O Santos está disposto a alcançar um objetivo que parece bem distante
para a realidade do futebol brasileiro: o de terminar uma partida sem
dar o famoso chutão para a frente. A comissão técnica comanda treinos
diários que visam a compactação e a manutenção da posse de bola com
toques rápidos e inversões de jogo.
Os goleiros, então, têm trabalhado muito para que possam
fazer parte do processo de aumentar ainda mais a posse de bola - a média
do Peixe no Campeonato Paulista é de cerca de 60%. Quando pressionado, o
time recua para o titular Vanderlei: zagueiros e laterais abrem, e os
volantes dão opção no meio.
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Como estão acostumados a jogar quase que apenas com as mãos, os goleiros
têm treinado diariamente os passes. Em uma das atividades (assista no vídeo acima),
Vanderlei, Vladimir, João Paulo e John precisam acertar as mini-traves
em passes curtos e as traves tradicionais em passes longos. Se antes eles tinham a
responsabilidade apenas de defender, agora eles fazem parte do processo
de criação de jogadas do Alvinegro e até participam de treinos com bola
em campo reduzido no dia a dia do CT Rei Pelé.
Os treinos são comandados pelo preparador de goleiros do clube, Arzul. O profissional explica o processo e valoriza a
integração entre o técnico Dorival Júnior, os auxiliares, preparadores e
analistas de desempenho.
– Isso fica claro no primeiro gol
no clássico contra o Corinthians, quando o Vanderlei é pressionado e
poderia muito bem ter se livrado da bola. Mas não, ele acha o Renato e
começa a jogada de um gol importante. Isso é fruto de um trabalho
coletivo que vem acontecendo desde o ano passado e que agora está em um
processo bem mais avançado – explica Arzul.
O preparador frisa que o chutão não está proibido, mas não é recomendado.
Os goleiros treinam para que possam acertar passes e lançamentos, mas
são instruídos a jogar para fora caso não vejam boas opções na frente.
– O cenário ideal é de que os goleiros sempre tenham opções. Eles são
treinados, estão melhorando, mas se não tiver quem se movimente para
receber, eles vão errar. Temos uma recomendação (de não dar chutão), mas
não queremos que o time sofra por causa de uma regra que não existe.
Ele (Vanderlei) se sente confiante, já até arriscou alguns dribles, deu
uns sustos (risos), e a gente fica feliz, mas eu falo para eles: "se não
virem alguém bem colocado, joga a bola para a área adversária ou põe de
canto pela lateral". Sem se arriscar – completa o preparador de goleiros.
Os números mostram que o futebol santista mudou e está "fora da curva"
do Campeonato Paulista. Em média, as equipes dão 304,9 passes certos por
partida no estadual. O Peixe, porém, está bem acima: acerta 428,9
toques por jogo. O goleiro Vanderlei já acertou 121 passes no Estadual.
*Colaborou sob supervisão de Raphael Sobral