Economia Lei Seca

Deságio baixo e apetite de estatais marcam leilão de transmissão

Dos dez lotes licitados, seis foram arrematados por empresas públicas

SÃO PAULO - Deságios baixos e a predominância de estatais nos lotes arrematados foram a marca do terceiro leilão de linhas de transmissão deste ano, realizado nesta quinta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as estatais do setor elétrico arremataram seis dos dez lotes licitados. Ao todo, 13 lotes, compostos de linhas e subestações, foram ofertados, mas três não tiveram lances. Apesar disso, o diretor da Aneel Edvaldo Santana comemorou o resultado e também os deságios obtidos, que na média, foram de 7,15% - muito inferiores à média histórica dos leilões de transmissão no país, de 26,02%.

- É verdade que o deságio está muito abaixo da média, mas essa é uma tendência natural que nós vamos ver daqui em diante - afirmou Santana, observando que as novas linhas de transmissão são mais difíceis de serem erguidas, o que aumenta o risco e eleva o custo dos investimentos.

Somados, os dez lotes arrematados nesta quinta exigirão investimentos de cerca de R$ 3,6 bilhões, segundo a Aneel. Os dois maiores descontos foram oferecidos pela Eletrosul nos lotes K (trechos de linhas no Mato Grosso do Sul), e no I (no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina). Em ambos, a subsidiária da Eletrobras venceu os concorrentes oferecendo deságio de 29,99%.

Já o lote A, formado por um conjunto de projetos que ficara encalhado nos leilões anteriores, foi arrematado pela estatal paranaense de energia Copel em conjunto com Furnas, sem qualquer deságio em relação à Receita Anual Máxima (RAP) permitida, fixada em R$ 174,4 milhões pela Aneel. As linhas do lote A serão instaladas em São Paulo e no Paraná, e distribuirão a energia gerada pelas usinas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira.

- Estávamos aflitos com esse lote. O mais importante no leilão é ter interessados. É melhor o lote sair sem deságio do que não sair - comentou Santana.

Entre as alterações que a Aneel promoveu no edital para recolocar o bloco A no leilão, a que mais pesou na decisão de Furnas entrar na disputa foi o aumento do prazo de implementação do projeto, de 36 para 48 meses. Olga Simões, diretora de Novos Negócios e Participações de Furnas, explicou que o fato de a linha passar por áreas habitadas em São Paulo e no Paraná tornará necessário realizar desocupações, que levam tempo, e o prazo maior era essencial.

- Com 12 meses a mais, temos uma segurança maior de que vamos entregar o projeto - disse a executiva.

Baixo interesse estrangeiro

Sobre os três trechos de transmissão que não tiveram ofertantes, Santana, da Aneel, disse que a agência fará “ajustes” para relicitar os lotes no ano que vem. Melhorar a receita aos investidores e os prazos para desenvolvimento do projeto são algumas das possíveis alterações, admitiu ele.

Havia também entre os analistas a expectativa de forte participação de investidores chineses no pregão desta quinta-feira, uma vez que a China concentra os principais produtores de componentes para a indústria de transmissão de energia. Dos 13 blocos ofertados, contudo, os chineses disputaram apenas dois e arremataram só o bloco P, com desconto de 28%. Esse lote inclui linhas e uma subestação em São Paulo e outra no Mato Grosso do Sul.

Perguntado sobre o motivo do baixo interesse dos estrangeiros na disputa, Santana esquivou-se e disse que 70% do setor de transmissão do Brasil são estatais, então é natural que a presença mais forte seja das empresas públicas.

- Não acho que isso signifique falta de apetite das empresas privadas, mas é certo que não há mais o interesse que havia nos leilões que fizemos nos anos 2000 - admitiu o diretor da Aneel.

Os espanhóis da Abengoa também arremataram um dos lotes, o B, com deságio de 10,10%. A linha de transmissão deste bloco terá 367 quilômetros, entre Minas Gerais e São Paulo.

O lote J, que cobriria a região leste de Minas Gerais, terminou sem interessados. O mesmo aconteceu com o lote H (uma subestação localizada no Pará, a SE Jurupari), e o lote Q, em São Paulo (composto pela subestação Domenico Rangoni, no litoral paulista).

O BR Transmissões, formado pela Braxenergy e LT Bandeirante, foi único consórcio privado nacional vitorioso. Levou os lotes E e G, ambos no Norte do país, com deságios de 20,06% e 10,50%, respectivamente. Essas duas empresas, porém, são pouco conhecidas, admitiu a Aneel.