Economia

Com cenário externo favorável e ação do BC, dólar cai 1,03%

Alíquota compulsória de 60% sobre posição vendida de câmbio dos bancos foi zerada pelo Banco Central

SÃO PAULO - Um dia depois de o Banco Central eliminar o compulsório sobre a posição vendida de câmbio dos bancos, o dólar comercial se desvalorizou frente ao real. A divisa americana fechou a sessão com queda de 1,03%, sendo negociada a R$ 2,187 na compra e R$ 2,189 na venda. Desde o último dia 18 de junho, o dólar não fechava abaixo de R$ 2,20. Foi o quarto dia consecutivo de baixa da divisa frente ao real. Na máxima do dia, o dólar bateu em R$ 2,21 e na mínima chegou a R$ 2,186. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), acompanhou o movimento dos pregões americanos e europeus e subiu. O índice se valorizou 0,59% aos 47.171 pontos e volume negociado de R$ 6,8 bilhões. A Bolsa subiu puxada pelos papéis do Grupo EBX.

Na Bovespa, entre as ações mais negociadas, Vale PNA caiu 2,72% a R$ 26,76. Segundo analistas, um aumento de 0,7% nos estoques de minério de ferro na China pesa sobre a Vale. O motivo é uma tendência de redução do consumo, com expectativa menor de crescimento do país.. Na segunda-feira, as ações da Vale perderam 5% com temores de que a China tenha uma escassez de crédito. O BC chinês garantiu que vai atuar para manter todas as linhas de crédito em funcionamento e já teria inclusive ajudado alguns bancos.

Já os papéis PN da Petrobras subiram 0,93% a R$ 16,24; Itaú Unibanco avançou 0,50% a R$ 27,90 e Bradesco PN teve alta de 0,92% a R$ 28,28.

A maior alta do pregão foi dos papéis da LLX Log, do Grupo EBX, com alta de 25% a R$ 1,25. A expectativa de venda de ativos da empresa anima os investidores e influencia positivamente os demais papéis das empresas de Eike Batista. As ações ON da OGX Petróleo se valorizam 12,05% a R$ 0,93 e os papéis ON da OSX, de construção naval, ganharam 16,17% a R$ 1,59.

A maior queda foi dos papéis PNA Cia. Suzano de Papel e Celulose, com perda de 4,27% a R$ 7,85.

As ações de empresas concessionárias de serviços públicos voltaram a apresentar valorização. Os papéis PNB da Copel subiram 0,29% a R$ 27,55; as ações ON da CCR avançam 2,20% a R$ 17,23; as ações ON da EcoRodovias avançaram 2,03% a R$ 15,06. Segundo analistas, a garantia do governador Geraldo Alckmin de que CCR e EcoRodovias, que têm concessões de estradas em São Paulo, não serão penalizadas em seu caixa com a suspensão do aumento do pedágio continuam dando suporte à alta dos papéis. Entre as compensações, segundo Alckmin, o percentual que as empresas repassam à Agência de Transporte de São Paulo (Artesp), a agência estadual que regula as concessões, a título de custeio cairá de 3% para 1,5%. Já em relação à Copel, Companhia de Energia do Paraná, o reajuste de 14% no preço das tarifas de energia foi suspenso, por enquanto, mas poderá ser parcelado. A Sabesp recuou porque se processo de revisão tarifária está atrasado.

Câmbio: medida não deve valorizar real, diz especialistas

Antes da mudança anunciada pelo Banco Central, na noite de terça-feira, os bancos tinham que deixar 60% da posição vendida de câmbio, que superasse os US$ 3 bilhões, nos cofres do Banco Central. Esses recursos não eram remunerados. As posições vendidas de câmbio são as apostas que os bancos fazem no mercado futuro na queda do valor da moeda americana. Ao zerar a alíquota, na prática, o BC tira as amarras para que as instituições voltem a vender dólares, irrigando o mercado de câmbio. O objetivo é fazer a cotação da moeda americana cair frente ao real, limitando os efeitos inflacionários da alta do dólar.

O compulsório de 60% foi estabelecido em janeiro de 2011, como forma de evitar uma valorização do real. Na época, os bancos estavam vendidos em cerca de US$ 17 bilhões. Hoje os bancos estão com posição comprada em US$ 4,5 bilhões, apostando na alta da moeda americana.

Para o consultor de pesquisas econômicas do Banco Tokyo-Mitsubishi, Mauricio Nakahodo, a moeda americana recuou por outros fatores nesta quarta e não pela medida anunciada pelo Banco Central.

- Com clima mais calmo no exterior, o dólar se desvalorizou frente a moeda de outros países emergentes. A notícia de que o PIB americano cresceu menos do que o esperado no primeiro trimestre, embora seja negativa, animou os investidores no sentido de que o banco central americano pode demorar mais para reduzir o programa de estímulo à economia dos EUA. E a informação do BC de que o fluxo de saída de dólares do país se reduziu, também ajudou - diz Nakahodo.

Dados do Banco Central mostraram que a saída de dólares do país arrefeceu nos últimos dias. Segundo o BC, até o dia 21, o fluxo de moeda americana está negativo em US$ 553 milhões. Até dia 19 a saída era de US$ 697 milhões, já descontados os ingressos.

Para ele, o fim do compulsório na posição vendida de câmbio dos bancos tem efeito limitado para valorizar o real frente ao dólar no curto prazo.

- Neste momento, os bancos não têm posição vendida e acredito que num contexto de alta do dólar em todo o mundo eles não terão interesse em assumir essas posição - afirma Nakahodo.

Sidnei Nehme, sócio da corretora NGO, também concorda que a nova medida anunciada pelo BC não terá o efeito desejado de apreciar o real. Isso porque o contexto mudou.

"Hoje, as perspectivas de fluxo intenso de dólares para o país para cobrir futuramente as posições vendidas não existem mais, o que dificulta a atuação dos bancos no sentido de apreciar o real. E ficar exposto na posição vendida em tempos de 'ressaca' é temeroso", avalia Nehme em relatório divulgado a clientes.

O dólar apresenta um movimento global de valorização com a recuperação dos EUA e a sinalização do banco central americano, o Fed, de que o programa de estímulo que injeta todo mês US$ 85 bilhões na economia americana será reduzido este ano e possivelmente encerrado em 2014. Com isso, há um movimento de saída de investidores de posições em renda fixa e de ações nos principais países emergentes, inclusive o Brasil. Os investidores fazem caixa para aplicar nos títulos do Tesouro americano, já que a expectativa é que os juros nos EUA subam em breve.

Na contramão dessa expectativa, o Departamento de Comércio americano informou nesta quarta que o Produto Interno Bruto (PIB) se expandiu 1,8% a uma taxa anualizada no primeiro trimestre deste ano, contra um avanço de 2,4% informado antes. Alguns economistas esperavam que a revisão a confirmasse o crescimento de 2,4% no período.

- Está acontecendo uma coisa curiosa. Embora a revisão do PIB americano tenha indicado que a economia cresceu menos no primeiro trimestre, as bolsas subiram já que a percepção do mercado é que o Fed leve mais tempo para retirar os estímulos à economia - avalia o analista João Pedro Brugger, da Leme Investimentos.

Desde o início do mês, o BC e o governo vem anunciando uma série de medidas para reverter a saída de dólares do país. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa foi revogado. Depois, o governo zerou o IOF de 1% sobre aplicações de posições vendidas de câmbio no mercado futuro. Além disso, o Banco Central fez, desde 31 de maio, doze leilões de contratos de swap cambial tradicional, uma operação que equivale à venda de moeda americana no mercado futuro. Foram despejados mais de US$ 23 bilhões no mercado, mas a tendência do dólar segue sendo de alta.

O recuo do dólar nesta quarta fez as taxas dos contratos de juros futuros mais longos caírem. O contrato com vencimento em janeiro de 2015 tem taxa de 9,90% frente aos 9,94% de ontem. O Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2017 apresenta taxa de 10,86% frente aos 10,92% de ontem e o papel com vencimento em janeiro de 2014 está estável em 8,93%.

No exterior, os principais índices americanos fecharam em alta. O S&P 500 subiu 0,96%; o Dow Jones ganhou 1,02% e o Nasdaq teve alta de 0,85%. Na Europa, os principais pregões fecharam em alta. O índice Ibex, da Bolsa de Madri, subiu 2,83%; o Dax, da Bolsa de Frankfurt, ganhou 1,66%; o Cac, de Paris, se valorizou 2,09% e o FTSE, de Londres, subiu 1,04%.