Economia

Gasto dos brasileiros no exterior bate recorde para setembro

A participação do cartão de crédito nas despesas de brasileiros no exterior caiu para 49,7% neste ano, contra 53% em 2012

BRASÍLIA - A recente queda do dólar fez os gastos dos brasileiros no exterior explodirem. No mês passado, o turista deixou US$ 2,2 bilhões lá fora: 27% a mais que em setembro de 2012 e a maior já visto nesse mês. O cartão de crédito não é mais a principal forma de fazer os pagamentos. Os viajante passaram a comprar mais dinheiro vivo e cartões pré-pagos para driblar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%.

De acordo com os dados do Banco Central, divulgados nesta sexta-feira, a participação do cartão de crédito nas despesas de brasileiros no exterior caiu para 49,7% nos nove primeiros meses deste ano. Esse percentual era de 53% no ano passado.

Não foi apenas a alíquota do tributo que fez a publicitária Alessandra Matschinski comprar praticamente todo o dinheiro que precisou na sua última viagem à Europa no mês passado com o marido e amigos. A decisão de adquirir mais papel moeda do que faz normalmente em suas idas ao exterior foi tomada, principalmente, por causa da volatilidade do câmbio vista nos últimos meses.

- Eu evitei usar o cartão por causa do risco de pagar uma fatura muito mais alta se o câmbio mudasse.

Os gastos recordes no exterior contrariam as perspectivas do governo. A expectativa da autoridade monetária era que essas despesas desacelerassem por causa da alta do dólar nos últimos meses. No entanto, por causa da renda maior e de pacotes de viagem comprados com antecedência, esses débitos quebraram novo recorde.

- Não se esperava uma queda dos gastos, mas uma moderação e isso não está acontecendo e o brasileiro continuou viajando - lembrou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel. - O mundo em crise ainda oferece muita oportunidade de descontos para os brasileiros.

Foi justamente para frear os gastos recordes dos turistas lá fora que a alíquota de IOF foi instituída em 2008, quando o gasto com cartão de crédito representava 65% das despesas no exterior . O governo já estava preocupado com o peso dessas despesas nas contas externas. Mesmo assim, de lá para cá, o rombo só piorou.

Segundo o BC, o Brasil registrou um déficit de US$ 2,6 bilhões em transações correntes no mês passado, ou seja, no resultado geral de todas as trocas de serviços e bens com o exterior. O número ficou praticamente estável em relação a setembro de 2012. No entanto, no acumulado do ano, o déficit das contas externas é de US$ 60,4 bilhões: 77% maios que no mesmo período do ano passado.

Em setembro, o investimento estrangeiro direto – o melhor tipo de recurso que o país recebe porque aumenta a capacidade produtiva de fábricas daqui – conseguiu cobrir o rombo nas contas externas. Ingressaram US$ 4,8 bilhões em investimentos. Já no ano, entretanto, o investimento fica aquém do déficit. De janeiro até o mês passado, entraram US$ 43,8 bilhões.

O Brasil também recebeu no mês passado mais lucros e dividendos do que remeteu ao exterior. Essa conta ficou no azul pela primeira vez nos últimos 13 anos. Foram US$ 274 milhões a mais do que as remessas. Como o Real valorizou-se em setembro, os empresários sentiram que era a hora para trazer os recursos.

- O ‘timing’ é muito influenciado pelo câmbio - lembrou Maciel, que disse que isso foi um movimento pontual e não deve continuar.

A enxurrada de recursos que o país recebeu para aplicações em renda fixa nos últimos meses também não deve se manter. Desde que o governo resolveu eliminar o IOF para esse tipo de entrada, em junho, os estrangeiros colocaram US$ 23 bilhões nesse tipo de papel. No entanto, nos 23 primeiros dias de outubro, o ingresso foi de US$ 888 milhões apenas. Para Maciel, isso mostra que havia dinheiro represado fora do país que seria direcionado para renda fixa, mas esse volume pode ter acabado.

O chefe do departamento econômico do BC também antecipou os dados do fluxo cambial. Segundo ele, houve uma saída de US$ 5,8 bilhões do país nos 23 primeiros dias de outubro e esse déficit deve aumentar ainda até o fim do mês. Com isso, o Brasil teria o pior rombo mensal do ano. Foram as retiradas de aplicações do mercado financeiro a principal causa, pois representaram uma saída de US$ 3,9 bilhões, já descontado tudo o que entrou no país neste mês.