Domingo, 10 de abril, é o dia em que será testado pela primeira vez o percurso de 42,195 km da maratona das Olimpíadas do Rio. Com apenas 16 atletas, a prova, que terá início às 6h15m, sequer entrou no calendário oficial de eventos-teste da Rio-2016. O comitê organizador, no entanto, considera-a de vital importância para colocar à prova o trajeto pensado especialmente para os Jogos, passando por vias da Zona Sul e da região central do Rio, muitas delas ainda em obras.
“Faltava mostrar a parte histórica da cidade e a área revitalizada na zona portuária. É uma região que a gente quer divulgar, até pela questão turística”
Diferentemente da Maratona do Rio, que vai do Pontal do Recreio até o Aterro — e não serve para homologação de recordes, por ser uma prova ponta a ponta —, a maratona olímpica do Rio se concentrará no Centro histórico. De acordo com Agberto Guimarães, diretor-executivo de esportes da Rio- 2016, a escolha foi causada pelo desejo de exibir cartões postais mais afastados do eixo olímpico, como o Sambódromo, palco da largada e chegada da prova, e a Zona Portuária, alvo de investimentos significativos da Prefeitura do Rio.
— Faltava mostrar a parte histórica da cidade e a área revitalizada na zona portuária. É uma região que a gente quer divulgar, até pela questão turística. O trajeto ainda é passível de ajustes a partir da resposta dos atletas, mas as obras não são um problema. Estão praticamente terminadas — afirma Guimarães.
A largada da maratona olímpica será na Praça da Apoteose, de onde os atletas partem pelas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco até o Aterro do Flamengo, dando três voltas entre o Museu de Arte Moderna (MAM) e a sede naval do Botafogo. Depois, os corredores seguem até a Praça Mauá, através da Rua Primeiro de Março e da avenida Rodrigues Alves, e retornam pela Presidente Vargas até o Sambódromo. No evento-teste, os atletas encontrarão obras principalmente na Avenida Rio Branco e na Zona Portuária, onde estão em construção passeios públicos.
INOVAÇÕES DIVIDEM ESPECIALISTAS; RIO-2016 MOSTRA CONFIANÇA
As inovações cariocas não são exatamente unanimidade entre especialistas no assunto. Eleonora Mendonça, primeira brasileira a disputar uma maratona olímpica (Los Angeles-1984) e organizadora da primeira edição da Maratona do Rio, em 1979, teme um público menor do que o esperado no Centro, já que as provas masculina e feminina nas Olimpíadas acontecem em um domingo.
— O calor do público é motivante para os corredores. Meu medo é que os atletas fiquem isolados — alerta.
O temor não é compartilhado por Guimarães. Devido à falta de proteção para o sol, ele vê chance de dispersão temporária do público principalmente na avenida Presidente Vargas, onde será possível ver os atletas no início da prova e, duas horas depois, na reta final. Mas o calor, garante, não é problema.
— Carioca gosta de sol. Já viu gente se esconder do sol na praia? Não tenho dúvida que as provas de rua vão estar lotadas. São os eventos mais democráticos. Além disso, é uma prova clássica e a cidade do Rio gosta de corridas de rua — enumera.
CHEGADA NO SAMBÓDROMO É 'HERESIA'
Lauter Nogueira, treinador de maratonistas e comentarista de atletismo no canal Sportv, também não acredita que temperatura ou comparecimento do público sejam motivos de preocupação, especialmente para os brasileiros. Lauter vê os atletas da casa com mais chances de terminar entre os 10 primeiros quanto mais sol houver.
“Quebramos tabus que não deveriam ser quebrados. Quem corre a maratona pode se sentir até lesado”
— Se o sol afetar, é bom para nós, brasileiros. São poucos os atletas no mundo que costumam ter boas performances nessas condições. É uma vantagem maior do que ter gente na rua aplaudindo, o que certamente vai ter na Olimpíada.
O comentarista, contudo, define como “heresia” o término da maratona não ser em um estádio olímpico, tradição só quebrada nos dois Jogos de Atenas, em 1896 e 2004, quando foi escolhido o Partenon. Para Lauter, não existe motivo técnico, apenas “oba oba”, para que a chegada da prova não seja no Maracanã — embora, sem pista de atletismo, este também não se encaixe no padrão de estádio olímpico. O Sambódromo, palco da largada e da chegada, terá ingressos para 16 mil pessoas.
— Quebramos tabus que não deveriam ser quebrados. Quem corre a maratona pode se sentir até lesado. Para começar, o estádio olímpico deveria estar no Parque Olímpico. Essa talvez seja a grande heresia — cita Lauter.
Além dos 16 atletas selecionados pela Confederação Brasileira de Atletismo, 14 homens e duas mulheres, quem estará no evento-teste é Marílson Gomes dos Santos, um dos principais nomes do Brasil na maratona. Ele anunciou, no entanto, que só correrá metade da prova.