Economia

Governo deve autorizar alta nos combustíveis este mês

Equipe econômica também deve dar aval à metodologia de reajustes da Petrobras, que pode ser alterada

Segundo o CBIE, a Petrobras perdeu R$ 3,7 bilhões até setembro com a diferença entre os gastos com a importação de derivados e a receita com combustíveis no país
Foto: Extra / Cléber Júnior
Segundo o CBIE, a Petrobras perdeu R$ 3,7 bilhões até setembro com a diferença entre os gastos com a importação de derivados e a receita com combustíveis no país Foto: Extra / Cléber Júnior

BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO - O governo cedeu e deve, finalmente, autorizar a Petrobras a elevar o preço dos combustíveis este ano para cobrir parte da defasagem em relação ao mercado internacional. Ao mesmo tempo, dará aval à estatal para implementar uma nova política de preços a partir do ano que vem. A metodologia apresentada pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, no entanto, poderá sofrer ajustes. Segundo um interlocutor da equipe econômica, um aumento pode ser concedido este mês, sem pressionar a inflação. O percentual ainda está sendo discutido. A tendência é que a nova metodologia seja aprovada no dia 22, mas só valeria a partir de 2014.

Segundo essa fonte, embora haja preocupação com a implementação de uma fórmula que implique reajustes automáticos (como quer a Petrobras), predomina agora o entendimento de que a companhia realmente precisa de uma política de preços, diante da necessidade de realizar pesados investimentos. A metodologia será, então, um indicador importante, no sentido de dar maior previsibilidade aos negócios da empresa.

A forma como a Petrobras apresentou a ideia - uma proposta pronta para entrar em vigor - desagradou a integrantes da equipe econômica, que vinham trabalhando em um cálculo alternativo. Mas fontes do Palácio do Planalto ainda trabalham com a hipótese de que a metodologia da Petrobras seja aceita. A fórmula será aprovada em reunião do Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no dia 22.

Defasagem de 17%

A Petrobras apresentou uma proposta em que os preços variam, principalmente, conforme as cotações internacionais, com gatilhos para reajustes ou reavaliações periódicas.

- A Petrobras não pode se considerar um país independente - disse uma fonte próxima à presidente Dilma Rousseff, sobre a metodologia apresentada pela empresa.

O Palácio do Planalto tem evitado se posicionar sobre o tema, sobretudo depois de que o assunto ganhou ares de conflito entre Graça Foster e Mantega. Ela estaria pressionando pela aprovação da metodologia de aumentos livres conforme preços internacionais e ele teria se irritado com a atitude da empresa em “vazar” a discussão antes de aprovada.

De acordo com uma fonte próxima de Dilma, a cúpula do governo está mediando essas posições e o resultado da disputa não deverá trazer vencedor e vencido, mas uma solução que atenda às diferentes demandas, com vistas ao maior retorno para o país.

- A tendência é de que ninguém terá tudo, com uma saída no meio do caminho.

Cálculos do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) mostram que a Petrobras registra uma perda estimada em R$ 3,7 bilhões entre janeiro e setembro deste ano com a diferença entre os gastos com a importação de derivados e a receita obtida com a venda de gasolina e diesel no mercado interno. Desse total, R$ 859,7 milhões são referentes à gasolina e R$ 2,9 bilhões, ao diesel.

Segundo o CBIE, a perda é referente à defasagem média de 17,2% entre os preços nacionais e internacionais da gasolina entre janeiro e setembro deste ano. No caso do diesel, essa diferença chega a 18,2%. Para Adriano Pires, do CBIE, mais importante que um reajuste pontual é a previsibilidade sobre a sua política de preços:

- Um reajuste entre 5% e 6% agora ajuda a zerar a defasagem atual. É vital. Porém, a alta só zera a defasagem agora da gasolina e, no caso do diesel, dá um alívio de dois a três meses. Se em janeiro as cotações subirem, as perdas voltam a ganhar força. Por isso, o mais importante é ter uma previsibilidade do que esperar em termos de reajuste.

Segundo Pires, o mercado quer clareza.

- Se o que é bom para o governo não é para a Petrobras, e vice-versa, como isso será transformado em fórmula? O assunto esquenta, pois temos uma inflação, com viés de alta e a eleição de 2014.

Ações têm alta de 1,81%

Especialistas ressaltam que a Petrobras vem tentando se desfazer de ativos para aumentar seu caixa, apertado por causa das restrições do governo aos aumentos. Neste ano, até o fim de outubro, a estatal conseguiu arrecadar US$ 4,8 bilhões com a venda de ativos, dos US$ 9,9 bilhões previstos. Mas o número foi insuficiente para dar conta dos investimentos, que somaram R$ 25,150 bilhões no terceiro trimestre. A geração de caixa operacional foi de R$ 13,091 bilhões.

- A Petrobras precisa de um reajuste desde o início do ano. O ideal é estar alinhado com os preços internacionais. A companhia tem pesados investimentos para fazer. Ter uma política de preços é importante neste momento - disse David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Em 30 de janeiro, houve um reajuste de 5,4% no diesel e outro de 6,6% na gasolina. Depois, em 5 de março, o diesel foi reajustado em mais 5%.

Até setembro, segundo a ANP, o dispêndio com a importação de derivados somou US$ 14,893 bilhões, aumento de 14% em relação a igual período de 2012. Já as receitas com exportação caíram 8,71%, para US$ 7,499 bilhões.

A proximidade de um reajuste e da aprovação de nova metodologia resultou numa valorização das ações da Petrobras nesta segunda-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os papéis PN subiram 1,81% e, junto com as ações PNA da Vale (2,12%), ajudaram a bolsa a fechar em alta 0,78%, aos 54.436 pontos. O dólar fechou em queda de 0,53%, a R$ 2,245 na venda.