Em resposta a um artigo publicado nesta quinta-feira no jornal “Folha de São Paulo”, no qual Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc SP, defende que “sem pasta própria, Cultura vai permanecer em coma”, a atriz de 69 anos criticou o “auto-engano de achar que a Cultura pode se safar do desconserto geral que nos abateu”, escreveu no Instagram. Há poucos dias, na mesma rede social, a veterana declarou seu apoio a Michel Temer. Leia o comentário na íntegra:
“Se o país está ‘em coma’, não entendo a insistência no auto-engano de achar que a Cultura pode se safar, sadia, do desconserto geral que nos abateu . Na teoria ( linda!) a prática é outra (dolorida). Sou a favor da ideia de manter a Cultura internada no ‘Hospital’ da Educação. Depois da possibilidade de ‘alta’, vamos ver o que pode ser melhor pra ela e pra todos nós , brasileiros” .
Tem havido um movimento desonesto de convencimento da desimportância da cultura e da criminalização dos artistas que fazem uso da Lei Rounet. A ideia de que o MinC e as leis de incentivo à Cultura não passam de uma maneira do governo sustentar artista vagabundo e comprar seu apoio político ganhou extraordinária e surpreendente aceitação popular.
Fernando Meirelles, cineasta
Todos acham que o Brasil precisa diminuir o número de ministérios mas ninguém quer perder o “seu”. Na cultura deve acontecer o mesmo. Imagino que meus colegas tenderão a não gostar da idéia. Talvez nem seja tão bom para os produtores mas se for bom para a educação, se alunos tiverem mais acesso a cultura, já estaria valendo. Vamos ver o que vem.
Cacá Diegues, cineasta
Acho o fim do MinC um retrocesso histórico, uma incompreensão do que seja educação e cultura, de que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Simplificando, a educação prepara as pessoas para o mundo real, enquanto a cultura estimula a inventar outros mundos.
Milton Hatoum, escritor
A extinção do MinC e a nomeação de políticos medíocres não surpreendem. E cito "A pantomina", de Rubem Braga: “Nossa vida política é, em seu jogo diário, de um nível mental espantosamente medíocre. Mental... e moral. Há uma cansativa tristeza, um tédio infinito nesse joguinho miúdo de combinação através das quais se resolve o destino da pátria”.
Anna Muylaert, cineasta
As consequências dessa fusão dependem de como o ministro vai pensar. Uma avaliação, neste momento, é algo prematuro. Porém, Educação e Cultura são coisas tão diferentes que, a princípio, me parece um retrocesso. Educação lida com formação, e Cultura tem relação com o povo, cultura mesmo. Olho com maus olhos.
Sergio de Carvalho, diretor teatral e pesquisador:
A extinção do Ministério é a confirmação simbólica do próprio golpe: uma manipulação da letra da constituição para reforçar o mando do capital sobre a vida dos que trabalham. Signfica a imposição de critérios econômicos, lógica do evento, eficácia de fluxo financeiros, anulação da história, e combate policial ao direito a imaginar um mundo além da forma-mercadoria.
Carlos Vergara, artista visual
A Cultura é uma coisa específica, e tem que ser tratada assim. Transformar a Cultura em uma Secretaria do Ministério da Educação é andar para trás cem anos. Diminuir o número de funcionários, perfeito. Mas isso não pode significar tirar a ênfase nas áreas específicas. Educação é para ensinar, Cultura para engrandecer.
Baby do Brasil, cantora
“Parece que eles não sabem o que significa cultura. Acho que se juntássemos uma turma para ir a Brasília, falássemos com os sindicatos...”
Zeca Pagodinho, cantor
“A Cultura, que já não era tão valorizada, vai perder força sem um ministério. E Cultura é uma das coisas mais importantes para um país.”
Augusto de Campos, poeta
Considero altamente nociva a subsunção do atual Ministério da Cultura ao da Educação. É puro retrocesso. Mas não esperava outra coisa de um governo em que não reconheço legitimidade, resultante de um impeachment sem fundamento jurídico, e orientado por mentalidades conservadoras e retrógradas.
Um país com esse potencial turistico cultural inexplorado, ter o MinC fundido com a Educação é deprimente. Só reforça o quanto a cultura não é prioridade, antes fosse por um projeto estruturador de levar a cultura, a lei da música pras salas de aulas, mas infelizmente, é por cortes e absoluta falta de entendimento político do potencial.
Eduardo Barata, presidente da Ass. de Produtores de Teatro do Rio
Esta extinção significa um enorme retrocesso no desenvolvimento econômico e social na história contemporânea do Brasil. No ano em que o MinC completa 30 anos de existência, recebemos a notícia da fusão das pastas de Educação e Cultura com muita apreensão e perplexidade. Cultura e Educação são hastes de sustentação de uma nação, porém com dimensões de políticas públicas completamente distintas em sua essência. Cultura é um símbolo da humanidade e um dos principais legados da civilização. A Cultura não pode e não merece ser tratada como uma mera lógica numérica de barganha política. O ministério da Cultura é uma conquista da nação brasileira.
Walcyr Carrasco, autor
Eu acho que o MinC não deveria perder sua autonomia. A Educação é importantíssima, e o MEC deve ter todos os seus esforços dirigidos para a educação, pois trata-se de uma grande lacuna no país. Mas é preciso também um projeto cultural, que estimule a expressão artística regional, inclusive. E para isso é preciso um Ministério da Cultura.
Wolf Maya, diretor de TV e teatro
Sinto que o nosso MinC que já ultrapassou a maior idade e que sempre teve uma representatividade importante no processo cultural brasileiro, nosso Ministério que representa e orgulha os criadores de cultura, possa voltar a ser uma Secretaria do MEC. Como tantas Secretarias Estaduais que foram perdendo a importância. É terrível!
Domingos Oliveira, diretor teatral
Para se viver em paz na sociedade é preciso saber que as pessoas são burras, muito burras. Quem não dá importância à cultura, que é a coleção do acervo pessoal da humanidade, sendo também o registro da sua brava passagem pelo planeta maravilhoso que logo se destruirá, é antes de tudo burro. Parece não haver limites para a grosseria e a estupidez.
O fim do MinC é mais um golpe. Agora, contra a Cultura. Uma ponte para o passado. O MinC nasce com a redemocratização e agora acaba pela chegada de um governo ilegítimo. Como o Ministério da Educação, que atende a um universo enorme imenso, ainda poderia incorporar as demandas da rica e variada cultura brasileira? Só tem um jeito: desprezando-a
Maria Adelaide Amaral, dramaturga
Considero um retrocesso. Sou favorável à redução de ministérios, mas a Educação já tem problemas demais para um ministro concentrar também a pasta da Cultura. O mais provável é que ela, a Cultura, seja negligenciada.
Rogerio Flausino, cantor
As pessoas acham que o que está sempre em voga no MinC são artistas batalhando por seus direitos. Mas o ministério tem um papel maior. O patrimônio histórico, por exemplo. As pessoas não se dão conta disso.
José de Abreu, ator
Solicitei ao governo francês um visto. Me deram um especial de residência chamado Competência e Talento com direito a trabalhar lá. Talvez por isso a Cultura na França movimente sete vezes mais dinheiro que a indústria automobilística. Aqui, o Temer quer acabar com a Cultura. Fechar o MinC mostra o período de trevas que começa nesta sexta-feira 13. Piada maior que o 1º de abril de 64.
Publicamente, Regina Duarte nunca escondeu suas desconfianças em relação ao governos comandados pelo Partido dos Trabalhadores.