Economia

Para “aumentar produtividade”, operadora Oi cancela recesso de fim de ano

"Quando se tem uma companhia que se vê com dívidas, devemos mexer com todas as ferramentas possíveis, incluindo a gestão", diz fonte

RIO – “Aumentar a produtividade é um dos assuntos primordiais na agenda da Liderança da Oi, com reflexo direto nos resultados e ganhos compartilhados por toda a companhia”. Assim começa comunicado interno divulgado pela operadora Oi, nesta sexta-feira, para informar a seus funcionários que não serão mais estabelecidas pela empresa compensações de “dias pontes” de feriados, incluindo o período entre o Natal e o Ano Novo. Ou seja, entre outras medidas, a empresa está cancelando o recesso de fim  de ano em 2013.



Para justificar a medida, a Oi – que está com endividamento elevado e necessita fazer caixa para colocar a cabo o seu amplo plano de investimento - diz no comunicado que “o momento que estamos vivendo requer foco, disciplina e determinação para consolidarmos o nosso modelo de operação e garantir um crescimento sustentável e rentável no futuro. Sabemos que é preciso fazer mais, melhor e mais depressa”.

No início do mês de outubro, a operadora brasileira anunciou um acordo para fusão com a Portugal Telecom, criando a megatelecom CorpCo, que terá sede no Rio de Janeiro. Segundo analistas, a operação deu um suspiro para os planos da empresa brasileira. A companhia há alguns meses segue em um esforço para aumentar a produtividade lançando mão de diversas estratégias. Entre elas, a contratação de mais de 5 mil técnicos para trabalhar com serviços ligados diretamente ao atendimento ao cliente em suas residências e na melhoria das instalações de infraestrutura em áreas urbanas.

Contou ainda com a implantação do projeto Click, um software que tem por objetivo aprimorar as etapas da cadeia de atendimento, com a integração e a otimização da gestão das equipes em campo. A intenção é melhorar a qualidade dos serviços prestados e evitar as dores de cabeça frequentes com os órgãos regulatórios.

- Quando se tem uma companhia que se vê com dívidas, devemos mexer com todas as ferramentas possíveis, incluindo a gestão. As palavras de ordem têm de ser dar mais para os clientes. – diz uma fonte.

Com 97.045 reclamações - até o dia 3 de outubro - a operadora Oi ganhou o topo do ranking do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça (MJ), que reúne queixas a 249 Procons do país.

Endividamento alto

Apesar da recente fusão com a Portugal Telecom e da perspectiva de injeção de capital em suas operações da ordem de, pelo menos, R$ 7 bilhões, o futuro da empresa ainda gera especulações. Entre a política de dividendos, o investimento previsto e o balanço, a corda segue bamba. Em agosto, a empresa cancelou o pagamento de R$ 1 bilhão em dividendos já que a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa ficou acima do triplo em junho.

Só a Oi está pressionada por uma dívida líquida de quase R$ 30 bilhões, além disso, corre contra o tempo para acelerar investimentos no país. A tele já passou o direito de uso de mais de 6 mil torres pelo país este ano e vendeu sua rede de cabos submarinos. Com a venda de ativos, arrecadou R$ 1 bilhão, e devem entrar outros R$ 2,5 bilhões no caixa.

- A companhia está fazendo um esforço de produtividade por todos os lados para que todos os trabalhadores e colaboradores estejam conectados para ajudar os clientes e a empresa a solucionar as questões mais urgentes da companhia – diz a fonte. - Realocando recursos financeiros, ou mesmo talentos, você consegue naturalmente angariar mais clientes, atender melhor e evitar multas na Anatel e reclamações no Procon, gerando assim mais receitas – reitera.

Apesar de a política de venda de ativos para fazer caixa, a necessidade de investimentos é urgente em áreas como a rede de cobre – apontada como fraca por deixá-la altamente exposta à tendência de deterioração das receitas no negócio de voz – e no campo de internet de banda larga, que segue ainda em uma escala pequena.

Além disso, as receitas seguem em queda. No último balanço divulgado, o grupo  informou que sofreu prejuízo líquido de R$ 124 milhões no segundo trimestre, resultado mais fraco que o esperado pelo mercado, pressionado pelo aumento de despesas financeiras após a desvalorização do real e, mais uma vez, o endividamento maior da empresa.

A fusão com os portugueses tem ainda um nó que envolve uma reestruturação societária que, de acordo com analistas, deve pulverizar o controle da empresa. Em outras palavras, significa que a tele não terá dono específico e nenhum contará com mais de 10% de participação. Porém, para que a reestruturação ocorra, os investidores terão que fazer uma capitalização que envolve um montante de até R$ 8 bilhões. Se tudo correr como planejado, a CorpCo tende a reduzir o seu endividamento para R$ 41,2 bilhões. Vale um adendo: na prática, a megatele  estará nas mãos do moçambicano Zeinal Bava, ex-presidente da PT e no comando da Oi desde o último mês de julho.