RIO - Às 16h em ponto, Xavier Filho, Luiz Vinhaes e Mario Jorge Rocha se reuniram em frente aos terminais de operação da corretora Elite, no Centro do Rio, com um único objetivo: diminuir o prejuízo com as ações da petroleira OGX, em seu leilão de despedida do dream team da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, índice que reúne 73 papéis de 67 grandes empresas. Entre olhares atentos aos terminais, piadas com a desvalorização do papel - que no auge chegou a R$ 23,27, em 2010, e hoje mal compra uma bala Juquinha - e sinais de otimismo quanto ao futuro da petrolífera, que entrou com o maior pedido de recuperação judicial da história da América Latina:
- Em novembro, ele vai tirar petróleo - dizia Rocha, esperançoso, ao justificar o motivo de ainda manter 3% a 4% de sua carteira de ações na OGX, que até quinta-feira ocupava o sexto lugar no ranking de maiores participações do Ibovespa, atrás de gigantes como Petrobras, Itaú e Vale, entre outras.
Em meio a queixas contra Eike Batista, as corretoras, os relatórios dos bancos que recomendavam os papéis, a Comissão de Valores Mobiliários e o governo, Vinhaes fez graça do infortúnio:
- Piada pronta: quantas ações do Eike compram uma vassoura? - perguntou aos corretores, após receber a ligação de um amigo da Comlurb.
O adeus foi melancólico e o papel fechou cotado a R$ 0,13, com queda de 23,53%. Em mais um teste à resistência dos investidores que aplicaram recursos na empresa símbolo do sonho de Eike Batista, a ação chegou a despencar mais de 30% na mínima do dia e alcançou R$ 0,11. Xavier, Vinhaes e Rocha eram minoria. Segundo Luís Gustavo Pereira, estrategista da corretora Futura, a maior parte das ordens de venda partiram de fundos de investimento que seguem o Ibovespa e que tentavam adequar suas carteiras. A Bovespa encerrou os negócios com leve alta de 0,15%, aos 54.256 pontos e volume negociado de R$ 7,9 bilhões.
Na corretora Icap, o nome OGX mal era ouvido entre os gritos de compra e venda. Hora ou outra um operador repetia, espantado, a cotação do papel, ressaltando que ele virou pó, no jargão do mercado, comparado ao preço da ação em seu apogeu.
Para Xavier, no entanto, que começou a comprar ações da OGX quando estavam cotadas a R$ 1,60, restou pouco motivo de consolo. Ele havia aplicado as economias da filha, que pretendia comprar um carro, em ações da OGX.
- Filha não perde dinheiro. Quem perde é o pai. Dei meu carro para ela - diz.
A derrocada do papel nos últimos meses converteu muitos pequenos investidores em assíduos especuladores, atentos a oscilações de preço na faixa dos centavos. Era o caso de Xaviar, que só planejava ir às compras caso a ação recuasse para R$ 0,09. Acabou mantendo o dinheiro no bolso.
- Para os grandes fundos que investiram na empresa, e estão acostumados a girar trilhões de reais, uma perda como a da OGX é pequena. Mas para o acionista minoritário, que esperava trocar o apartamento ou simplesmente ter uma aposentadoria mais confortável, essa perda dói muito - resume Maurício Pedrosa, sócio da Queluz Asset Management.
Ironicamente, outra empresa de Eike Batista esteve em destaque no pregão de quinta-feira. A MMX, de mineração, que recentemente vendeu o controle de seu principal ativo, Porto do Sudeste, registrou alta de 38,33%, a R$ 0,83. Até o fim do dia, ninguém sabia exatamente qual era o motor do otimismo em relação aos papéis. Um operador disse que circulavam no mercado informações de que a empresa teria novidades em seu processo de reestruturação. Foi o suficiente para que Xavier e Rocha se animassem quanto ao futuro da OGX, ávidos por um efeito contágio positivo:
- Tenho opções de venda de ações que vencem em junho do ano que vem. Quem sabe ela não chega a R$ 2 até lá? - indagou Xavier.
Mesmo fora do Ibovespa, a OGX continuará a ser negociada nesta sexta-feira. Para quem investiu, é motivo de alento:
- Já houve caso de ações que subiram após a aprovação judicial ser aprovada - acrescentou Rocha.