juiz Sérgio Moro. Nos próximos dias, os defensores devem entrar com embargos no STF. Foram enviados para Curitiba três petições, três inquéritos e dez ações cautelares. Todos os processos estão sob sigilo. Entre os casos enviados para Moro está o inquérito sobre o sítio de Atibaia e o tríplex de Guarujá, ambos em São Paulo.

INVESTIGAÇÕES PARADAS DESDE 28 DE MARÇO

As investigações contra Lula estão paralisadas desde 28 de março, quando Moro determinou o envio das ações ao Supremo. A medida foi tomada após aparecerem interceptações telefônicas do líder petista conversando com a presidente Dilma Rousseff, antes de seu afastamento decidido pela Câmara do Deputados. Na gravação, Dilma avisa a Lula que lhe enviará um termo de posse para ser usado, se necessário. Os áudios foram anulados por determinação de Teori e não podem ser usados como prova.

Há seis frentes contra Lula nas investigações da Lava-Jato. Além da suspeita de ter recebido favores das construtoras Odebrecht e OAS na reforma do sítio de Atibaia, Lula é acusado de ser proprietário de um tríplex em Guarujá, no litoral paulista, também construído pela OAS, conforme O GLOBO revelou em 2014. A empreiteira ainda teria pago R$ 1,2 milhão, valor gasto por Lula para guardar o seu acervo pessoal, após sua saída da Presidência da República, em 2011.

Além dessas três suspeitas, os investigadores apuram ainda se o Instituto Lula e a empresa LILS Palestras, de propriedade do ex-presidente, foram usados para recebimento de vantagem indevida de empreiteiras em troca de contratos na Petrobras.

A sexta frente de investigação é a única ainda não apurada pela força-tarefa. Nela, Lula é suspeito de obstruir a Justiça ao atuar na compra de silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. A acusação foi feita pelo ex-senador Delcídio Amaral em delação premiada.

EX-PRESIDENTE NEGA AS ACUSAÇÕES

Assim que os documentos chegarem a Curitiba, Moro terá que decidir também sobre uma outra ação contra Lula feita fora do âmbito da Lava-Jato. Está sob análise do juiz o pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público de São Paulo, que denunciou o ex-presidente por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica por supostamente ter ocultado a propriedade do tríplex de Guarujá. O caso foi remetido para Moro por decisão da Justiça de São Paulo, sob o argumento de que tem relação com as investigações em curso na Lava-Jato.

Todo o caso do Ministério Público paulista será remetido ao Ministério Público Federal do Paraná, que analisará se incorpora o caso nas investigações em curso, oferece nova denúncia contra Lula ou pede o arquivamento do caso.

Desde o início das investigações, o ex-presidente nega as acusações da força-tarefa da Lava-Jato. A defesa dele ainda não decidiu quando entrará com o recurso no Supremo, mas a expectativa é que o faça ainda esta semana, para evitar qualquer tipo de ação do Ministério Público Federal do Paraná.

ALIADOS TEMEM QUE LULA SEJA PRESO

Aliados de Lula disseram na terça-feira temer que Moro decrete a prisão de Lula. Uma pessoa próxima ao ex-presidente, que tem participado das discussões sobre a sua estratégia de defesa nos inquéritos, afirma que o risco de prisão existe por causa da forma de atuação do juiz à frente da Lava-Jato.

— O Sérgio Moro não tem muito apego a regras e normas processuais. É um sujeito arbitrário. Então, não só o presidente Lula, como qualquer outro investigado, está sujeito ao padrão que o Sérgio Moro e a força-tarefa inauguraram com essa Operação Lava-Jato. O método dele é prender — disse um aliado.

Para alguns petistas, a Lava-Jato tem o objetivo de tirar Lula da disputa eleitoral de 2018 e, por isso, Sérgio Moro teria a intenção de condená-lo rapidamente.

Já o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que tem participado de reuniões com os advogados do ex-presidente Lula, não acredita que exista risco de prisão.

— Acho muito frágeis as acusações contra o Lula. Não tem nenhum delator que tenha dito até o agora que o Lula pediu dinheiro.

Teixeira avalia que a eventual decretação seria uma “medida abusiva”.

— A narrativa sempre foi de que queriam pegar o Lula, mas não vejo motivo. Essa é uma narrativa descabida — afirmou.

(Colaborou Sérgio Roxo)