Economia

Após reunião do G-20, FMI recomenda a Brasil subir juros

Fundo afirma que crescimento da economia é “desapontador”

WASHINGTON - O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou na reunião de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) semana passada, em Moscou, que o Brasil continue elevando a taxa básica de juros para domar a inflação, insistentemente acima do teto superior da meta oficial. Em um mês, foi a segunda vez que o organismo multilateral alertou para os riscos de descontrole da inflação no país. O Fundo reforçou ainda sua avaliação de que o crescimento brasileiro — estimado em 2,5% em 2013 e 3,2% em 2014 — "continua desapontador". Procurados, o Ministério da Fazenda e o Banco Central não quiseram se pronunciar.

A equipe do FMI apresenta um diagnóstico para os países que compõem o G-20 em todos os encontros do grupo e ele é elaborado a partir das avaliações de seus relatórios periódicos, como o World Economic Outlook. A reunião de Moscou ocorreu nos dias 19 e 20 de julho. O Brasil foi representado pelo ministro do Trabalho, Manoel Dias, e o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, Carlos Márcio Cozendey.

“O Brasil continua a enfrentar um desafio considerável em relação à inflação, que está acima da banda superior da meta, o que requer aperto monetário adicional”, escreveu a equipe do FMI.

Após meses sob críticas de que estava sendo leniente no combate à escalada dos preços, o Banco Central iniciou um ciclo de alta da taxa básica de juros em abril, quando subiu a Selic de 7% para 7,5% ao ano. Outras duas elevações da mesma magnitude se seguiram e hoje os juros estão em 8,5% ao ano.

O mercado espera ao menos mais duas altas, para 9,25% ao ano. Isso seria necessário para reduzir o IPCA, que chegou a 6,70% no acumulado em 12 meses.

No documento "Perspectivas globais e desafios de política pública", apresentado em Moscou, o FMI não elabora as causas da pressão inflacionária no Brasil. Mas, em junho, Thomas Helbling, um dos chefes do Departamento de Pesquisa do Fundo, disse que gargalos de infraestrutura e outros constrangimentos à capacidade de produção limitaram o crescimento que o Brasil pode ter sem criar inflação.

Na ocasião, Helbling e o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, expressaram preocupação com a variação dos preços no Brasil. Ainda mais pela escalada acontecer em meio à desaceleração global. Juros altos desestimulam ainda mais a expansão da atividade econômica.

A inflação também reduz a habilidade de o Ministério da Fazenda expandir mais a política fiscal, por exemplo com novas desonerações, o que foi essencial nos primeiros anos após a crise de 2008.

FMI ainda responderá a Mantega

Assim como no caso dos demais países emergentes, o FMI está apreensivo com o crescimento do PIB brasileiro. O time do Fundo diz que os países emergentes estão sendo afetados por exportações mais fracas e perda de fôlego nos mercados domésticos. E afirma que, tal como China e Índia, o Brasil também é afetado por problemas de oferta _ são os gargalos a que Helbling se referiu em junho.

O único destaque positivo para no caso brasileiro é a recuperação dos investimentos. O PIB brasileiro cresceu apenas 0,9% em 2012 e abriu 2013 com expansão muito auém do esperado: 0,6% entre janeiro e março, a um ritmo de 1,2% em 12 meses. O mercado prevê crescimento de apenas 2,34% este ano.

“O crescimento na América Latina recuou para 2,2% no primeiro trimestre de 2013, com o crescimento no Brasil continuando a desapontar, embora os investimentos finalmente estejam em alta”, avaliou o FMI no documento.

O FMI disse que está analisando o pedido do ministro Guido Mantega para mudar a forma de cálculo da dívida pública, informou a agência Dow Jones. Em carta enviada à diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, Mantega disse que o cálculo da instituição está distorcido porque inclui títulos do Tesouro em carteira do BC e, com isso, a dívida pública vai a 68% do PIB em vez de 59%.