O ano de 2009 sempre será
inesquecível para os santarenos, principalmente para os torcedores do São
Raimundo, isso por que o clube santareno fez uma campanha histórica e
conquistou a primeira edição da Série D do Brasileirão. O GloboEsporte.com
localizou alguns jogadores que fizeram parte do elenco do Pantera no Campeonato
Brasileiro e “ouviu”- com excluvidade - histórias inusitadas, jamais contadas. Filho,
Amaral, Michel, Labilá, Gledson e Hélcio relembraram fatos e jogos marcantes da
história do título nacional.
Entre os jogadores consultados, o
atacante Michel, foi “eleito” o atleta mais “zoeiro” do plantel alvinegro.
Histórias de união, companheirismo e muitas brincadeiras entre os treinos e
viagens do time santareno na Série D. Os ex-alvinegros também deixaram recados
de apoio ao atual elenco que vai disputar a competição em 2016.
Saiba mais:
> Acompanhando de perto, jornalista relembra título do Pantera na Série D
Hélcio
O atacante foi artilheiro do
Campeonato Paraense, em 2009 e atuou com o São Raimundo na Série D. Atualmente
Hélcio deixou os campos e voltou para a escola, ou melhor, para a universidade,
onde se dedica ao curso de Educação Física. O, agora, ex-jogador se aposentou
aos 32 anos e tem feito cursos para ser técnico de futebol.
- A final contra o Macaé, com
certeza, foi a partida mais marcante, pois tínhamos que reverter o placar já
que a gente tinha perdido o jogo de ida. Todos estavam muito nervosos e
correndo contra o tempo para fazer o primeiro gol e depois o segundo, o que só
aconteceu no segundo tempo. Nós vivemos momentos muito especiais e divertidos,
o Michel era “fora do sério”, sempre contava muitas histórias, fazia imitações,
ele é demais – contou Hélcio.
Sidivan
Reconhecido até hoje por torcedores que utilizam transporte coletivo,
o lateral direito Sidivan vive uma realidade bem distante dos campos. O
motorista lembra com emoção um dos jogos mais importantes da sua carreira no
futebol, defendendo o São Raimundo.
- Um dos jogos mais marcantes foi contra o Cristal, em
Macapá, vencemos por 1 a 0. Além da vitória fora de casa, a viagem foi
emocionante. Separaram a gente em dois grupos, para viajarmos em um avião muito
pequeno. Na volta foi um sufoco, fomos informados que teria uma rajada de
vento, quando esse vento atingiu o avião, ficamos desesperados. O Labilá chorando,
todos começaram a rezar, mas graças a Deus o piloto conseguiu controlar a situação
e chegamos com segurança. Conseguimos superar muitas outras dificuldades e fomos
agraciados com esse título que marcou nossas vidas – comentou.
Filho
Com Pretto Marabá e Filho, o São Raimundo
tinha uma das melhores defesas da temporada. Os jogadores são lembrados com
alegria pela torcida santarena. Atualmente, o jogador está no Tocantinópolis –
também na Série D – e falou sobre a conquista do título em Santarém.
- É sempre bom participar de um
Brasileiro, a expectativa era boa, tínhamos um bom elenco. A nossa prioridade
era classificar o time para a Série C e conseguimos. A própria diretoria não
acreditava, mas quem passou a acreditar fomos nós, jogadores. É uma emoção
inesquecível, é até difícil de se expressar.
Apesar da distância, Filho não
esqueceu todo carinho que recebeu em Santarém, principalmente dos torcedores
que o receberam em suas casas como um verdadeiro filho mesmo. E até hoje o
zagueiro faz questão de manter o contato com pessoas queridas que conheceu na
cidade.
- O título foi inesquecível, mas
o carinho da torcida foi maravilhoso, sou muito grato por tudo que eles fizeram
e até hoje fazem, pelo reconhecimento. Pessoas que nos receberam como filhos da
cidade, a Tia Lucinda que era a nossa mãe, toda Nação Alvinegra, e meus amigos
que fiz aí e que se tornaram minha segunda família, como o João e a Nilda. Fico
até emocionado em comentar sobre essas pessoas maravilhosas que me deram um
suporte imenso.
Amaral
O volante Amaral, ou Amaralzinho,
como era conhecido pelos companheiros do clube está no Princesa do Solimões,
adversário do São Francisco no grupo A2. O jogador relembrou jogos importantes
que fez com o São Raimundo.
- A final da Série D, com certeza
foi inesquecível, mas tiveram outras partidas muito significativas também, como
o jogo contra o Cristal-AP que foi quando conseguimos o acesso – contou Amaral.
Entre as histórias que mais
marcaram, o jogador falou sobre o carinho da torcida santarena, principalmente
após a partida da final da Série D.
- Saímos do estádio no carro do
Corpo de Bombeiros, em meio à uma multidão. No meio da carreata um torcedor
gritava pedindo minha camisa, mas já tinha prometido que daria à minha mãe,
depois ele pediu meu calção, mas também já tinha dado. Eu estava só com a
bermuda térmica, então ele olhou para mim e viu que não tinha mais nada, então
ele pediu meu chinelo que tinha comprado no dia anterior, não pensei duas vezes
e presenteei. Ele acompanhou o restante da carreata exibindo meu chinelo, como
se fosse um troféu.
Pretto Marabá
Conhecido pelo espírito de
liderança que tinha dentro do grupo, sempre instruindo os jogadores junto com
Trindade, Pretto Marabá também relembrou um fato marcante no ano que o São
Raimundo conquistou a Série D.
- Estávamos concentrados para uma
partida importante em Santarém, mas faltou luz e água no hotel, lembro que não
tinha em lugar nenhum. Os jogadores começaram a se desesperar, estava “aquele
calor”, típico da região e faltavam pouco mais de duas horas para o jogo. Então
chamei todo mundo e fomos para a orla tomar banho, era a única solução. Foi uma
das cenas mais inusitadas que já presenciei, aquele monte de homem na orla da
cidade, de sunga e short, tomando banho no rio. As pessoas passavam por nós e
nos reconheciam e ficavam nos perguntando se o jogo tinha sido cancelado,
inclusive torcedores que já estavam indo para o estádio. Graças a Deus
conseguimos tomar banho, fomos para o jogo e vencemos – contou.
Gledson
O segundo goleiro do São Raimundo
é santareno e atualmente trabalha em uma empresa de segurança na cidade, além
de se dedicar à concursos públicos. Aos 27 anos, Gledson Sousa, lembra com
alegria da experiência vivida com o São Raimundo, mas também contou que a vida
dos jogadores não era fácil.
- Era bem tenso, o clube não
tinha tantos recursos e a gente só tinha dois jogos de uniformes. Quando alguém
rasgava a camisa no jogo, ou calção, o jogador que estava no banco tinha que
tirar o uniforme que estava vestindo para emprestar para o companheiro. Sem
contar que às vezes a gente tinha que viajar para lugares frios e a nossa blusa
de concentração era fina, era um sofrimento. Mesmo assim o grupo venceu os
obstáculos e conseguiu conquistar o título.
Amigos até hoje, Gledson e o Rafael
Oliveira sempre estavam juntos e na concentração dividiam o mesmo quarto. Um
dia antes da decisão, o atacante fez uma revelação ao goleiro e a “profecia se
cumpriu”.
- Estávamos no hotel,
concentrados para o jogo, então o Rafael Oliveira me falou: “eu vou fazer o gol
do título e vou jogar a camisa para a torcida”. Então no dia do jogo ele fez o
gol e tirou a camisa, naquele momento eu corri até ele pois se ele jogasse para
os torcedores, não teria outra pra ele continuar jogando.
Labilá
O goleiro não era só um simples
goleiro, e sim uma grata surpresa. Apesar da estatura mediana, motivo de
desconfianças pelos críticos do futebol, Labilá se tornou um dos maiores ídolos
do São Raimundo. Fez uma excelente competição e conquistou toda população de
Santarém. Entre os jogos mais importantes da competição, o arqueiro lembra da
partida contra o Cristal-AP, que garantiu o acesso à Série C, principal
objetivo do grupo.
- O jogo contra o Alecrin, em
Natal, tivemos que nos sacrificar bastante. Na partida de ida, contra o Macaé,
nós estamos perdendo de 3 a 1 quando foi marcado um pênalti contra a gente e eu
tive a felicidade de defender e, claro, a final da Série D – contou Labilá.
Com a popularidade em alta, o
goleiro tem bastante histórias envolvendo torcedores do São Raimundo, em
especial o público feminino. Algumas vezes o jogador se viu em situações
inusitadas.
- Teve uma vez que eu estava no
vestiário e uma torcedora entrou desesperada pelo túnel, chorando, e foi atrás
de mim. Só que todos os jogadores, inclusive eu, estavam tomando banho, “daquele
jeito”, nus, os seguranças chegaram e seguraram ela, mas só saiu de lá quando
falou comigo, então fui cumprimenta-la, tirar foto. Em outra situação, um
garotinho me ofereceu a mãe dele, perguntou se eu queria ser o pai dele. Já
teve torcedora casada me mandando carta, outras que invadiram o hotel que
estávamos concentrados, hoje em dia lembro dessas histórias e fico rindo
sozinho – brincou.
Michel
Considerado o atleta mais “zoeiro”
entre os ex-companheiros de clube, o atacante do Princesa do Solimões-AM,
relembra o carinho recebido dos torcedores santarenos, passeios, praias e os
ensinamentos repassados pelo técnico Walter Lima.
- Vivi uma história muito bonita
com o São Raimundo, fiz muitos amigos em Santarém, na verdade, uma família. O
professor Walter Lima montou um time muito unido, ele foi muito inteligente. Uma vez fomos jogar em Macapá,
em um avião bem pequeno, e em um certo trecho da viagem tivemos que fazer um
pouso forçado em uma cidade por causa das turbulências, e quem disse que o
Labilá queria voltar no avião? Ele não queria mais entrar no avião, queria
voltar de barco, de ônibus, de qualquer coisa, menos no avião.
O atacante, que tem um carinho grande
por Santarém, revelou gratidão por ter atuado no São Raimundo e deixou uma mensagem de apoio aos torcedores e atual elenco do clube.
- Gostaria de dizer a todos que
sou muito feliz por ter feito parte dessa história e ter dado alegria à essa
torcida que sempre nos apoiou. Em especial a vovó Graça, Tia Lucinda e meu
amigo Geovane, que foram pessoas que sempre me acolheram, faziam peixe,
tapioca, até lavavam nossa roupa. Eu desejo que esse grupo que está aí honre
essa camisa e faça um bom campeonato pois essa torcida merece muito – completou.