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Para Massa, proibição do rádio poderá gerar surpresas no GP da Austrália

Piloto brasileiro crê que impossibilidade de discutir estratégias pelo rádio pode
interferir nos resultados das corridas: "Temos de aprender bem rápido as lições"

Por Nice, França

Livio Oricchio - Especialista GloboEsporte.com (Foto: GloboEsporte.com)

Aos poucos o fio do novelo de lã está sendo esticado pelas equipes e o nó representado pela severa limitação, agora, nas conversas com os pilotos começa a ser desatado. Nesta quinta-feira, no Circuito Albert Park, em Melbourne, onde será disputada a etapa de abertura do campeonato, domingo, Felipe Massa, da Williams, disse ter estudado mais a fundo a questão com seus engenheiros. E chegaram a uma conclusão:

- O maior problema é você não poder mais ser orientado sobre os ajustes no carro. É mais importante que ser informado, durante a corrida, sobre a sua estratégia e a dos adversários. Uma intervenção errada do piloto nessa hora pode provocar a quebra do motor, por exemplo, o que irá gerar grande prejuízo - analisa.

 A FIA havia enviado às escuderias, em dezembro, a lista das informações permitidas de serem passadas aos pilotos, mas antes de embarcar para a Austrália, Charlie Whiting, delegado da entidade para a F1, mandou uma segunda lista, com restrições ainda maiores. Leia no fim do texto o que era permitido informar e agora não mais.

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Felipe Massa, GP da Austrália, 2016 (Foto: Getty Images)Felipe Massa, GP da Austrália, 2016 (Foto: Getty Images)

Para atenuar a dificuldade, extensiva aos demais 20 pilotos do grid, o grupo de técnicos da Williams, coordenado por Pat Symonds, e da Mercedes, Andy Cowell, fornecedora da unidade motriz do time de Massa e Valtteri Bottas, modificou o funcionamento de algumas funções, a fim de automatizá-las mais, exigirem menos a interferência do piloto. E nas que ainda for o caso, acabaram simplificadas. “O trabalho deles ajudou”, disse Massa.

- Mas claramente você terá de usar ainda mais sua experiência, agora. Vamos focalizar nossa atenção três vezes mais em cima do carro, como usar os pneus, como está o consumo de combustível, a equipe não pode mais te avisar sobre nada disso - explicou Massa.

O desafio de entender os muitos recursos do carro e como interagir corretamente com eles, algo novo para os pilotos, ao menos no nível exigido a partir do fim de semana, é capaz, na opinião de Massa, de interferir mais no resultado das corridas do que o piloto não poder mais discutir sobre estratégia no rádio.

Massa, Bottas e os técnicos da Williams estudaram as situações mais prováveis de dificuldades a serem enfrentadas na pista e como ambos deverão agir, em que funções, ou comandos no volante, interferir para solucioná-las.

- Trabalhei bastante em cima disso, já nos testes de Barcelona. Vi também que temos de aprender bem rápido as lições - comentou Massa, lembrando ser esse o desafio maior quando tudo ainda é novidade.

Felipe Massa GP do Brasil (Foto: Mark Thompson/Getty Images)Felipe Massa GP do Brasil (Foto: Mark Thompson/Getty Images)

Depois dos oito dias de treinos na pré-temporada, encerrada dia 4, não apenas a Williams, mas os demais dez times da F1 debateram com seus pilotos como disputar a sessão de classificação. A definição do grid mudou radicalmente. Seguirá dividida em três partes. No Q1, depois de 7 minutos, a cada 90 segundos o piloto mais lento é informado que está fora. Sete não seguem.

No Q2, depois de 6 minutos, de novo a cada 90 segundos o piloto com o pior tempo deve deixar a pista. Mais uma vez sete não vão continuar na classificação. E no Q3, agora com apenas 8 pilotos, não mais 10, após 5 minutos quem estiver em último é avisado para regressar aos boxes. “Haverá o caos”, afirmou Massa.

- Primeiro será mais difícil chegar no Q3 por causa de serem, agora, oito e não mais dez pilotos. Aqui vamos aprender o que é realmente melhor fazer num treino como esse - explicou.

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Q3 pode não ser prioritário

Nos estudos que fez com seu engenheiro Dave Robson, dentre outros profissionais da Williams, ficou evidente que chegar no Q3 pode não ser uma prioridade. No Q3 todos vão provavelmente estar, na Austrália, com os pneus supermacios da Pirelli. Na F1 os pilotos do Q3 largam com o mesmo jogo de pneus do melhor tempo do Q2, não do Q3. E os pilotos que ficaram no Q2 e no Q1 podem escolher o pneu que vão começar a corrida. Essa diferença pode, segundo explicou Massa, gerar agora estratégias bem distintas.

- Pode ser que largar em nono ou décimo, ou não ter se classificado entre os oito do Q3, seja mais interessante. Você que chegou no Q3 é obrigado a largar com um jogo de pneus que vai te permitir completar cinco, seis voltas, apenas, enquanto os pilotos do Q2 podem escolher o pneu que vão largar e optar por um que dê maior autonomia, sem tanta perda de velocidade - afirmou Massa.

Valtteri Bottas, pré-temporada Fórmula 1 , Barcelona (Foto: Getty Images)Valtteri Bottas, pré-temporada Fórmula 1 , Barcelona (Foto: Getty Images)

Além da operação via rádio ser bem diferente, este ano, há o novo formato da classificação e o critério de escolha dos pneus bem distinto do anterior. Os pilotos e as escuderias definem dez dos 13 jogos a que têm direito a cada GP, dentre os três tipos de pneus disponibilizados pela Pirelli para cada etapa. No caso do GP da Austrália, foram os médios, macios e supermacios. A Williams adotou estratégia agressiva, ao solicitar a Pirelli 4 jogos dos macios e 6 dos supermacios. Os outros três são escolhidos pela Pirelli e os comissários da FIA. Em Melbourne foram um de cada tipo.

O piloto de 34 anos, no seu último ano de contrato com a Williams, falou o que espera da primeira corrida da temporada: “O GP da Austrália é surpreendente, sempre acontece alguma coisa na prova, há grande chance de safety car, a temperatura muda rápido, uma hora está quente e na outra frio, como será o caso de amanhã e sábado, com a chegada de uma frente fria”.

Todos os times trabalham com a possibilidade elevada de chuva nos primeiros treinos livres, amanhã, e até na classificação, sábado. A previsão para domingo, no entanto, ao longo das 58 voltas no circuito de 5.303 metros é de pista seca.

A opinião de Massa e Bottas, pouco antes da abertura do Mundial, é a mesma já expressada em seguida aos testes de fevereiro e março.

- Gostaria de estar enganado, mas penso que a luta pelo título se limitará a Hamilton e Rosberg.

 


A Williams tem no seu modelo FW38-Mercedes alguns componentes novos, concebidos a partir dos ensinamentos do ensaio em Barcelona.

- A nossa luta, ao que parece, será com Red Bull e Force India, o pelotão atrás de Mercedes e Ferrari, mas confiante no nosso crescimento.

A imprensa italiana perguntou a Massa como é competir não tendo nada acertado para o ano que vem na F1.

- Tranquilo, não me sinto pressionado. O que terá de acontecer vai acontecer. Vou seguir focado no meu trabalho, este ano será ainda mais exigente, quem sabe a minha maior experiência ajuda.

Esta é a 14.ª temporada de Massa na F1. Já disputou 229 GPs, venceu 11, chegou 39 vezes no pódio e largou 16 vezes na pole position.

As novas restrições impostas pela FIA. O que era permitido e agora, não mais:

1. Informar a distância dos adversários, na pista, durante a classificação, a fim de permitir ao piloto uma volta limpa.

2. O tipo de pneu que será colocado no carro no próximo pit stop.

3. O número de voltas que o adversário completou com determinado tipo de pneu.

4. O tipo de pneu de outro piloto.

5. A estratégia de um concorrente.

6.Qual a janela do safety car.

7.Que haverá mudança na regulagem do aerofólio dianteiro no próximo pit stop.

8. Lembrar o piloto para respeitar os limites do traçado.

9. Número de voltas que restam para a bandeirada.

Além disso, a FIA deixou claro que seus comissários estão atentos a qualquer tentativa de passar informação via código.

Info Horários GP Austrália (Foto: Editoria de arte)
Info Horários GP Austrália (Foto: Editoria de arte)