Economia Defesa do Consumidor

Unimed-Rio garante só rede de hospitais a cliente da Golden

Usuários de planos adquiridos pela cooperativa já enfrentam dificuldades

Dúvida. Cláudia Fernandes em frente ao Copa D’Or, onde a mãe dela está internada, não encontrou o hospital no guia
Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo
Dúvida. Cláudia Fernandes em frente ao Copa D’Or, onde a mãe dela está internada, não encontrou o hospital no guia Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

RIO — Às vésperas de serem transferidos para a Unimed-Rio, nesta terça-feira, clientes da Golden Cross estão desconfiados e inseguros quanto ao futuro do atendimento médico, laboratorial e hospitalar da nova empresa. Tanto a Unimed quanto a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) afirmam que a rede hospitalar será mantida, mas não há obrigatoriedade de manter os mesmos médicos nem a rede de exames para os 160 mil usuários de planos individuais e familiares da Golden Cross em todo o país, que passarão a ser atendidos pelo Sistema Nacional Unimed. Especialistas em direito do consumidor, no entanto, afirmam que na prática apenas o nome da empresa pode mudar. O cliente tem de continuar tendo acesso a toda a rede que era estava disponível. Médicos, laboratórios e hospitais têm de ser exatamente os mesmos, não podendo haver prejuízo a quem era da Golden Cross.

Cláudia Fernandes já recebeu o novo guia médico da Unimed, mas ficou preocupada ao não identificar na rede credenciada o hospital Copa D’Or, onde a mãe está internada, nem o laboratório Lâmina, onde ela e a família realizam exames há anos. A falta de informação precisa a respeito da transição também a assustou. Ela teme perder benefícios, mesmo pagando R$ 3,3 mil pelo plano familiar:

— Minha mãe deve receber alta em breve, mas se precisar ser internada de novo, será que poderá vir para o Copa D’Or? Nosso plano é muito antigo, paguei mais para ter direito a esse hospital. Sabemos que temos direitos, mas há dúvidas sobre como serão cumpridos. A carta que recebemos não esclarece muito. Liguei para a ANS e o atendente só me disse que tudo estava explicado na Resolução 112.

Procurada, a Rede D’Or não soube informar como atuará frente à migração de clientes. Já o superintendente de Operações da Unimed-Rio, Luiz Eduardo Perez, garantiu ao GLOBO que não haverá mudanças na rede hospitalar da Golden Cross e que o Copa D’Or já está credenciado.

Exames agendados estão garantidos

O músico Daniel Carvalho chegou de Nova York na segunda-feira passada com a visão de um dos olhos embaçado. No dia seguinte, marcou, para 1º de outubro, uma ressonância magnética de crânio no laboratório Bronstein. Na quarta-feira, no entanto, recebeu uma carta da Golden Cross, informando que ele passaria a ser um cliente Unimed-Rio.

— Como ficará o meu exame? Vou poder fazer a ressonância? O pedido foi feito no papel da Golden e não no da Unimed. Em dois telefonemas, as atendentes não responderam às dúvidas. No dia 27, voltei a ligar para a Golden, que autorizou o exame. Mas continuo intranquilo — conta Daniel.

Segundo a Unimed e a ANS, os pacientes que têm exames agendados pela Golden para depois de 30 de setembro devem se dirigir à unidade escolhida, mesmo se não for credenciada à cooperativa. Neste caso, devem levar a carteira do plano antigo, o pedido médico e o documento de identidade. Se houver problema, devem ligar para a Unimed.

A fonoaudióloga Thaïs Thedim é cliente Golden Cross desde 1988 e já fez seis sessões de fisioterapia devido ao rompimento de um tendão do ombro. Outras quatro já estão autorizadas pela Golden.

— É um tratamento longo, de 40 a 60 sessões. Toda sexta-feira, a clínica marca as sessões da semana seguinte. Na última, só consegui marcar a de segunda-feira, quando ainda valerá o contrato da Golden. E a clínica já avisou que não vai se credenciar à Unimed — conta Thaïs, acrescentando que sua ortopedista também não aceitará o novo plano.

A fonoaudióloga também se assustou ao tentar marcar um exame na rede Labs D’Or, que atende à Golden. Pelo telefone, foi informada que a partir do dia 2 a rede não atenderá mais à Unimed no Rio e em Duque de Caxias. Segundo a cooperativa, o descredenciamento foi pedido pelo laboratório por razões não relacionadas à aquisição da carteira de clientes da Golden. E os clientes da Unimed já haviam sido comunicados. A empresa destaca que, incluiu outras opções, como Lâmina e Bronstein.

Para a advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Joana Cruz, só o nome da empresa poderia mudar. Toda a rede — médicos, laboratórios e hospitais — não pode ser alterada.

— Houve uma mudança unilateral e não pode haver alterações nas condições de atendimento dos usuários. A rede assistencial tem de ser a mesma. Qualquer alteração deve ser denunciada — alerta.

Já a ANS afirma que a transferência da carteira foi condicionada à manutenção da rede hospitalar da Golden pela Unimed. No entanto, “com relação a clínicas, laboratórios e médicos, não há garantia da permanência da mesma rede credenciada”.

Segundo o site da rede de laboratórios Sérgio Franco, o plano Golden Cross é aceito em todas as unidades. Já o Unimed-Rio, apenas no município do Rio. Joana afirma que, neste caso, o cliente que era da Golden tem de continuar sendo atendido em qualquer unidade do Sérgio Franco:

— Unimed, Golden e prestadores de serviço têm de se articularem para garantir esse atendimento.

Procurado pelo GLOBO, o laboratório Sérgio Franco informou que “os associados da Golden Cross continuam sendo assistidos pela rede”. A empresa acrescentou que não recebeu qualquer comunicado oficial da operadora nem da Unimed.

A advogada Estela Tolezani, especializada em direito à saúde, também afirma que o atendimento tem de ser prestado ao ex-cliente da Golden onde era garantido antes da negociação:

— A ANS não pode garantir apenas um tópico, como a rede hospitalar. A compra da carteira inclui a manutenção do contrato e condições anteriores.

Nesse período inicial, Estela sugere que o paciente leve ao local de atendimento as duas carteirinhas — da Golden e da Unimed —, assim como a carta que explica a mudança, para esclarecer a situação com o prestador de serviço. Em caso de negativa de atendimento, o consumidor deve ser firme e, no local, solicitar contato com a Unimed-Rio. Outra opção é pagar pelo procedimento e solicitar reembolso, que, segundo Joana, deve ser em dobro por se tratar de cobrança indevida; fazer o procedimento em outro estabelecimento credenciado; ou entrar com pedido de liminar na Justiça.