Economia

Saída de secretário responsável por política de preços da Argentina anima investidores

Renúncia de Guillermo Moreno era, na opinião de analistas locais, uma notícia esperada há muito tempo por empresários e investidores

BUENOS AIRES - A saída do ex-secretário de Comércio Interior do governo argentino, Guillermo Moreno, teve um imediato efeito positivo no mercado local que, na véspera, reagira negativamente à mudança de gabinete anunciada pela Casa Rosada. A designação de Axel Kicillof como novo ministro da Economia não fora bem recebida na Bolsa de Valores de Buenos Aires, que na última terça-feira caiu 6,6%. No mesmo dia, o dólar oficial subiu 0,4 centavos, fechando em 6,05 pesos. Já nesta quarta, a Bolsa registrou alta de 4% nas primeiras horas de operação e o dólar oficial se manteve estável. O paralelo, que nos últimos dias voltou a superar os 10 pesos, recuou para 9,85.

A renúncia de Moreno era, na opinião de analistas locais, uma notícia esperada há muito tempo por empresários e investidores. O funcionário é considerado, para muitos, o principal responsável pela fracassada política de controle da inflação (que este ano deverá rondar 25%); a aplicação de barreiras às importações que provocam conflitos com os demais países da região e deixam muitas empresas sem insumos necessários para produzir e até mesmo hospitais sem medicamentos; a fuga de reservas do Banco Central, que este ano já superou os US$ 9 bilhões e a crise em que estão mergulhados os produtores rurais do país, entre outros dramas econômicos que enfrenta a economia argentina.

Na última terça-feira, após a confirmação de que Moreno tinha apresentado sua renúncia, as redes sociais foram invadidas de comentários negativos sobre o ex-funcionário. Alguns internautas contaram supostas declarações de Moreno, que tinha um perfil violento cada vez mais difícil de dissimular. Um usuário do Twitter afirmou, por exemplo, que o ex-secretário chegou a dizer a um produtor rural que “você está à beira da falência porque é um idiota e não pelas políticas do governo”. As ameaças de Moreno a empresários de todos os setores se tornaram comuns em conversas informais entre homens de negócios.

Moreno também é acusado de ter destruído o Indec (o IBGE local), instituto que nos últimos anos, desde sua intervenção estatal, em 2007, enfrenta denúncias de manipulação das estatísticas oficiais do país. Nos últimos anos, o ex-secretário tornou famosa a frase “Clarín mente”, usada por ele para desmentir informações, por exemplo sobre a taxa de inflação publicadas pelo jornal mais lido da Argentina. No dia de sua renúncia e uma vez confirmado que Cristina o havia nomeado adido econômico na Itália, o cartunista do jornal “La Nación”, Nik, ironizou: “Em breve aparecerão camisetas com a legenda 'O Papa Francisco mente'”.

O fim da era Moreno melhorou o clima no mercado, que não havia se entusiasmado muito com a designação de Kicillof, por seu perfil intervencionista e, também, pela permanência de Moreno. Continua a expectativa pelas medidas que serão anunciadas pelo novo ministro, mas, sem Moreno, surgiu um leve otimismo. Kicillof será empossado nesta quarta, na Casa Rosada, em cerimônia que contaria com a presença da presidente. Cristina retornaria, assim, à Casa Rosada após mais de 40 dias de ausência por licença médica.

_ Com Kicillof é possível dialogar, independentemente do que pense cada um _ comentou o presidente do Banco Macro, Jorge Brito.

O deputado e líder da Frente Renovadora, Sergio Massa, ex-chefe de gabinete de Cristina e hoje um dos principais dirigentes da oposição, assegurou que a renúncia de Moreno demonstra que o governo Kirchner começou a atuar em função da derrota eleitoral nas Legislativas de outubro passado.

O futuro do ex-secretário está se complicando. Deputados da oposição confirmaram que nos próximos dias reforçaram denúncias contra Moreno por suposto “abuso de poder”.

_ Moreno está processado, sua saída do país não deve ser permitida _ declarou a deputada Graciela Ocaña.