Rio

Costa Barros: depoimentos de policiais apresentam contradições

Perícia complementar será realizada na quarta-feira no veículo onde jovens foram mortos

RIO - Os depoimentos dos quatro policiais do 41º BPM (Irajá) envolvidos na morte de cinco jovens, no último sábado , quando o carro em que viajavam foi atingido por mais de 50 tiros de fuzil, revelaram contradições com as provas já coletadas pela perícia. Segundo informações preliminares de local — que foram utilizadas para o pedido de prisão em flagrante — não foram encontrados no Fiat duas portas utilizado pelas vítimas, marcas de tiros que tivessem sido disparados de dentro para fora do veículo. Também de acordo com os investigadores que fizeram o local do crime, a posição dos corpos contraria a versão dada pelos policiais de que um dos jovens - o que estava sentado no banco do carona - estaria com a metade do corpo para fora e atirando contra os militares. De acordo com o parecer dos peritos, pela posição do corpo encontrado dentro do carro, seria impossível que o rapaz estivesse debruçado na janela atirando contra os PMs.

A perícia também confrontou a versão apresentada pelos policiais, de que outros dois jovens estariam armados numa moto, atirando contra a corporação. De acordo com os inspetores, com os resultados da perícia preliminar e do exame de balística, há indícios suficientes de que os PMs mentiram para forjar um auto de resistência. A polícia informou ainda que nenhuma câmera estava operando de dentro do veículo da PM, e que também não foram encontradas câmeras de segurança pela região onde o crime aconteceu.

DEPOIMENTOS

A investigação da Polícia Civil contradiz a versão dada em depoimento pelos policiais. O grupo afirma que foi à comunidade checar uma denúncia de um caminhão que havia sido roubado, “quando criminosos apareceram atirando contra a guarnição.” Segundo o depoimento prestado no domingo à tarde pelo PM Antônio Carlos Gonçalves, ele, o soldado Thiago Viana Barbosa, o sargento Marcio Darcy dos Santos e o cabo Fabio Pizza Oliveira Silva receberam informações sobre o roubo de um caminhão carregado de bebidas na Rua José Arantes de Melo, perto da comunidade onde os jovens nasceram e foram criados. Antônio afirmou que o grupo foi recebido a tiros ao chegar no local, e que o caminhão ainda estava sendo saqueado no momento.

Ainda segundo o depoimento do policial, dois homens apareceram numa moto e atiraram contra os policiais, que revidaram a ação. Antônio sustentou em seu depoimento que um dos jovens que estava no banco do carona estava armado e que atirou contra os policiais. Ele ainda relatou que uma dupla que acompanhava numa moto o automóvel também teria efetuado contra os PMs diversos disparos, e que os dois suspeitos conseguiram fugir durante o confronto.

Um deles seria irmão de um dos rapazes mortos. A perícia confirmou que encontrou, perto do corpo dos jovens, um revólver. No entanto, de acordo com o depoimento da mãe de uma dos meninos, um dos PMs teria colocado uma luva nas mãos e mexido no corpo que estava no carona. Ela disse ter visto o PM remexer a mala do carro onde os jovens estavam.

APOIO JURÍDICO E PSICOLÓGICO

A Polícia Civil informou, na manhã desta terça-feira, que diligências continuam sendo feitas para esclarecer as mortes. O caso está sendo investigado pela 39º DP (Pavuna). A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos informou, em nota, que a equipe da Subsecretaria de Defesa e promoção dos Direitos Humanos está em contato com as famílias dos jovens. Todas as despesas dos sepultamentos serão ressarcidas pelo Governo do Estado, que vai, ainda, assessorar as famílias, junto à Defensoria Pública, na condução do processo de reparação.

"Cabe, ainda, à SEASDH, manter o apoio psicossocial a estas famílias. Nos próximos dias será marcado um encontro desta equipe multidisciplinar com os familiares destes jovens para devidos encaminhamentos", diz ainda a nota.

Já a Defensoria Pública informou, em nota, que começa a atender nesta terça-feira os familiares dos adolescentes mortos. Os defensores do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) entram no caso com o objetivo de resguardar os parentes das vítimas e assegurar a devida reparação moral e criminal por parte dos autores e do Estado.

Na segunda-feira, o tenente-coronel Antônio Marcos Netto dos Santos foi exonerado do comando do 41º BPM (Irajá) a pedido do Comando-Geral da Polícia Militar. Ele reconheceu o desvio de conduta dos seus subordinados e reconheceu a brutalidade empregada na morte dos jovens. Quem assumiu o cargo foi comandante Jorge Fernando de Oliveira Pimenta, que atuava no batalhão de Macaé. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que exonerou o comandante devido aos “últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando, que conflitam com as orientações da corporação”.

Amigos de infância, Wesley, de 25 anos; Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20; Cleiton Corrêa de Souza, de 18; Carlos Eduardo da Silva Souza e Roberto de Souza, ambos de 16, foram enterrados no Cemitério de Irajá.

Os quatro PMs envolvidos no caso foram presos em flagrante e estão no Batalhão Prisional, na antiga Penitenciária Vieira Ferreira Neto, no Fonseca, em Niterói. Três dos militares vão responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Já a responsabilidade pelo crime de fraude processual (alterar a cena do crime) foi imputado aos quatro PMs. Se comprovado os crimes, os PMs poderão ser expulsos da corporação.

O governador Luiz Fernando Pezão disse que vai cobrar uma investigação criteriosa sobre o caso.