27/06/2013 20h19 - Atualizado em 27/06/2013 21h55

Manifestantes protestam em Salvador e celebram possível audiência pública

Manifestantes saíram do bairro do Campo Grande até prefeitura da capital.
Eles levaram pauta à prefeitura, mas optaram por não se reunir com gestor.

Do G1 BA

Protesto_Salvador_27 de junho (Foto: Egi Santana/G1 Bahia)Ruas foram estampadas com muitos cartazes que pediram um país melhor (Foto: Egi Santana/G1 Bahia)

Manifestantes participaram de uma caminhada pacífica, organizada pelo Movimento Passe Livre Salvador, do Campo Grande ao Centro Histórico, na tarde desta quinta-feira (27). (No vídeo ao lado, veja um resumo com imagens do protesto).

Debaixo de chuvas, o grupo, formado por estudantes, adultos, idosos e crianças, reivindicou melhorias no transporte público, na saúde e na educação, em uma passeata até a Prefeitura de Salvador. Cerca de 1.500 participaram desta que foi a quarta manifestação na cidade, de acordo com a estimativa da Polícia Militar, mas a impressão é de que mais de três mil pessoas estiveram presentes.

Ao lado dos manifestantes, policiais militares acompanhavam o movimento pacífico. Na Praça da Piedade, a polícia conversou com um dos manifestantes e pediu que o grupo encerrasse caminhada na Praça Castro Alves. De lá, uma comissão seguiria até a prefeitura e se reuniria com o prefeito ACM Neto.

Os manifestantes afirmaram, no entanto, que não tinham lideranças e que queriam entregar, juntos, a carta de reivindicações ao prefeito. Na Praça Castro Alves, mais barreira policial. O grupo reiterava à PM o desejo de seguir até a prefeitura. A PM, então, mudou de posição e liberou a caminhada de todos os manifestantes até a Praça Municipal, onde fica a sede municipal.

“Eu vou fazer o possível para atender o pleito de vocês. Agora, caso haja liberação da via, preciso que, se detectarem alguém exaltado, que segurem essa pessoa. Estamos em uma área do Centro Histórico. Nós pensamos em subir uma comissão, porque seria mais fácil de controlar. Só pedimos 10 minutos de vocês para que a gente converse com as autoridades”, disse um tenente-coronel na ocasião.

Protesto_Salvador_27 de junho (Foto: Egi Santana/G1 Bahia)Manifestantes parados na Praça Castro Alves antes de seguirem em frente (Foto: Egi Santana/G1 Bahia)

O protesto foi iniciado por volta das 14h50, em frente ao Teatro Castro Alves, no bairro do Campo Grande. O trânsito foi alterado no centro. Ao chegaram à Avenida Sete de Setembro, os manifestantes não encontraram lojas abertas. Comerciantes fecharam as portas. Alguns usaram tapumes para proteger os estabelecimentos.

Reivindicações
Em frente à prefeitura, o movimento pediu que o prefeito ACM Neto recebesse do grupo as pautas do protesto. Representantes da prefeitura foram até os manifestantes e pediram, mais uma vez, que fosse formada uma comissão para se reunir com o prefeito. Os manifestantes reafirmaram o desejo de que ACM Neto fosse à rua falar com eles.

José Carlos Aleluia, secretário municipal de Urbanismo e Transporte, saiu da área interna da prefeitura e tentou conversar com os manifestantes. “Eu vim para cá tentar conversar com eles. Pedi para que uma comissão vá falar com o prefeito. O prefeito não pode ouvir mil pessoas de uma vez”, disse o secretário. Aleluia alegou que, em meio aos manifestantes, tinham pessoas ligadas a partidos. “O movimento está dividido. Existem pessoas de partido político infiltradas aí dentro. Nós vamos realizar audiência pública para ouvir todo mundo”, argumentou. Sobre a lista de propostas do Movimento Passe Livre, Aleluia disse que existem coisas possíveis de serem atendidas e coisas que não inviáveis, como a estatização do transporte coletivo: "É ideológico, é uma loucura", justificou.

Em meio ao impasse, o prefeito convocou a imprensa para uma coletiva dentro da prefeitura. "Eu me coloquei à disposição para receber os manifestantes, mas da parte deles não houve condições de selecionar um grupo", disse ACM Neto. "A sede da prefeitura é o ambiente adequado para discutir as questões do município. Abri as portas para receber os manifestantes. Não houve, na parte deles, um consenso para selecionar um grupo para ser recebido pelo prefeito. Nessa linha de frente que estava encostada na prefeitura, tinham mais lideranças partidárias do que os manifestantes que atuam legitimamente. Debate partidário não", ratificou o gestor, na mesma linha do comentário do secretário.

 Segundo o prefeito, já há ações para melhorar o sistema de transporte público em Salvador. "A medida imediata [para os ônibus] é a apresentação, por parte de todas as empresas, da planilha de custos, de maneira transparente. É uma providência que colabora com atitude correta, transparente".

ACM Neto afirmou ainda que a redução na tarifa de ônibus só sera possível com isenções do Governo Federal. "Qualquer redução na tarifa só seria possível com isenções do Governo Federal. Com recursos próprios, a prefeitura não tem dinheiro para reduzir. Não vou tirar dinheiro da saúde, da educação", comentou. O gestor acrescentou que a tarifa do ônibus é a mesma, R$ 2,80, desde o ano passado. "A tarifa de Salvador não aumentou, está congelada desde 2012. E ainda demos o benefício da meia-passagem aos domingos para a população", apontou.

Do lado de fora da prefeitura, um manifestante utilizou um carro de som para afirmar que o movimento tinha atingido seus objetivos, já que uma audiência pública foi marcada na Câmara Municipal para 3 de julho. Em seguida, parte dos manifestantes seguiu para a Estação da Lapa, onde o protesto continuou.

A manifestação na Estação da Lapa foi pacífica, na maior parte do tempo. Cerca de 400 pessoas do movimento foram ao local. Eles fizeram com que muitos passageiros entrassem nosn ônibus pela porta da frente sem pagar a tarifa, em uma ação que chamam de "passe livre".

Um grupo pequeno, que, segundo a polícia, não fez parte do movimento, lançou pedras e rojões contra os políciais militares, que se fizeram barreira na entrada do terminal rodoviário. A PM lançou bombas de gás para tentar dispersar o grupo. Containers com lixos também foram queimados. No entorno do terminal, dois ônibus foram depredados.

Protesto_Salvador_27 de junho (Foto: Danutta Rodrigues/G1 BA)Manifestantes se reuniram na Estação da Lapa e fizeram a ação 'passe livre' (Foto: Danutta Rodrigues/G1 BA)

Reivindicações
Integrantes do Movimento Passe Livre Salvador divulgaram, na quarta-feira (26) a carta com todas as reivindicações. No documento, lido pelos integrantes no Passeio Público, no bairro do Campo Grande, eles afirmaram que são apartidários e defenderam um transporte público gratuito e de qualidade.

Entre as principais reivindicações do movimento, estão a redução imediata da tarifa de ônibus, ampliação da frota de veículos, ativação e ampliação do metrô de Salvador, extinção da tarifa para os trens do subúrbio, além da construção de novas estações.

Confira a lista completa de reivindicações do Movimento Passe Livre Salvador:

1. Passe livre nos ônibus para todos os estudantes, inclusive estudantes de curso pré-vestibular;

2. Ampliação e renovação da frota, com a introdução de veículos de piso baixo, visando garantir a maior acessibilidade a pessoas com dificuldades ou necessidades especiais;

3. Ônibus 24 (vinte e quatro) horas em atividade;

4. Criação do Bilhete Único, benefício tarifário permitindo a realização de 04 (quatro) viagens dentro do prazo de 03 (três) horas, como já existe em São Paulo e outras capitais brasileiras;

5. Ampliação do programa “Domingo é Meia” para os feriados e inclusão dos usuários do Salvador Card no programa, eliminando-se a restrição do pagamento em dinheiro;

6. Extinção do pagamento de taxa para recadastramento no Salvador Card;

7. Construção de novas estações de ônibus e imediata reforma e integração de todas as estações já existentes, com garantia de acessibilidade a pessoas com dificuldades ou necessidades especiais;

8. Construção de mais faixas exclusivas para ônibus;

9. Abertura da caixa preta da SETPS, com a revisão dos custos e contratos pelos órgãos competentes, promovendo com transparência o debate público sobre as regras dos contratos de concessão e sobre o cálculo do preço da tarifa;

10. Ativação e ampliação do metrô, com estabelecimento de calendário para o cumprimentos destas solicitações;

11. Investigação, pelo Ministério Público, dos gastos com a construção do metrô, iniciada há 13 anos;

12. Integração dos transportes rodoviário, ferroviário e aquaviário;

13. Execução do projeto “Cidade Bicicleta” – que prometeu ampliar a malha cicloviária da região metropolitana para 217 Km;

Manifestantes apresentam carta de reivindicações à imprensa (Foto: Ruan Melo/G1 Bahia)Manifestantes se reuniram nesta quinta-feira
(Foto: Ruan Melo/G1 Bahia)

14. Extinção da tarifa para os trens do subúrbio de Salvador, garantindo passe livre a todos os seus usuários;

15. Ampliação e reforma das calçadas, com garantia de acessibilidade a pessoas com dificuldades ou necessidades especiais;

16. Melhorias no sistema de transporte intermunicipal aquaviário do estado da Bahia, além da instituição do pagamento de meia passagem por estudantes;

17. Retomada do caráter deliberativo do Conselho da Cidade;

18. Reativação do Conselho Municipal de Transporte;

19. Integração da Região Metropolitana;

20. Estatização dos sistemas de transporte público;

21. Por fim, solicitamos a alteração do nome do Aeroporto Internacional de Salvador, hoje “Deputado Luís Eduardo Magalhães”, para o seu antigo nome: “2 de julho”, data magna dos baianos.

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